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Festival do Rio: As Horas Mortas e a espera compartilhada em um motel na costa do México

As Horas Mortas (Las Horas Muertas), de Aaron Fernandez, uma produção México/França/Espanha de 2013, é um filme que eu adjetivaria como “mineiro”, no sentido de que, segundo o estereótipo arraigado, é quietinho, não faz alarde, vai mostrando a que veio devagar e, quando menos se espera, estamos completamente seduzidos pela história e pelos personagens.
O cenário é um motel na costa de Veracruz, no México, um lugar de pouco movimento e muita tranquilidade. Sebastián (Kristyan Ferrer), de 17 anos, é chamado a gerenciar temporariamente o motel de seu tio. Ele aceita ajudá-lo e passa a conviver com a rotatividade de casais nas tardes de ventania da costa, um movimento quase inexistente, enquanto tenta passar as horas (aparentemente mortas) como se não houvesse opções de entretenimento (não se vê um computador, o telefone celular não tem sinal praticamente em lugar nenhum, a televisão é inexistente). Todos os problemas do motel é ele que deve resolver, enquanto não se encontra uma camareira que possa fazer o serviço. Tudo parece meio morto, até ela conhecer Miranda (Adriana Paz), uma cliente do motel que vai se encontrar regularmente com seu amante, Mario, que sempre se atrasa. Miranda mistura certa frustração com o amante e a viva curiosidade pelos casais frequentadores do motel e pelo trabalho do jovem Sebastián, com quem vai travando uma intimidade cada vez maior.
fr01A matéria bruta do filme é a espera solitária que Sebastián e Miranda vão compartilhando devagar, sem atropelos, transformando-a em uma espera comum e numa sutil sedução: eles dividem não apenas a espera, como também a ausência, uma vez que Miranda está sem seu amante, Sebastián está sem o tio, e ninguém sabe por quanto tempo cada uma dessas ausências se estenderá. Miranda é uma mulher bonita e independente que em sua espera transforma as horas mortas (como são as horas de qualquer um que se coloca à disposição de um outro inalcançável e ausente) em vivas horas de interesse pelos detalhes que compõem a vida. Sebastián, ao mesmo tempo, espera o tio, espera a camareira, espera aquele pedaço de vida passar, mas, enquanto espera, coloca-se sempre receptivo ao que der e vier, sobretudo às novas (e escassas, é verdade) formas de relacionamento que sua estada no motel pode lhe reservar.
O filme é de uma delicadeza impressionante, de um lirismo discreto, e o tempo é bem representado pelos espaços largos da costa, onde tudo parece se dilatar sem pressa. Aqui, tempo e espaço estão de mãos dadas e não há pragmatismo: a vida se desenrola mineira através de pequenos detalhes e imagens poéticas. As horas, a princípio mortas, vão ganhando cada vez mais vida.

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