‘De volta para o futuro’ às avessas, “O abrigo” traz um conto de destino versus livre arbítrio

O Abrigo (The Bunker) de Joshua Hale Fialkov e Joe Infurnari estreou no mundo digital e passou para o papel pela Oni Press. Os cinco primeiros capítulos ganharam um volume em edição impressa e a Devir trouxe para nós a mesma versão compilada com cores adicionadas, com o mesmo cuidado e capricho de outros títulos que publica. Este primeiro volume reúne os primeiros quatro números da série, além das artes das capas originais e outros extras. Embora o enredo de O Abrigo dependa do tema viagem no tempo, sua mecânica e cenário geral pertencem ao gênero juvenil de horror sobre  apocalipse/fim do mundo.

A narrativa trata então de um grupo de amigos, próximos de se formar, decidindo enterrar uma cápsula do tempo, com cartas escritas por eles para serem abertas no futuro. Estavam para iniciar um novo começo de vida, iriam se formar aquilo seria uma forma de marcar um último momento em que todos eles fizeram algo juntos e, quem sabe dali a alguns anos, se reunirem novamente para recordar o passado. Entretanto acontece uma coisa inesperada… e assustadora! Assim que começam a cavar, encontram um tipo de escotilha que leva a um abrigo, até aí tudo bem, mas o que encontram lá é de virar a cabeça: cartas endereçadas a eles… escritas por eles mesmos, mas do futuro!!! E não é só isso, as cartas avisam que, de alguma forma, eles serão responsáveis pela destruição do mundo!

As primeiras páginas fazem uma boa introdução da narrativa, e o dispositivo do enredo de viagem no tempo funciona bem, pois abre uma veia de tensões interpessoais nos personagens. A ficção científica serve muito bem a trama, mas a caracterização ainda é superficial. A descoberta do abrigo, prefiro o bunker do original, desencadeia uma série de eventos que nos leva ao mesmo estilo de roteiro que um filme ou uma série de TV. A história flui rapidamente, mas enquanto os argumentos, as profecias e as brigas ocorrem, o suspense se mantém, o melodrama é presente.

Fialkov começa sua história apresentando os cinco amigos andando numa floresta. O autor utiliza por tipo de personalidade cada personagem, ligando-os aos estereótipos dos filmes de terror/horror: a dada, a promíscua Natasha (slut), o atleta “burro” Daniel (jock), o cérebro, o nerd Grady (brain), o bobão, o tolo Billy (fool) e o inocente Heidi (virgin). Em detalhes notamos que os clichês não são abertamente seguidos, pois todos os cinco personagens mostram ambição e inteligência analítica, mas eles seguem seus arquétipos originais de perto, e as infidelidades, bullyings e recriminações ocorrem ao longo da narrativa.

Para uma história character-driven – quando os personagens ativamente fazem avançar o andar da história – nenhum dos cinco personagens é tão interessante, o que torna difícil para nós investimos nossa atenção ao destino deles.

As cartas do futuro dão ao presente e aos personagens um deslumbre triste do que acontecerá, mas em alguns pontos servem como alívio cômico. Fialkov e Infurnari desenvolvem e executam muito bem o ritmo e o suspense. Todos os elementos abordados não são novidades, mas o autor consegue colocá-los em uma linha argumental que indica curiosidade a quem ler sua história. As revelações apresentadas conseguem criar uma imprevisibilidade para algumas cenas, chegando a um fim bem inesperado.

A arte do Infurnari é distinta, o uso do giz e dos riscos é sua marca registrada. O artista tem um excelente senso de luz, fazendo sua cena para o apocalipse que virá, a “Mass Extinction“, tão resplandecente quanto qualquer nascer do sol. O tom pastel e as cores suaves dão uma volatilidade aos estados de espírito dos personagens e às expressões faciais.

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O Abrigo é uma boa surpresa, pelo suspense e pela caracterização dos personagens, aliados aos traços de Infurnari, apesar dos clichês, no geral, é um título que começa bem e as reviravoltas vai manter a leitura pela imprevisibilidade apresentada. Com uma pitada de “Além da Imaginação” e uma espécie de “De Volta Para O Futuro” invertido, “O Abrigo” é uma história instigante e viciante! Aguardamos, o segundo volume, Devir.

 

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