Crítica: “Cala a Boca Philip” usa bela estética para encobrir sua superficialidade narrativa

Cala a Boca Philip (Listen Up Philip, EUA/2014), que chegou ao circuito carioca uma semana depois de algumas cidades brasileiras, é um daqueles filmes de direção estilosa, recursos narrativos interessantes e fotografia e edição que remetem ao cinema americano dos anos 70. De uns anos para cá esse tem sido um recurso usado por muitos cineastas para dar um ar cool a seus filmes e fazê-los parecer mais relevantes do que realmente são, sabendo que boa parte da crítica e do público cinéfilo tende a tecer elogios a produções com tais características. Foi exatamente o que passou pela cabeça do esperto diretor Alex Ross Perry, neste que é seu terceiro longa metragem.

A trama gira em torno de Philip Lewis Friedman (Jason Schwartzman), escritor que aguarda a publicação de seu segundo romance. O desgaste de sua relação com a fotógrafa Ashley (Elisabeth Moss) e a intensidade da cidade grande e a sua própria personalidade complexa o levam a abandonar Nova York e aceitar o convite de seu maior ídolo, o escritor Ike Zimmerman (Jonathan Pryce), para passar o verão refugiado em sua casa de campo e ter a paz necessária para escrever e refletir.

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Os primeiros 15 minutos de filme são bastante promissores e de fato enganam o espectador: trilha bacanuda, narração em off, edição típica de filmes mais experimentais, uma boa apresentação dos personagens. Mas para por aí. No desenrolar da trama começa a ficar evidente a falta de substância do que é revestido pela bela capa. É apenas mais uma história de crise amorosa/existencial, sem nada de novo para acrescentar ao que já foi visto em similares muito mais inspirados A uma certa altura, o roteiro quase esquece do protagonista para focar em Ashley que também, mais adiante, praticamente some. E ela não é a única personagem subaproveitada. Aliás, o próprio protagonista podia ter sido mais bem trabalhado.

História sobre escritor em crise costuma render boas tramas, e Perry, que também assina o roteiro, sabe bem disso. Filmes como Adaptação, e boa parte dos que foram dirigidos e escritos por Woody Allen comprovam. Perry até soube bem como construir bem a atmosfera, mas esqueceu de criar um roteiro envolvente e um personagem que gerasse alguma empatia. Os protagonistas de Woody Allen são insuportáveis, mas ainda assim o público o adora. Philip não. Ele faz os 109 minutos de filme parecerem mais longos.

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“Cala a Boca Philip” é um belo exemplo de que se você não tiver uma história bem desenvolvida para contar, de nada vale um bom mote e uma direção acertada, bela fotografia e referências ao bom cinema feito no passado. Esse conjunto de acertos é o que livra o filme de uma nota mais baixa, porém, prometia e podia ser bem melhor

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