A aritmética que alinha olhar infantil, guerra e nazismo é tão clichê quanto perigosa. A aguardada adaptação para o cinema de “A Menina Que Roubava Livros”, best seller que vendeu mais de 2 milhões de exemplares no Brasil e mais de 8 milhões pelo mundo, do australiano Markus Zusak, é mais um exemplo dessa equação que não foge a nenhuma previsibilidade de seu contexto, e ainda deturpa o discurso de sua matriz literária.
A história mostra as desventuras de Liesel Meminger (Sophie Nélisse, uma gracinha), deixada pela mãe comunista, que precisa fugir do avanço nazista. Ela é adotada por um afetuoso casal alemão, tendo que se deparar com a morte pela primeira vez ao presenciar a de seu irmão mais novo. Pouco antes disso, no entanto, Liesel rouba seu primeiro livro, durante o enterro do irmão, e o lê com a ajuda do seu novo pai. Intitulado “O Manual do Coveiro”, este é apenas o primeiro dos títulos que ela roubará nos próximos anos – um deles ela chega a retirar de uma pilha de livros incendiados pelos nazistas. Ela faz amizade com um menino da rua, Rudy (Nico Liersch), e desperta para a dor e a delícia da vida quando os pais decidem abrigar um judeu, Max (Ben Schnetzer).
O diretor Brian Percival é de uma conveniência de gênero irritante. Tudo é calculado para arrancar lágrimas fáceis. E parece ter funcionado pois no cinema em que estava muitas mulheres choravam. Mas o pior é a opção infantiloide de subverter a moral dos protagonistas que no filme, só roubam livros, quando no livro cometiam outros furtos, mas creio ter tido um certo temor da reação do público. O próprio retrato do nazismo é estranhamente abrandado, uma vez que o olhar do filme não é o da criança , mas sim a percepção da morte, uma boa ideia desperdiçada na infantilização e excesso de sentimentalismo do resultado, reforçado numa trilha um tanto intransigente. É a lógica tripla do olhar infantil, da guerra e do nazismo, onde o resultado é sempre a ideia de que fazer chorar é mais fácil que dimensionar as emoções mostradas.