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Em “Blue Jasmine”, Woody Allen faz do sadismo uma parábola

Woody Allen é um sacana. A cada novo filme transforma a variação de si mesmo em discursos envernizados por referências que vão de Dostoiévski à Almodôvar. O discurso de relativização do indivíduo, principalmente diante de suas próprias neuroses (que até são universais as marcas dramáticas dos autores citados) ainda é a sua grande especialidade. Mas Allen é regido por momentos de percepção. Há filmes que o amor expõe seu otimismo. Há outros em que verte em razão seu senso de realismo, e por assim vai.

blue-jasmineNo ótimo “Blue Jasmine”, seu mais novo longa (sucesso absoluto em sua prolífera carreira) o cineasta mira suas fixações em “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tennessee Williams, o que já é em si próprio uma lupa inquietante sobre desconstruções passionais. Allen agrega a isso uma espécie de angustia cômica na figura defendida com extrema perfeição por Cate Blanchett, a Jasmine do título, que após perder a fortuna e a dignidade por causa do marido, se vê obrigada a trocar Nova Iorque por São Francisco, para morar com uma irmã (Sally Hawkins, sempre tão Felliniana), que leva uma vida completamente oposta ao que está habituada. Jasmine, que antes era casada com um milionário (Alec Baldwin) e moradora de uma cobertura em Nova Iorque, perde absolutamente tudo. Ela parte para São Francisco (de primeira classe, explicado pelo humor corrosivo de Allen) para morar com a irmã que desgosta por nunca ter ascendido socialmente. Jasmine não tem para onde ir e Ginger é tudo o que restou na sua vida. O contraste, o atrito e a convergência desses dois mundos e de sentimentos tão antagônicos – a irmão é o oposto de Jasmine – vai sendo mostrado pelo cineasta pelas cores quentes de São Francisco.

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O genial da dramaturgia de Allen é que o processo de adaptação de Jasmine é paralelo ao de seu próprio desmascaramento. E Blanchett capta esse sentido de forma tão visceral e idiossincrática que “Blue Jasmine” não se enquadra em nenhuma vertente anterior do próprio cineasta. Aqui, Allen, não é nem pessimista, nem realista, muito menos otimista. Dessa vez, ele é apenas sádico, deixando para a vida própria de seus personagens, a moral de uma história tão Woodyalleana.

[xrr rating=4.5/5]

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