A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula K. Le Guin

a mão esquerda da escuridãoO tempo é o futuro, o povo é evoluído. Ainda há reis, ou rainhas, não se sabe dizer o certo, pois homens e mulheres são iguais. Lá é frio, muito frio. Por isso, é conhecido como Inverno. Mas essa não é uma Terra do futuro, com seus efeitos climáticos catastróficos resultando numa nova Era Glacial. Esse é Gethen, um planeta muito distante, e que há dois anos abriga Genly Ai, um terráqueo a serviço do Ekumen. Sua missão é convencer Gethen a se juntar ao grupo de mais de 80 planetas que visa a troca comercial e cultural entre seus habitantes.

A Mão Esquerda da Escuridão, da americana Ursula K. Le Guin, não é só mais uma ficção científica. Diferente da maioria, aqui o terráqueo é o alienígena, e os seres extraterrestres são tão humanos quanto nós. Publicado no ano passado pela Editora Aleph, o livro apresenta um mundo onde não há diferenças entre seus seres, que vivem na calma exigida pelo clima frio. Nós, humanos da Terra, aprendemos com outros povos a ser telepatas, e eles, Humanos de Inverno, são videntes, particularidades presentes no enredo. Avanço cultural, tecnologia e mundo oculto se misturam formando uma história única.

O ponto mais interessante no livro é a abordagem da sexualidade. Os gethenianos são andrógenos, nem homens nem mulheres. Possuem um período de “cio”, com duração semelhante à menstruação, denominado kemmer, onde adquirem aspecto feminino ou masculino. Essa peculiaridade possibilita a eles serem tanto mães quanto pais, pois nunca se sabe qual gênero será adotado no kemmer. Para um livro de 1969, mostrar essa igualdade entre os seres era uma grande crítica à sociedade onde o sexo determinava, e ainda determina, a vida das pessoas.

A adaptação a um lugar totalmente estranho é constantemente abordado na trama de Ursula. Genly Ai e Estraven, as principais personagens, são capazes de enfrentar as mudanças de curso às quais são impostos. E esse é certamente um ponto de extrema importância para o decorrer da história. Utilizando diversos narradores, a autora apresenta o planeta Gethen aos humanos, explica suas lendas e características, adaptando o leitor ao enredo. Além de mostrar o estranhamento de Genly acerca de uma cultura particular nunca vista antes, ela também fala do mesmo sentimento por parte dos gethenianos em relação a ele. Não é um livro onde apenas uma opinião é levada em conta.

Narrado de forma envolvente, A Mão Esquerda da Escuridão prende o leitor por mostrar de forma tão realista um modo de vida diferente do nosso que certamente funcionaria bem na Terra. Com detalhes impressionantes sobre a geografia e os costumes de seu planeta inventado, Ursula monta uma história precisa, onde a evolução das relações entre os humanos e alienígenas se junta a uma paisagem que remete aos tempos medievais. Um livro que mostra como a mudança de costumes não altera relações fundamentais para a sobrevivência, mas as melhoram.

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Comentários 3
  1. A adaptação a lugares totalmente estranhos, a politização e a crítica social são temas recorrentes nas obras da Ursula.
    Recomendo da mesma autora “Os Despossuídos”.
    Alguém sabe dizer se algum dos seus livros já virou filme?

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