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'S.O.S Mulheres ao Mar' peca pela preguiça e pela busca pelo retorno financeiro fácil

Já virou lugar comum falar mal de comédias brasileiras. É sempre muito fácil atacar quem está por cima, quem é mainstream, o que apetece ao gosto mais popular. Na época das chanchadas da Atlântida, por exemplo, muitos críticos davam notas severas aos filmes, muitas vezes sem sequer vê-los. Era um discurso pré-formatado que virou um consenso na crítica nacional. Na era das pornochanchadas era exatamente a mesma coisa, assim como nos anos de 1980 e 1990, quando Renato Aragão e Maria das Graças Meneghel eram os alvos primários, sem qualquer direito de defesa. O pior é que no caso do primeiro, alguns filmes eram muito bons. Chegamos à era das chamadas neochanchadas, filmes nacionais de comédia estilo riso fácil que têm levado multidões ao cinema e são atacados impiedosamente pela crítica. A força motriz desse cinema é a chamada classe C, beneficiada com um certo aumento na renda e a abertura de salas de exibição em áreas menos privilegiadas culturalmente das grandes cidades, outrora apelidadas de sem tela.

Infelizmente, a perseguição implacável a esse gênero cinematográfico popular continua se justificando nos últimos lançamentos e “S.O.S Mulheres ao Mar” (Brasil/2014) é apenas mais um exemplar que segue a cartilha.

Amparada pela toda poderosa Globo Filmes e todos os incentivos da Ancine a que se tem direito (enquanto cineastas independentes, com poucos recursos não raro ficam à deriva), é mais uma produção caprichada com nomes “globais” (claro) no elenco, mas com aquele aspecto pré- à-porter de produto feito com mínimo de tempo pronto para o consumo. A direção não tem uma marca autoral impressa, e a grande aposta é que o público alvo, de pouca educação cinéfila, irá enfrentar filas nos multiplexes sem muito questionamento.

Fazer cinema de entretenimento não é nenhum pecado, ao contrário do que creem alguns, é até benéfico. Desde que não subestimem a inteligência e o bom gosto do espectador. Essa produção dirigida por Cris D’Amato (“Sem Controle”, “Confissões de Adolescente”), como vários outros exemplares nacionais da mesma linha, segue fielmente a receita de comédias de situação latinas contemporâneas (vejam o que tem sido feito na Itália, Espanha, Portugal e América Latina) e das coirmãs norte americanas: personagens caricatas colocadas em um contexto que desencadeia uma série de piadas prontas e sem graça.

A trama do filme é sobre Adriana (Gionvana Antonelli), uma mulher recém separada do marido e que não se conforma com o abandono. Descobre que o ex (Marcelo Airoldi) e sua nova amada (Emanuelle Araújo) estão embarcando em um cruzeiro pela Itália e resolve segui-los na embarcação, junto com a irmã (Fabiula Nacimento) e a empregada (Thalita Carauta) para executar uma vingancinha infantil. O mote por si só já é incoerente: quem gastaria os tubos para fazer uma viagem em um cruzeiro de luxo, só para destruir o relacionamento do ex-amado? Não era mais fácil esperá-los voltar? Ainda há o agravante de que a personagem é uma escritora que não consegue publicar livros – de onde veio o dinheiro?

As três embarcam e daí por diante é um cipoal de situações clichês, piadas manjadas e sem graça, como no momento em que a empregada pede para ir junto porque quer muito ir para os Estados Unidos e Adriana diz que elas vão para a Itália (no que ela replica “então, de lá eu pego um ônibus”. Ou quando a mesma é orientada a tomar cuidado com os plurais, e quando vai ao encontro de um pretendente a bordo do navio, passa a dizer tudo com ‘s’ no final. Thalita é uma comediante de talento, mas muito subaproveitada aqui. Giovanna e Fabiula fazem o que podem em um script tão pobre. Reinaldo Gianechini está ali fazendo papel de paisagem, uma versão masculina daquelas mulheres em filmes de ação que estão ali só como mero enfeite (como Megan Fox em “Transformers”). Aqui as mulhers têm sua vingança (afinal, a película é dirigida por uma). O filme se vale de belas tomadas marítimas e em locações como Itália e Rio, mas de forma padronizada, afinal, não é muito difícil se extrair beleza de Roma, Veneza e da Cidade Maravilhosa.

“S.O.S Mulheres ao Mar” peca pela preguiça e pela busca pelo retorno financeiro fácil. A comédia nacional ainda renderá muito aos cofres dos exibidores e das produtoras, mas ainda resta a esperança de que cineastas passem a enveredar por roteiro smais criativos, realmente engraçados. Somente assim o gênero fará jus ao status rentável de que goza atualmente.

 

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