Novo "Caçadores de Emoção" não empolga tanto quanto o original – Ambrosia

Novo “Caçadores de Emoção” não empolga tanto quanto o original

Lançado em 1991, “Caçadores de Emoção” chamou a atenção, positivamente, da crítica e do público com uma história que, apesar de não ser nada original, era muito bem conduzida por Kathryn Begelow (que, anos mais tarde, se tornaria a primeira diretora a ganhar um Oscar da história, por “Guerra ao Terror”, em 2010), e contava com personagens interessantes e bem defendidos pelo elenco encabeçado por Keanu Reeves e, especialmente, Patrick Swayze, que vinha do megassucesso “Ghost – Do Outro Lado da Vida”, e usou o seu carisma para tornar seu personagem Bodhi um dos mais marcantes de sua carreira.

O tempo passou e muita gente de Hollywood sempre quis voltar ao universo do filme, seja com uma sequência, chegando até a confirmar a volta de Bodhi, ou com uma refilmagem. Com a morte de Swayze, em 2009, o projeto da continuação foi arquivado. Mas o remake começou a ganhar mais força e, aos poucos, foi se tornando realidade.

Como acontece com a maioria de iniciativas como essa, o resultado final ficou nada menos do que decepcionante e, assim, “Caçadores de Emoção – Além do Limite” (“Point Break”), embora possua imagens belíssimas e uma boa montagem, fica bem aquém da obra original, principalmente em relação à fraca direção, o roteiro ruim e a má escalação de atores, que fazem a produção, literalmente, morrer na praia.

A história é, praticamente, a mesma do filme original. Após um longo treinamento e prestes a se tornar um agente do FBI, Johnny Utah (Luke Bracey) percebe que uma série de roubos inusitados em vários continentes estão sendo cometidos por pessoas que, assim como ele, são especialistas em esportes radicais e querem realizar o Ozaki Oito, uma série de provas que honram as forças da natureza. Após convencer o instrutor Hall (Delroy Lindo), seu superior, sobre a sua teoria, Utah conta com a ajuda do veterano Pappas (Ray Winstone) para se infiltrar num grupo liderado por Bodhi (Edgar Ramirez) e conseguir sua confiança.

Durante sua investigação, ele se envolve com Samsara (Teresa Palmer), a única mulher da equipe, e Pappas começa a questionar se o jovem está realmente disposto a levar sua missão até o fim.

Para tornar o novo “Caçadores de Emoção” mais palatável ao gosto atual do público (principalmente o mais jovem), o diretor Ericson Core, também responsável pela fotografia, capricha nas cenas de esportes radicais, como surf, snowboard e alpinismo, além de diversas cenas aéreas, que são melhor apreciadas quando vistas em 3-D, especialmente quando Johnny, Bodhi e seus amigos pulam de uma montanha e planam no ar usando wingsuits.

Vale destacar também as boas trucagens, que fazem parecer que realmente os atores estão executando as façanhas mais radicais. Mas o cineasta peca em se preocupar tanto com a beleza plástica das imagens, que parecem tiradas de um programa de canais como NatGeo ou Off, que se esquece de dar mais impacto a elas, tornando tudo esteticamente belo, mas facilmente banal e esquecível, ao contrário do que Kathryn Bigelow fez há 15 anos atrás, onde impôs mais energia e tornou o filme bem mais memorável.

Core também é prejudicado pelo péssimo roteiro, escrito por Kurt Wimmer (responsável por filmes como “Salt” e a fraca refilmagem de “O Vingador do Futuro”), que cria situações e diálogos ridículos, que podem levar o espectador às gargalhadas em momentos que deveriam ser tensos. Além disso, o texto falha por não mostrar os conflitos de Johnny Utah após conviver com Bodhi e sua turma de forma convincente, como foi no filme original. Até mesmo o primeiro “Velozes e Furiosos” se saiu melhor neste quesito, por exemplo. Nem a trama romântica envolvendo o protagonista e Samsara soa convincente, já que colocada na trama sem maiores cuidados.

Para piorar, o filme chega ao cúmulo de criar uma espécie de “Clube da Luta” num dado momento da história, o que prova que qualquer coisa que faça menção à ótima produção de David Fincher corre o sério risco de se tornar ridículo, como é no caso aqui.

Outro grave problema do filme é a escalação do elenco. O australiano Luke Bracey, que foi o Comandante Cobra de “G.I. Joe – Retaliação” e tem alguma semelhança com o falecido Heath Ledger, é pouco expressivo e tem uma atuação robótica. O venezuelano Edgar Ramirez, que assumiu o papel de Bodhi após a desistência de Gerard Butler, faz o que pode com o seu personagem, mas não tem nem metade do carisma de Patrick Swayze e parece não acreditar nas frases saídas de livros de autoajuda que tem que dizer durante a história.

Teresa Palmer só está ali para mostrar sua beleza e não consegue ter muita química com Bracey. Já os veteranos Delroy Lindo e Ray Winstone são totalmente desperdiçados como agentes do FBI. Lindo se sai um pouquinho melhor porque a sua contraparte no filme de 1991, vivida por John C. McGinley, era uma das coisas mais fracas na obra original. Uma curiosidade: os atores James Le Gros e Bojesse Christopher, que fizeram parte da gangue de Bodhi no primeiro “Caçadores de Emoção”, agora aparecem no remake como membros do FBI em algumas cenas.

Contando com uma fraca trilha sonora de Junkie XL (que assina com seu nome verdadeiro, Tom Holkenborg), que copia na maior cara de pau músicas feitas por Hans Zimmer em outros filmes de ação, “Caçadores de Emoção – Além do Limite” entra para o grupo de remakes desnecessários, que além de não ter nenhum motivo satisfatório para existir (a não ser arrecadar mais dinheiro nas bilheterias), não acrescentam em nada à obra original. Para um filme ser bom, apenas belas imagens não são suficientes.

É preciso um brilho a mais, que deve ser criado por todos os envolvidos na produção, seja pela direção ou pelos atores, especialmente quando se volta a algo que deu certo no passado. Infelizmente, não é o que acontece aqui. Que essa lição seja aprendida pelos engravatados (ou nem tanto) de Hollywood.

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