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Crítica: “Selma – Uma Luta Pela Igualdade” emociona com tema polêmico e atual

O reverendo Martin Luther King Jr. foi um dos maiores ativistas pelos direitos humanos que já existiu nos EUA. Sua determinação para que os negros americanos tivessem seus direitos reconhecidos por todos, sem distinção, foi tão marcante que se tornou referência até hoje. Um dos momentos mais marcantes de sua trajetória foi o famoso discurso conhecido pela frase “Eu tenho um sonho”, em 1963. Além disso, sua proposta de protestar sem violência, ao contrário de outros líderes da época, como Malcolm X, fez com que sua luta fosse vista e respeitada não só pelos americanos, mas também por pessoas de todo o mundo. Parte de sua impressionante trajetória é retratada no ótimo filme “Selma – Uma Luta Pela Igualdade” (“Selma”), que mostra que algumas questões que King enfrentou na década de 1960 ainda são bastante atuais e levam à reflexão, não importa de que raça o espectador seja.

A trama mostra King (David Oyelowo), logo após receber o Nobel da Paz em 1965, determinado a conseguir que os negros tenham o direito de votar reconhecido nos Estados Unidos. Ele chega a pedir ao presidente Lyndon Johnson (Tom Wilkinson) que assine um projeto de lei sobre o assunto, mas sem sucesso. Assim, King decide fazer uma marcha que vai da cidade de Selma (onde um jovem foi morto pela polícia ao defender a mãe e o avô durante uma manifestação, numa das cenas mais impactantes do filme) até Montgomery, capital do Alabama, governada pelo racista George Wallace (Tim Roth). Perseguidos pelas autoridades e até mesmo pelo presidente, que chega a pedir ao chefe do FBI, J. Edgar Hoover (Dylan Baker), que grampeie seus telefones, King e seus companheiros não esmorecem e acabam conseguindo que mais pessoas se unam à sua causa, até mesmo brancos e religiosos de outros credos, mesmo que isso custe as suas vidas, em nome da democracia.

Contado de forma épica e emocional, “Selma – Uma Luta Pela Igualdade” impressiona especialmente nas sequências em que os ativistas são agredidos de forma implacável pela força policial do Sul dos EUA. Não tem como ficar indiferente em ver na tela imagens de homens, mulheres, jovens e velhos serem tratados de forma desumana, cujo único “crime” foi lutar para que seus direitos civis fossem respeitados. A diretora pouco conhecida Ava DuVernay (vencedora do prêmio de Melhor Direção do Festival de Sundance em 2012, por “Middle of Nowhere”) sabia disso e tratou desses momentos de forma crua e contundente, embora alguns enquadramentos e uso de câmera lenta possam incomodar. Outro momento marcante é na cena em que King conversa com o avô do ativista morto, diante do corpo do neto no necrotério. A emoção nesta parte do filme é mostrada na medida certa, sem espaço para a pieguice. Algo tentador nas mãos de alguns cineastas menos capacitados.

Outro grande mérito de “Selma – Uma Luta Pela Igualdade” está na ótima reconstituição de época. Basta reparar nas fotos que aparecem no fim do filme, onde aparecem os momentos reais retratados na produção, e dá para ver que houve um cuidado em retratar da melhor maneira possível o que realmente aconteceu no Sul americano. Além disso, o roteiro de Paul Webb ganha pontos com os embates entre King e o presidente Johnson, cada vez mais acuado com a Guerra do Vietnã e vendo sua popularidade cair consideravelmente com os violentos episódios em Selma. Só peca, no entanto, em mostrar King como quase um santo, cujo único pecado gera um problema conjugal que é apresentado na trama de uma forma breve e logo esquecido na trama. Mesmo assim, esse problema não chega a prejudicar o filme. Outro momento interessante está na cena em que a esposa de King, Coretta (Carmen Ejogo), se encontra com Malcolm X (Nigel Thatch) para lhe pedir ajuda e o líder ativista revela seu respeito ao “rival”, mesmo não concordando com sua conduta pacifista.

Porém, o melhor mesmo de “Selma – Uma Luta Pela Igualdade” é seu ótimo elenco. Curiosamente, os três principais atores do filme são britânicos e interpretam personagens tipicamente americanos. Mas isso se torna completamente irrelevante, levando em conta o talento do trio. David Oyelowo recria Martin Luther King à perfeição, especialmente nas cenas em que o reverendo faz seus inflamados discursos para a sua comunidade. Bom de retórica, King conseguia convencer a todos a lutarem pela sua causa e, vendo Oyelowo falando de forma apaixonada, não tem como não querer fazer o mesmo. É uma pena que o ator tenha sido ignorado pelo Oscar deste ano, assim como Tom Wilkinson ou mesmo Tim Roth, que estão excelentes como Lyndon Johnson e George Wallace. A cena em que os dois discutem a questão racial no Alabama fica ainda mais sensacional graças às performances da dupla. Além deles, vale destacar a pequena participação de Oprah Winfrey (também produtora do filme, assim como Brad Pitt, entre outros) como Annie Lee Cooper, especialmente na cena em que tenta obter a permissão para votar.

“Selma – Uma Luta Pela Igualdade” merecia melhor sorte nas indicações para o Oscar, pois reúne diversas qualidades, seja pela direção, pelos atores, pela fotografia ou mesmo direção de arte. Pelo menos, não ignoraram a bela canção “Glory”, interpretada por Common (que também atua no filme) e John Legend. Mas duas nomeações foram pouco para uma produção que faz com que o público reflita sobre um problema que diz respeito sobre todos nós e não deve nunca ser esquecido, para que não seja cometido novamente. Os ideais de Martin Luther King Jr permanecem vivos e devem ser sempre reverenciados, algo que o filme contribui, especialmente para aqueles que também têm um sonho de um mundo melhor.

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