Em "Boa Noite", Pam Gonçalves surpreende ao falar de machismo e estupro para jovens – Ambrosia

Em “Boa Noite”, Pam Gonçalves surpreende ao falar de machismo e estupro para jovens

Bem, não sou muito de ler o que está saindo destes youtubers, creio que seguem uma linha mais de vendas, do que de qualidade. Entretanto, como já escrevo há um certo tempo e vi surgir vários blogs surgirem, fiquei curioso em relação ao que a Pam Gonçalves escreveria em seu livro de estreia.

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A Pam é uma jovem booktuber, idealizadora do Garota it, um dos primeiros blogs literários do Brasil. O blog virou um canal no YouTube com quase 200 mil assinantes, um público selecionado, pois, é possível notar pelos comentários que se trata de uma audiência bem participativa e crítica. Pois bem, o contato com as editoras, em especial com a Record, no seu segmento jovem, a Galera Record, encaminhou-a para a participação com um conto na antologia “O amor nos tempos de #likes”. Nessa coletânea, Pam bebe na fonte de Jane Austen e seu “Orgulho e preconceito” para narrar as desventuras de Liz, uma youtuber famosíssima que se recusa a viver sob regras antiquadas – do tipo “precisa arrumar um bom partido para casar”, como diz a mãe. Mas que também acaba, sempre na defensiva, se fechando para o amor.

Com um estilo mais adulto, Pam Gonçalves apresenta à “galera” um olhar coloquial sobre obras clássicas e literatura para maiores de 18 anos, mas também traz as discussões e seus comentários sobre os teenbooks. Pois bem, ela lançou neste ano, seu primeiro romance, Boa Noite, uma trama romântica, descontraída e juvenil, mas trata também de assuntos sérios como assédio e abuso sexual. Reconheço que não tinha muita expectativa, pela sinopse apresentada:

Alina quer deixar seu passado para trás. Boa aluna, boa filha, boa menina. Não que tudo isso seja ruim, mas também não faz dela a mais popular da escola. Agora, na universidade, ela quer finalmente ser legal, pertencer, começar de novo. O curso de Engenharia da Computação – em uma turma repleta de garotos que não acreditam que mulheres podem entender de números -, a vida em uma república e novos amigos parecem oferecer tudo que Alina quer. Ela só não contava que os desafios estariam muito além da sua vida social. Quando Alina decide deixar de vez o rótulo de nerd esquisitona para trás, tudo se complica. Além de festas, bebida e azaração, uma página de fofocas é criada na internet, e mensagens sobre abusos e drogas começam a pipocar. Alina não tinha como prever que seria tragada para o meio de tudo aquilo nem que teria a chance de fazer alguma diferença. De uma hora para outra, parece que o que ela mais quer é voltar para casa

Mas fui surpreendido pela maneira fluida de repassar as lições e significados dos temas levantados pela autora. A personagem lembrou muito dos momentos vividos por um nerd que queria seguir o que a maioria queria fazer lá pela metade dos anos 1990. Sai de sua normalidade e me identifiquei com o que foi narrado para Alina de se reinventar, de pertencer a um grupo, de se sentir “legal” pela primeira vez. Porém há um custo pelas escolhas e Pam consegue repassar as primeiras decepções nesse contexto de uma maneira bem gostosa de se ler. Enquanto constrói uma clássica história sobre as dores do crescimento e a perda da inocência, Pam aproveita para refletir sobre temas importantes e absolutamente contemporâneos, como cultura do estupro, machismo e bullying na internet.

Boa noite é uma obra de uma contemporaneidade incrível, dosa bem os problemas da faculdade para os jovens, em especial para as meninas, inserindo romance e drama, e ao mesmo tempo comédia e suspense. Reflexiva, pois trabalha diversos tabus e de uma forma tocante, sem exacerbações, abertas e tocantes, levando a reflexão sobre uma realidade que está sendo banalizada.

O livro de maneira geral está bem desenvolvido, surpreende pela história que apresenta várias formas de preconceito, como no caso do abuso e machismo e o pensamento de muitos estudantes que saem do Ensino Médio e entram no Nível Superior para quebrar seus paradigmas e mudam suas perspectivas com as decepções. Parabéns, Pam, pelo texto que diverte e reflete. Aguardo os seus próximos escritos.

Ps. Há bastante referências contemporâneas e nerds, que enriquecem muito a leitura.

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