“Luzes fortes, delírios urbanos” trafega numa linha poética livre iluminando a cidade

"Luzes fortes, delírios urbanos" trafega numa linha poética livre iluminando a cidade – Ambrosia

Há um movimento de todo flaneur que se desloca pela urbe com intenções por demais estéticas. Se toda semiologia está fincada na emissão e recepção de algum tipo de conteúdo, e que desde os movimentos subterrâneos tanto alguém que ande pelas vias do esgoto com sua prevalente metáfora de uma organização clandestina que percorra as vias da cidade pelos caminhos do subsolo, atravessar a cidade sempre foi um exercício de portes ou suportes epistemológicos. Para muitos a cidade é indistinta e não há cores nem tintas à colori-la. Mas há quem faça um percurso onde as imagens podem ser figuradas em emblemas além dos intermináveis problemas que urbe-urge declama.

No livro de poemas Luzes fortes, delírios urbanos do poeta Arthur Bugelli, pela Editora Patuá, temos uma estrutura de escrita do poema por vias vicinais que cortam a própria estética ou estrutura semântica do poema na página. A metrificação não obedece às estrofes. Ela é fluida como uma rodovia num dia de domingo, onde o curso das palavras obedece ao livre trânsito do pensamento, como um bom free-jazz. Talvez por ser tão alusiva nos seus encaixes e nas faixas de pedestres, o leitor se vê livre e solto para ser uma peça (c)ambiente desta estrada-enredo. Não há sinalizações, tudo é fluido nas passagens das vias, o leitor se sente parte desta passagem por ele mesmo ser um personagem  que cada poema vão sinalizando em proto enredos cinematográficos.

Por que o leitor neste livro não passa de um detetive sem crime. Na verdade talvez haja manchas que estão encobertas pelos excessivos signos que a urbe possui ao pedestre atravessá-la de ponta à ponta. Como uma tela de pintura onde tons e pistons vão se matizando pelas camadas de sons que um bom jazz é capaz de sobrepor ao estilo de significar para o ouvinte/leitor.

A estrutura do poeta nos remete ao livro do Paul Auster Trilogia de Nova York, em que, através de uma metafórica escrita detetivesca, o narrador fala ou rascunha o próprio labor do flauner numa cidade onde antes de percurso é um emaranhado de signos, como  cartazes, outdoor, letreiros. Como? Transformar o exercício da caminhada que é um mote fisiológico em um item relacional, pois quem anda se relaciona com o entorno. Esta estrutura de andança tem muito de um leve teor ou teoria sobre o papel da música na cidade ou na literatura/poesia, ambas são osmóticas e transmitidas por contato.

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