Essa crítica pode ser tendenciosa. Esse crítico (?) que vos fala é um admirador incondicional do cinema de Ethan e Joel Cohen, ou simplesmente, os Irmãos Cohen. Se bem que não. Já teve coisas que fizeram que não me desceram (Matadores de Velhinhas) e, apesar de reconhecer muitas qualidades, não concordei com o Oscar dado a “Onde os Fracos Não Têm Vez”, entretanto a filmografia desses feras é de uma personalidade (e qualidade) não muito comum, principalmente no cenário hollywoodiano. Eles implementam um universo e uma identidade tão próprias a cada filme, que é possível identificar até uma evolução frequente, afinal, de “Fargo” a “Bravura Indômita”, passando pelos interessantíssimos “Um Homem Sério” e “Queime Depois de Ler” apontam para uma perenidade artística certeira. E olha que nem citei o cultuado “O Grande Lebowski”.
“Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum” é daqueles filmes bem representativos da marca Cohen. Ao retratarem o nascimento da música folk que efervescia o bairro de Greenwich Village, na New York de 1961, os diretores (que impõem sua autoralidade escrevendo e dirigindo) captaram as idiossincrasias do gênero musical retratado para dar forma a trajetória de Llewyn Davis (Oscar Isaac, uma descoberta) um fracassado errante em busca da essência de sua paixão artística. E de sobreviver desse elo.
O roteiro baseia-se na vida de um representante seminal da música ianque: Dave Von Ronk, mas os diretores reimaginaram sua trama com as bases do folk: uma certa melancolia arrogante, uma poesia rude e a um desapego à finais felizes (sonoros ou narrativos). Os Cohen são geniais. Eles nos envolvem num autêntico estudo de personalidade de seu protagonista, para na segunda parte da trama nos mostrar que tal opção psicológica está estruturada sob uma dramaturgia muito bem pensada. “Inside Llewyn Davis – Balada de Um Homem Comum” é um filme que faz do folk sua personalidade e os irmãos Cohen seguem como dois dos melhores artesões de um cinema muito próprio e de dimensões assertivamente universais dentro de sua fixação sobre os ordinários. Não há tendência nessa crítica. Há sim uma maravilhada percepção.