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Em tempos de primavera feminista, “Black Widows” é um filme mais que necessário

Muito se fala sobre o protagonismo feminino em Hollywood: tanto na frente quanto por trás das câmeras. A tentativa de retomar a situação que era realidade no cinema mudo, com muitas diretoras e em especial roteiristas, vem dando bons frutos, embora ainda sejam poucos os filmes escritos / produzidos / dirigidos por mulheres que ganhem ampla distribuição nos cinemas. “Black Widows” é um desses filmes que merece entrar em cartaz em salas do Brasil inteiro.

As três amigas Darcy (Jordan Elizabeth Goettling), Nora (Brigitte Graham) e Olivia (Shelby Kocee) parecem felizes e realizadas, mas têm problemas na vida amorosa. Darcy descobre que o homem com quem está saindo há três meses é casado, em uma cena na qual o ângulo de câmera deixa a esposa traída com uma expressão ainda mais irada no rosto. Nora está em um relacionamento abusivo com um homem ciumento. Olivia parece ter o casamento perfeito, mas o marido é violento e, quando ela pede o divórcio, ele começa a persegui-la. E ainda nem chegamos ao clímax do mau-caratismo.

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Darcy conhece um homem em um site de namoro, e no primeiro encontro tudo parece perfeito. Parece, claro, porque sabemos que nos mais improváveis frascos estão escondidos os piores venenos. Em outro encontro, depois de um piquenique no parque, Darcy vai para a casa de seu novo namorado e eles transam. Minutos depois, quando ela está no banheiro, ele aparece e a agarra, contra a vontade dela. Para ele, é a realização de uma fantasia. Para ela e para qualquer um de bom senso, não há dúvida: é estupro.

Muitas pessoas não conhecem o significado do termo em inglês date-rape. Muitas pessoas acreditam que é impossível ser estuprada por alguém que você conhece, ou com quem você já se relaciona. E isso acontece porque há ainda muitas pessoas, de ambos os sexos, que não sabem o que é consentimento.

Sabendo que os policiais são inúteis neste caso, Darcy conta o acontecido para as amigas e cria um plano para humilhar o estuprador. Claro, não há plano perfeito e as coisas saem do controle para as garotas.

Jordan Elizabeth Goettling, protagonista e roteirista do filme, passou por uma situação semelhante na vida real. Ela quis se vingar de seu estuprador, bolou um plano com as amigas e acabou convencida de que deveria usar a escrita como catarse: assim surgiu o filme “Black Widows”. A coragem de Jordan é admirável, devida à dor intensa de reviver a situação, enquanto escrevia e atuava no filme, que faz parte da catarse, mas pode se tornar insuportável.

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Os filmes sobre amigas vêm se multiplicando nos últimos anos. Um filme menos indie semelhante a “Black Widows” é “Mulheres ao Ataque” (2014), estrelado por Cameron Diaz, que conta a história de três mulheres que se unem para se vingar do homem que enganava todas elas.

Essa multiplicação é um reflexo do que acontece na vida real, e na sociedade que se organiza para enfrentar o machismo, o assédio, as agruras de ser mulher. É um reflexo da sociedade que cria campanhas como a “Vamos Juntas?”, que estimula a sororidade, que questiona a cultura do estupro e que percebe que nem tudo que vemos como normal é, de fato, aceitável.

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“Black Widows” foi dirigido e produzido por Venita Ozols-Graham e conseguiu ser feito graças a uma campanha de crowdfuning. A ótima trilha sonora é composta de bandas de rock formadas por mulheres. “Black Widows” tem grandes chances de passar despercebida, mas não devia. É um dos melhores filmes de humor negro do ano. E é um filme do qual o Brasil precisa neste momento.

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