Festival do Rio – Première Brasil: O notável “Entre Nós” investiga o afeto e a culpa sem medo de ser mainstream

Tido como o longa mais mainstream da Première Brasil do Festival do Rio 2013, principalmente por contar com o suporte da O2 e da Globo Filmes e, consequentemente, ser protagonizada basicamente por “globais”, o filme “Entre Nós”, do Paulo Morelli, acabou se revelando uma interessante surpresa e com uma dignidade fílmica mais assertiva que muito concorrente underground da mostra.
Como todo filme da O2 (produtora do melhor diretor de Cinema do Brasil, Fernando Meirelles), tecnicamente o longa é ótimo, com uma fotografia campestre e obliqua de Gustavo Hadba. A história parte de um encontro entre amigos. São amigos que, no começo do filme, em 1992, escrevem cartas endereçadas a eles mesmos, e que deverão ser abertas dez anos mais tarde, em 2002. Naquele mesmo dia, um dos integrantes do grupo morre num acidente. Há o mistério de um livro, que ele acabara de finalizar. No novo tempo, os jovens de 1992 formaram casais. O reencontro torna-se explicitamente afetivo e implicitamente corrosivo.
entre1Morelli verte sua habilidade técnica (afinal, Cidade dos Homens é um êxito admirável) em preciosismo na busca latente em expor seus personagens através de uma bem sucedida linha naturalista de composição. Sua câmera permeia mas não nos torna intrusos, o que garante um envolvimento preponderante com sua história. Junte a isso bons diálogos e atuações lúcidas (fora a beleza descomunal de uma Carolina Dieckman na flor da maturidade), e “Entre Nós” torna-se bem acima da média do que se anda fazendo por aqui. Mas se existe um coração, que reúne os matizes emocionais de tudo o que filme e a geração retratada, ele se chama Martha Nowill, que rouba todas as cenas em que aparece com sua substancialidade cômica e presença cênica.
De maneira geral, o filme mantém uma certa ingenuidade na sua construção dramática (em especial na afirmação de suas metáforas) e Paulo, em alguns poucos momentos, quase cede às amarras do que entende como o gênero de seu filme, porém, o saldo é positivo e com um arrojamento lindo de ver. No final, quando o título do filme incide respostas às interrogações que a trama propositalmente deixa, percebemos que não devemos subestimar o Cinema Mainstream Nacional. Recomendo!!!

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