Hip-Hop 50 Anos: Gustavo Nobio Evoca a Velha Escola na Música “No Drible dos Reveses”

Hip-Hop 50 Anos: Gustavo Nobio Evoca a Velha Escola na Música "No Drible dos Reveses" – Ambrosia

Surgida nos burgos nova-iorquinos quase trinta anos do pós-Segunda Guerra, a Cultura Hip-Hop — cuja pedra fundamental fora lançada pelo DJ jamaicano Kool Herc em 11 de agosto de 1973 — sempre foi marcada pela superação das dificuldades, pelo discurso impactante, pela atitude visual e sonora fazendo desta manifestação artística um ato político-musical que revolucionou a indústria fonográfica a partir da década de 1990. E tudo começou com poucos recursos, na base do improviso e despretensiosamente.

O Hip-Hop, assim como qualquer outro movimento cultural, também foi alvo de polêmicas, críticas e controvérsias que ampliaram ainda mais sua importância histórica seja na arte ou na sociedade, ditando novas tendências estéticas e comportamentais. E muito pelo fato de ter nascido na terra do símbolo-mor do Imperialismo capitalista, foi quebrando barreiras geográficas ao longo do tempo e espalhou sua influência pelo mundo.

Hip-Hop 50 Anos: Gustavo Nobio Evoca a Velha Escola na Música "No Drible dos Reveses" – Ambrosia
Hip-Hop 50 Anos: Gustavo Nobio Evoca a Velha Escola na Música "No Drible dos Reveses"

Sendo a pobreza um produto necessário ao capitalismo, o Hip-Hop surge como fruto da desigualdade para amplificar a voz da exclusão através das rimas e batidas ao ansiar também fazer parte da sociedade consumista, permitindo que os atores envolvidos naquela seminal cultura marginal contestassem ou celebrassem o mesmo sistema nas block parties (festas de bairro) da Nova York daquele período setentista. Oficialmente, o termo que une as palavras “hip” + “hop”, em alusão ao ritmo do momento, foi mencionado pela primeira vez nas músicas Rapper’s Delight (Sugarhill Gang) e Superrappin’ (Grandmaster Flash & The Furious Five), ambas lançadas em 1979.

Há quem afirme que a primeira música que se tem registro a apresentar um trecho de canto falado, bem semelhante ao rap que se conhece hoje, foi Deixa Isso Pra Lá, gravada por Jair Rodrigues e lançada em 1964. Outros dizem que o toasting da Jamaica, a embolada do Nordeste brasileiro ou até mesmo o scat singing do jazz norte-americano (técnica vocal criada por Louis Armstrong) já seriam precursores mais antigos do estilo de versos ritmados que começou a ser difundido lá na cosmopolita Big Apple. De qualquer maneira, a verdade é que todos estão certos! Mas isso não desconsidera o legítimo pioneirismo dos emcees hoje sexagenários, ele, Coke La Rock; e, ela, Sha-Rock.

E para celebrar os 50 anos da Cultura Hip-Hop, a brasileiríssima canção No Drible dos Reveses  — do rapper Gustavo Nobio, single lançado no dia 1° de agosto de 2023 —  entoa o bravo canto do rap incorporando a energia e a motivação, típicas desse estilo de música urbana, numa homenagem à velha escola dos pioneiros DJ’s e MC’s, mas de maneira indireta, sem mencionar termos específicos ou nomes icônicos; falando das dificuldades do cotidiano, dos percalços da vida e da satisfação em conquistar algo de bom que o faça perseverar com propósito. Ou seja, o verdadeiro espírito da cultura de rua que ao regar os lírios do gueto, faz brotar a poesia, inspira a esperança e afasta tanto medo.

Sem deixar de se importar com a técnica que a prática proporciona ao letrista e ao intérprete, conforme sua evolução, o nobilíssimo artista da cidade de Niterói (RJ) antes de tudo concentra sua verve à clareza da mensagem conduzida por uma base de boom bap bem casada ao suingue da linha de baixo jazzy funk. Cultivador da palavra desde que se apaixonou por livros e quadrinhos na adolescência (já perto do fim da década de 1980, início de ’90), foi no rap que o jovem Nobio encontrou um vasto terreno para plantar e espalhar suas ideias, época em que descobriu Run-DMC, Public Enemy, Eric B & Rakim, MC Hammer, Tone Löc e um pouco mais tarde, em língua portuguesa, Racionais MC’s, Thaíde & DJ Hum, Magrellos, GOG, Câmbio Negro.

Hip-Hop 50 Anos: Gustavo Nobio Evoca a Velha Escola na Música "No Drible dos Reveses" – Ambrosia
Hip-Hop 50 Anos: Gustavo Nobio Evoca a Velha Escola na Música "No Drible dos Reveses"

Relacionando o contexto histórico do Hip-Hop com a exortação lírica de No Drible dos Reveses, dá pra perceber o quanto os princípios de paz, união, amor e diversão pregados pela Zulu Nation (ONG fundada pelo DJ Afrika Bambaataa em 1973) ecoaram pelo planeta inspirando rimadores incipientes a cantarem suas experiências, tentando com isso mudar sua realidade difícil vivida nas favelas do subúrbio ou vizinhas dos bairros de classe média alta. E o Brasil, fortemente marcado pelas sequelas da herança escravocrata, certamente foi um dos países da América do Sul que mais assimilou a urgência da linguagem verbo-rítmica do rap para denunciar as mazelas aqui presentes.

Não à toa, hoje o gênero musical já tem seus primeiros artistas bilionários em solo estadunidense enquanto outros mantém os 4 elementos vivos e unidos [rapping, breaking, graffiti & street art, deejaying/turntablism] na cena underground. Mas por não prometer nenhuma salvação messiânica, o Hip-Hop pode apontar qualquer caminho que o indivíduo entender e desejar; filosofia de vida, expressão poética, ideal político, compromisso, escapismo, entretenimento de massa, etc. O Hip-Hop é uma esponja capaz de absorver o jazz, o rock, o samba, a bossa nova, o reggae, a rumba, o mariachi, o erudito, etc, e transformar a diversidade em pluralidade. Então…

SOBRE O ARTISTA

Gustavo Nobio é cantor, compositor e rapper, cria da cidade de Niterói desde os 10 anos de idade, oriundo do interior do Estado do Rio de Janeiro, nascido no dia 1º de outubro de 1975. Artista diletante da cena alternativa local com três álbuns virtuais lançados: Sucessos Nobianos Que O Mundo Nunca Ouviu! (2019; Coletânea de canções produzidas de forma independente entre 2004 e 2010), Nobilíssimos Êxitos (EP, 2021) e A Contundente Arte das Rimas (EP, 2022), além de singles inéditos em 2023. Denominando-se poeta operário e  sustentabilista, é um amante da natureza, defensor do equilíbrio ecológico, faz música para viver em harmonia por acreditar que a fórmula do sucesso é a paz interior para poder testemunhar todos os dias o brilho do sol rumo à boa finitude da mais longeva idade.

FICHA TÉCNICA

“No Drible dos Reveses” (Música e Letra: G. Nobio)

• Gustavo Nobio: voz, vocais e arranjo

• Danilo Minarini: beatmaking, construção de elementos percussivos e harmônicos, bass loops,  efeitos e scratch sample

• Paulo Xytake: gravação, mixagem, masterização e edição digital

• Gusnob DeSaints: concepção artística e musical

• Produção: Danilo Minarini e Gusnob DeSaints

Gravada no 360K Estúdio (São Gonçalo – RJ) em julho de 2023.

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