Crítica: "Jersey Boys: Em Busca da Música" resgata a era de ouro do pop

Clint Eastwood é um dos diretores mais prolíficos do cinema americano. Quem diria que aquele homem sem nome da trilogia western spagetti de Sergio Leone se tornaria um dos diretores mais conceituados de Hollywood? E o mais espantoso: aos 84 anos filma com intervalos curtíssimo entre um lançamento e outro, sempre mantendo o padrão de qualidade no máximo. Ele já poderia ter se aposentado, afinal, ganhou dois Oscar de melhor diretor e dois de melhor filme por “Os Imperdoáveis” de 1992 e “Menina de Ouro” de 2005. E seu próximo filme, que será lançado no ano que vem, já está em pós-produção.
“Jersey Boys: Em Busca da Música” (“Jersey Boys”, E.U.A/2014), seu 33º filme, chega aos cinemas brasileiros mantendo esse padrão de qualidade. O filme mostra a trajetória da banda Four Seasons, do inicio conturbado, incluindo envolvimento com a máfia e prisões, posteriormente a carreira como grupo de apoio vocal para estrelas da música até chegarem ao estrelato. A narrativa segue a velha tradição de história de gata borralheira: os garotos ítalo-americanos do subúrbio de Nova Jersey que se tornam importantes. No caso aqui, tudo que acarreta de negativo também é colocado, seguindo os fatos da vida real. Dramas pessoais, desentendimentos, dívidas, etc.
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O Four Season tinha como base o compositor Bob Gaudio, Tommy De Vitto e Frankie Valli dono de uma peculiar habilidade vocal. A banda ficou conhecida por hits como “Sherry”, “Big Girls Don’t Cry”, “Walk Like a Man”, “Dawn”, “Rag Doll”. Mas o que é sem dúvida o maior êxito de Gaudio como compositor é o single de 1967 “Can’t Take My Eyes Off You” que veio na carreira solo de Valli. O que Eastwood fez foi uma adaptação do musical da Broadway vencedor do prêmio Tony, inclusive com o ator John Lloyd Young reprisando o papel de Valli. O musical, que estreou em 2005 no famoso epicentro teatral novaiorquino também tem montagens itinerantes, e o sucesso fez surgir um novo interesse pelo som do grupo, fazendo com que muita gente da nova geração fosse atrás das gravações originais.
No caso da adaptação cinematográfica, sem as limitações do palco, houve mais espaço para desenvolver o drama e os conflitos a contento. As canções estão presentes, é claro, mas não se tem a sensação de estar assistindo a um musical, mas sim a um filme sobre música. Não é a primeira vez que Eastwood se aventura pela seara da biografia de artistas da música. Em “Bird” de 1988, o cineasta contou a turbulenta vida e carreira do músico de jazz Charlie Parker, em interpretação memorável de Forrest Whitaker. Com o Four Seasons, o diretor nos leva de volta a uma época em que a música pop dependia muito menos de imagem e mais de melodias realmente cativantes. Naquela América pré-Beatlemania o que dava o tom era o perfeito casamento de vocais harmoniosos com instrumentos. Para deixar o espectador ainda mais no clima da época, foi chamado Tom Stern, diretor de fotografia de parceria recorrente com Eastwood, que deu um tom quase que preto e branco ao filme, sobretudo no período referente aos primeiros anos. Aos poucos a cor vai se tornando mais acentuada, de maneira bastante sutil.
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A escolha do elenco também é um acerto e vale destacar a interpretação de Christopher Walken, ótimo como de costume na pele do mafioso Gyp DeCarlo. A direção de Eastwood não tem muita ousadia, segue a mesma retidão do roteiro escrito por Marshall Brickman e Rick Elice (também autores da peça), mas é como sempre precisa e vigorosa, com tom épico como um western, por exemplo. Aliás, o gênero que o consagrou como ator é a maior influência para sua direção e seus roteiros, por mais que seja um romance, um drama ou um musical.
“Jersey Boys: Em Busca da Música” presta homenagem não só àquele período da musica norte americana, mas também ao cinemão clássico, das décadas de 50 e 60que acabou dando lugar a um outro tipo de espetáculo. Mas para nossa felicidade, sempre há quem o traga à tona para mostrar a magia e o poder de fogo de uma história contada em movimento em uma sala escura

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