O valor de “A Busca” está nas arestas do seu discurso

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O singelo não é lá um adjetivo muito usado no nosso cinema. Geralmente os roteiros (quando no mínimo não são medíocres) se nivelam entre a pretensão e o filosofismo e o discurso sempre fica aquém do desejado. A Busca, primeiro longa do estreante diretor Luciano Moura, se desvencilha dessa armadilha tupiniquim e entrega um simples mas efetivo retrato sobre as distâncias geracionais alegorizada pela absoluta busca de um pai por seu filho.

A história parte de uma intensa crise familar: temos um pai, Theo (Wagner Moura), em conflito com a mulher, Branca (Mariana Lima), de quem está se separando, e com o filho adolescente, Pedro (Brás Moreau Antunes, filho do músico Arnaldo Antunes, responsável pela bela música do fim). O menino desaparece de casa e parte numa viagem de fuga do caos presente em sua casa. Theo então, parte numa busca desesperada pelo filho.

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O filme tem defeitos incômodos como os exageros no roteiro nos quais, cada canto que o pai chega, logo encontra alguma pista do filho, mas a escalada emocional da qual Theo vai passando nessa busca é muito bem feita e captada com perfeição por Wagner Moura. A estrutura de road movie geralmente aprisiona uma narrativa, o que o filme em si não conseguiu evitar, porém o fato de conseguir de cara imprimir a passionalidade de um pai em busca de redenção fraternal com o filho (e as poucos percebemos que com o próprio passado também!), é preponderante para que os vacilos sejam perdoados ao longo da projeção, como o artificialismo da cena do parto na cachoeira ou até mesmo o a forma como ele vai conseguindo cruzar “dois estados” para chegar onde quer.

Nem preciso gastar linhas enaltecendo o trabalho de Wagner, que aproveita cada nuance de seu personagem. É do tipo que faria o filme ter outro sentido se não o tivesse protagonizado. O diretor, da O2 de Fernando Meirelles, demonstra domínio narrativo e aparenta ter muito o que fazer ainda em nosso cinema. O DNA da produtora está presente na montagem e no arrojamento estético. A Busca se insere assim, no grupo de filmes que prezam a qualidade artística e afetiva de sua existência. Que vire regra, não exceção.

[xrr rating=3.5/5]
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