"Meu Amigo Hindu" se fecha na pessoalidade de Hector Babenco – Ambrosia

“Meu Amigo Hindu” se fecha na pessoalidade de Hector Babenco

Os filmes do diretor Hector Babenco são marcados por forte carga emocional, seja banhados de muita pessoalidade, seja reverberando uma visão distanciada (ou mesmo estrangeira, já que é argentino radicado no Brasil há anos) de seu meio. Meu Amigo Hindu exponencia essa sua marca de uma maneira até radical, tornando tudo uma alegoria fetichista e hedonista de sua intimidade. O filme já começa com a mensagem: “O que você vai assistir é uma história que aconteceu comigo e conto da melhor maneira que sei“.

É a chave para começar sua egotrip através do alter ego Diego (Willem Dafoe), um cineasta prestigiado, diagnosticado com um câncer e pouco tempo de vida. Sua última esperança está num tratamento nos EUA e um transplante de medula. Depois do diagnóstico, o protagonista casa-se com Lívia (Maria Fernanda Cândido), sua namorada de longa data, e viaja para onde começa um tratamento doloroso e um transplante de medula. O doador é Antonio (Guilherme Weber), irmão com quem há muito não fala. Acompanhamos, então, no roteiro assinado pelo próprio diretor, a longa jornada de recuperação de Diego, uma figura difícil, especialmente pelo seu egocentrismo e arrogância. Até que conhece um menino indiano, no hospital, e trava uma amizade inusitada.

Dafoe é um ator de muito estofo dramático e sua medida para a dor e para o cinismo de seu personagem é muito bem equilibrada e melancólica. O problema do filme está além de seu grande intérprete. O roteiro se escora entre seu hedonismo e fetichismo com mais prolixidade do que propriamente um viés mais confessional. A impressão que dá é que Babenco fez um filme para ele mesmo, mas sem a conivência do espectador, que tenta se aprumar nos simbolismos que gravitam a história, mas que poucos significados têm para uma reflexão. Mas Babenco é um diretor competente e a narrativa é ilustrada com planos interessantes e fotografia condizente com a grandeza e solidão de São Paulo, onde se passa boa parte da trama. E ainda estabelece suas fixações e idealizações sexuais e/ou afetivas quase como um alívio poético diante do olhar duro que faz de si.

Meu Amigo Hindu tem seus bons momentos – a “Morte”, interpretado por Selton Mello, é responsável por quase todos eles, mas talvez a forma que o diretor usou para expurgar seu drama pessoal encontre mais propriedade numa sessão de análise. Quando opta por sair da alegoria de si e investe na humanidade da auto análise, o filme engradece. Por isso seu fim, com Barbara Paz dançando lindamente “Cantando na Chuva“, de camisola transparente sob uma chuva torrencial, ganha dimensões mais legítimas de como essa história tão pessoal poderia ter sido contada. 

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