Entrevista com a cantora Roberta Freeman, ex-backing vocal do Guns N’ Roses

A cantora Roberta Freeman já iniciou a carreira com o pé direito. Seu primeiro show profissional foi como backing vocal na etapa americana da turnê “A Momentary Lapse of Reason” do Pink Floyd, que marcou a volta da banda, em 1987. Nascida e criada em Nova York, mudou-se para Los Angeles, cansada de passar seus invernos tendo que cantar com uma dor de garganta contínua. Roberta tem em seu currículo nomes como Cinderella, Lou Reed, John Mellencamp, Mary Wilson (Supremes), mas ficou famosa mesmo integrando o time de músicos de apoio do Guns N’ Roses na megaturnê “Use Your Illusion”, em que formava um duo de backing vocal com Tracey Amos. Em entrevista por email à Revista Ambrosia, Roberta fala sobre a carreira, os projetos atuais, e, claro, sobre a fase Guns. Confira abaixo.

Ambrosia: Como você começou sua carreira como cantora?
Roberta Freeman: Eu praticamente canto desde que estava no ventre! Desde que me entendo por gente, lembro-me de estar correndo para lá e para cá cantando, e os meus pais tinham vozes incríveis. Nossa casa era cheia de música, então cantar era tão natural para mim como respirar. Mas foi no ensino médio que fiquei com uma fome real por isso, quando comecei a ter boa resposta do público ao atuar em bandas locais e em jam sessions em clubes locais de Nova York. Aí então, fiquei viciada e comecei a cantar profissionalmente quando eu tinha 18 anos.
A: Recentemente você colocou um vídeo cantando ‘Great Gig In The Sky’. Você fez uma turnê com o Pink Floyd na reunião do grupo em 1987 (turnê “A Momentary Lapse of Reason”), certo? Como foi essa experiência?

 

Roberta: Sim, coloquei “Great Gig” no meu canal do YouTube para todos os meus fãs que me mostraram muito amor e apoio ao longo dos anos. Era apenas a minha maneira de dizer: “Obrigada”. Trabalhar com o Pink Floyd foi o meu primeiro show “de verdade” e, facilmente, a experiência mais incrível da minha vida. Foi absolutamente uma mudança de vida, já que praticamente foi o começo da minha carreira. Na época, eu realmente não tinha muitos shows como parâmetro, mas em uma turnê desse calibre nada é menos que glamour. Na época, David Gilmour já tinha duas cantoras de apoio na turnê, mas ele queria mais algumas damas no palco, porque estava prestes a filmar alguns shows ao vivo. Lorelei McBroom, uma amiga minha, me apresentou a Nile Rogers, que era amigo de David. Nile já havia acertado com as irmãs McBroom (Lorelei e Durga), duas cantoras com quem trabalhava no estúdio e achava que eu seria o complemento perfeito para formar um trio, já que nós três tivemos uma combinação incrível. Antes de me dar conta, eu me vi em um avião indo para Atlanta, apresentando-me no palco com o Pink Floyd, filmando a turnê “Momentary Lapse”, com limusines, hotéis de 5 estrelas, sushi e champanhe!

Entrevista com a cantora Roberta Freeman, ex-backing vocal do Guns N' Roses – Ambrosia
Na turnê A Momentary Lapse of Reason do Pink Floyd

A: Cinco anos depois você se juntou ao Guns N ‘Roses, quando eles eram a maior banda da Terra. Como você entrou no grupo e qual foi o primeiro contato feito com eles?

Roberta: Apenas quatro anos depois, eu estava cantando com o Cinderella na turnê “Heartbreak Station”, que estava em vias de terminar, quando Fred Curry, o baterista (que era amigo de Slash), ouviu que Axl Rose queria backing vocals para a turnê “Use Your Illusion”. Fred sugeriu o meu nome e foi praticamente isso. Acho que tive uma ou duas conversas telefônicas com o Slash. Uma vez que não havia vocais de fundo propriamente ditos nas gravações (excluindo algumas pessoas aqui e ali), Axl me fez organizar todos os backings. E como Axl não estava em nenhum dos ensaios, ele realmente não ouviu nenhum dos meus arranjos até uma hora antes do primeiro show que fiz com eles! Isso foi um pouco angustiante, mas ele adorou tudo o que fiz, então ficou tudo bem no final.

A: Quando você percebeu que fazia parte de algo tão grande?

Roberta: Não sei, quero dizer, abriu muitas oportunidades para mim, porque de repente eu estava dividindo o palco com grandes artistas como Elton John. Mas quando você está nisso, isso começa a virar a norma. Quero dizer, sim, eu cresci ouvindo essa música, mas acho que você simplesmente se acostuma com isso, sabe? Na época, o Motley Crüe estava usando backing vocals, então senti que o Gn’R estava praticamente no mesmo nível que eles. Eu acho que foi quando fizemos o show Pay Per View em Paris, onde Lenny Kravitz, Steven Tyler e Joe Perry (do Aerosmith) se juntaram a nós no palco, que eu comecei a perceber que era algo grande. Então eu li em algum lugar que o Gn’R era a 2ª maior banda de arrecadação, atrás dos Rolling Stones na época. Daí eu acho que ficou bastante óbvio para mim ali.

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A: A turnê “Use Your Illusion” viajou por todo o mundo. Tenho certeza de que foi uma grande experiência para você. Você pode me contar algumas das suas lembranças desse período?

