Entre a crônica e o musical, "Jersey Boys – Em Busca da Música" revigora Clint Eastwood

O cineasta Clint Eastwood já possui mais do que uma identidade em sua vasta e premiada filmografia ao longo dos extensos anos em atividade. Ele impõe uma marca, que pode ser observada pelo obscurantismo de uma fotografia e a delicadeza crua ao focar os sentimentos que regem seus personagens. Mesmo já tendo dirigido a cinebiografia do cantor de jazz Bird há uns anos atrás, o diretor se arrisca na condução de seu primeiro musical. E, dada as características que o personalizam, acaba que “Jersey Boys – Em Busca da Música” (com subtítulo brasileiro bem dispensável), sucesso na Broadway há tempos, não é bem um musical, mas um retrato dramático, porém carismático de um dos grupos mais famosos do mundo, nos idos anos 60 e 70, os The Four Seasons. A história se pauta na entrada de seu vocalista Frankie Valli, com sua voz de curiosa entonação, que junto com o cabeça do grupo, Tommy DeVito consegue a duras penas (e alguns trambiques) fazer o grupo acontecer, pontuados por convenientes e bem defendidos números musicais com clássicos como Sherry e My Eyes Adored You.
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A narrativa é desenvolvida como crônicas, ora mais cômicas, ora mais documentais, intercalando (com eficiência) pontos de vistas dos integrantes da banda, proporcionando para Clint a oportunidade de acampar os meandros da indústria musical e sociedade americana da época. O elenco possui um conjunto harmônico – vindo e azeitado nos palcos, destacando a riqueza dramática de John Lloyde Young e Vincent Piazza. O veterano Christopher Walken tem participação hilária, com as melhores falas do filme. Outros destaques técnicos saltam aos olhos como a direção de arte livre de afetações “de época” e o figurino. Essa inclinação mais humanística na condução do diretor pesa um pouco demais na segunda parte da trama quando a consolidação da carreira do grupo reverte em caos a até então harmoniosa relação do quarteto. Mas aí o revestimento, digamos, cronista que dá a sua história, mantém o interesse mesmo com resoluções um tanto questionáveis. E nos créditos finais, Clint demonstra habilidade num número musical espertíssimo, dando seu recado que, sob sua própria marca cinematográfica, ainda existe vigor, uma ressonância do próprio grupo que retrata e da própria disposição para tal.  
 

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