Em tempos de “Stranger Things” e “Paper Girls”, ou mesmo “It, a coisa”, o significado da amizade e da lealdade ganha expressão, mesmo que seja ao redor de um evento terrível que une mais ainda os grupos. Indo além dos eventos de tensão e medo, o valor da amizade é igual em todos os tempos e a literatura tem mostrado diversas histórias que envolvem o tema, como “O menino do pijama listrado”, de John Boyle, “Os quatro amores”, de C.S.Lewis, “Longe é um lugar que não existe”, de Richard Bach ou “Meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos entre outros. Todas trazem o tema da amizade com sutileza e delicadeza e, de uma maneira sincera, narram as histórias de um alemão e um judeu num campo de concentração, de um convite de um garotinho que inicia uma jornada para uma festa de aniversário e de Zezé e sua insólita amiga.
O livro da Faro Editorial, “O garoto quase atropelado”, traz muito dessa sutileza, mas avança no cotidiano dos dias de hoje. Veja a sinopse abaixo:
Um garoto sofreu com um acontecimento terrível. Para não enlouquecer, ele começa a escrever um diário que o inspira a recomeçar, a fazer algo novo a cada dia.O que não imaginou foi que agindo assim ele se abriria para conhecer pessoas muito diferentes: a cabelo de raposa, o James Dean não-tão-bonito e a menina de cabelo roxo, e que sua vida mudaria para sempre! Prepare-se para se sentir quase atropelado de uma forma intensa, seja pelas fortes emoções do primeiro amor, pelas alegrias de uma nova amizade ou pelas descobertas que só acontecem nos momentos-limite de nossas vidas.Estar vivo e viver são coisas absolutamente diferentes!
“O garoto quase atropelado”, escrito pelo jovem jornalista Vinícius Grossos, é uma rodovia de emoções, daquelas cheia de curvas, onde você abusa da direção e do freio, ou mesmo do acelerador, mas toma cuidado com o que no caminho pode aparecer, para não atropelar. Não detalharei muito da narrativa, pois é necessário sentir em cada virar de página o sentimento utilizado pelo autor. Em suma, é a história de um garoto que passa por diversos problemas que começa a escrever em um diário como um escape, mas não esperava ser quase atropelado por um tipo que entraria na sua vida para mostrar a diferença abordada na sinopse, logo acima.
Simples, entretanto os sentimentos que o autor expressa (Saint-Exupéry que o diga) são bem profundos. Em especial, por apresentar um garoto cuja mentalidade está a frente de sua idade e a construção que o autor faz coloca os momentos de crise, de amor, de ódio, de afinidade, da ignorância, etc, próximos ao leitor. As transformações que ocorrem após o quase atropelamento dá ao garoto e ao leitor uma maneira de enxergar os detalhes da vida.
O quase-atropelado e o quase-atropelador se juntam e mostram situações difíceis com reviravoltas comuns ante o abuso, a homofobia, o racismo etc, para causar a reflexão dos limites em viver nos dias atuais. Os personagens são construídos como se fossem encontros com pessoas comuns, mas que trazem dentro de si a premissa de compartilhar sentimentos e emoções aos leitores.