Roberta: Não só tenho muitas lembranças incríveis de tocar para um público monstro, como aquele no Estádio de Wembley no Tributo a Freddie Mercury, e tocar no VMA da MTV com Elton John, mas também tenho muitas lembranças de algumas das coisas legais que fizemos e vimos como turistas. Eu amei mergulhar na Grande Barreira de Corais, mas fiquei tão queimada de sol que a minha bunda ficou descascada em círculos, porque eu me recusei a usar uma roupa de mergulho. Nunca vou esquecer isso!

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A bordo do avião do Guns durante a Use Your Illusion Tour (ao fundo)

A: Você certamente sabe que o Guns está de volta com os três principais membros originais (incluindo o tecladista de apoio Dizzy Reed que permaneceu no grupo todos esses anos) excursionando pelo mundo. Eles vieram para o Brasil no ano passado e voltarão em setembro. Você viu algum show dessa turnê?

Roberta: Não, ainda não, mas pretendo pegar um show eventualmente. Uma pena eles não levarem a mim e a Tracy desta vez!

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A: Em alguns vídeos do You Tube (nesses registros de telefones celulares) de “Knockin’ on the heaven’s door” ao vivo dessa nova turnê, muitas pessoas perguntam nos comentários: “Onde estão Tracey e Roberta?” (em dado momento da música, Axl puxava o coro da plateia anunciando ‘temos Tracey e Roberta para nos ajudar’). Sem dúvida, isso significa que você definitivamente faz parte das lembranças dos fãs do Guns. O que você acha disso?

Roberta: Claro que fico super lisonjeada que os fãs do Gn’R nos abraçaram com tanto carinho. Você sabe, nem sempre nós fomos recebidas com os braços abertos. Especialmente no início. Começamos como um experimento, suponho, e alguns dos fãs (especialmente meninas) não foram muito receptivos no início. Mas depois de um tempo, o que começou como uma escolha incomum para uma banda com um som tão bruto acabou por ser a parte favorita do show para alguns fãs do Gn’R e acho isso incrível!

A: A “Use Your Illusion Tour” teve uma perna sul-americana, e a banda tocou no Brasil. Que memórias você tem (além da chuva durante o show em São Paulo)?

Roberta: Os fãs acampando na porta do hotel e cantando para nós! Isso foi muito legal. O público sul-americano foi um dos mais entusiasmados para os quais tocamos.

A: Qual concerto você considera o melhor da turnê?

Roberta: Como você mencionou, o show que fizemos em São Paulo foi extremamente dramático e emocional. Quero dizer, o momento do aguaceiro durante “November Rain” não poderia ser mais perfeito!

A: Você também tem Lou Reed em seu currículo. Como foi trabalhar com ele?

Roberta: Ele foi incrível! Esse show aconteceu puramente por acaso também! Eu estava ensaiando com Nile Rodgers e o Chic para um show beneficente de Paul Simon para The Children’s Health Fund (CHF), e o Lou Reed estava ensaiando para o mesmo show. Deborah Harry e Grace Jones estavam programadas para cantar como apoio para ele, mas não se apresentaram para o ensaio. Então ele perguntou a mim e à Lorelei McBroom, que estava cantando comigo na banda de Niles, se nós aceitávamos. Ele gostou tanto de nossa sonoridade que ele disse algo como “Eu quero que vocês duas façam o show comigo … mesmo que Grace e Debbie apareçam. Eu vou ter quatro backing vocals em vez de duas”. Foi exatamente o que acabamos fazendo na noite seguinte no Madison Square Garden, que foi meu local de sonho de infância sendo um nova-iorquina nativa e tudo. Eu acabei cantando com Nile, Lou, Deborah e Grace naquela noite, que foi uma experiência incrível. E então eu cantei com ele novamente com Lorelei no Grammy Awards. Cantar com Lou foi maravilhoso.

A: Esta pergunta é uma curiosidade: você viu o documentário (brilhante) sobre backing vocals “A Um Passo do Estrelato”?

Roberta: Sim, claro! Era como assistir minha história na tela. Foi maravilhoso ver-nos vocalistas de apoio obtendo algum crédito … finalmente! Especialmente Lisa Fischer, que é uma pessoa tão talentosa e doce.

A: O que você está ouvindo mais frequentemente agora?

Roberta: Acabei de adicionar alguns artistas menos conhecidos como Eric McFadden e Lhasa De Sela à minha lista de reprodução. Eu também amo Sia, ela é uma compositora incrível. E não posso ficar muito tempo sem ouvir os artistas que cresci ouvindo, como Billy Holiday, Coltrane, Pink Floyd e Stevie Wonder.

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A: E o que você está fazendo agora?

Roberta: Eu acabei de trabalhar em um CD com Marcella Detroit, que anteriormente era membro do Shakespeare’s Sister, Laurence Juber, que foi guitarrista de Paul McCartney por muitos anos, e sua esposa, Hope Juber. É o que você pode chamar de uma coleção de músicas de protesto originais contra a administração do Trump. Há muitos americanos chateados, feridos e irritados que estão muito frustrados com o clima político agora. Então pensamos que era nossa responsabilidade como artistas dar uma voz a essas pessoas. Ele contém pontos de vista fortes com um bom senso de humor e foi muito divertido de gravar. Procure os vídeos Nasty Housewives e “ReSister”, o nosso CD que em breve será lançado on-line!

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Eu também tenho trabalhado com o artista talentoso e inovador Nick Waterhouse. Eu cantei em seus dois últimos álbuns e recentemente me apresentei em Nova York com ele. E na TV, acabei de tocar com o The Pretty Reckless no show de Conan (O’Brien). Eu me considero muito afortunada de viver em um lugar onde há tantos músicos talentosos. Estou planejando continuar a colaborar com o máximo que puder e simplesmente ver aonde isso me conduz.

Website: robertafreeman.com

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