Quatro perguntas para a escritora Alê Motta

Alê Motta nasceu em São Fidélis, interior do estado do Rio de Janeiro. É arquiteta formada pela UFRJ. Participou da antologia 14 novos autores brasileiros, organizada pela escritora Adriana Lisboa. Interrompidos (Reformatório, 2017) é seu livro de estreia. Fizemos quatro perguntas à escritora. Confira abaixo:

1-) Como foi seu processo de escrita/criação deste seu livro “Interrompidos” na oficina que você fez da Adriana Lisboa?

No INTERROMPIDOS tenho quarenta e um textos curtos. Dez foram escritos durante a oficina da Adriana. Eu nunca tinha feito oficina literária. Nossos encontros eram quinzenais, por Hangout. Nos desafios propostos meu livro foi surgindo. Quando a oficina terminou eu segui escrevendo. Escrevi os trinta e um textos que completam o livro e outros mais.

Depois de alguns meses fiz a Toca – na Estação das Letras – com Marcelino Freire. Na Toca decidi título, selecionei os textos. Concluí que seria interessante usar minhas fotos – o INTERROMPIDOS tem quatorze fotos P&B, tiradas em lugares e períodos diferentes. Na oficina da Adriana fui desafiada a começar. Na do Marcelino o desafio foi completar o projeto.

2-) Seu aspecto fabular é impressionante! Parece-me que você usa a fábula em todos os aspectos, de tamanho à forma, e os subverte criando ou remodelando um tipo de moral que seria aquela das fábulas antigas do Esopo para um outro tipo muito mais sutil e atual (subtexto), contendo ou não uma moral. Fale sobre isso.

Minha intenção é contar muito, escrevendo pouco. Não pretendo explicar tudo para o leitor. Não vejo graça nisso. Quero que o texto traga curiosidade, desejo de seguir a leitura, vontade de reler. Acho que as melhores leituras são as que nos tiram das zonas de conforto que criamos. São as que nos fazem refletir, questionar.

3-) O último parágrafo há sempre uma reversão de expectativa. Como era esta escrita sugestiva para cada final que você criava nos contos?

Quatro perguntas para a escritora Alê Motta – AmbrosiaSomente depois de escrever alguns textos eu notei que fazia isso. A Adriana inclusive brincava com essa questão na oficina – eram as surpresas da Alê. No INTERROMPIDOS eu quero surpreender o leitor. Eu amo ler – um conto, um romance – e ser surpreendida. Não gosto das histórias perfeitas e óbvias. A vida não é óbvia, penso que a escrita também não deve ser. Gosto do humor negro, da acidez. Tento dar as dicas – acho que posso dizer desse modo – e o leitor vai decifrando.

4-) A linguagem quase jornalística, objetiva, aliada a um tratamento conciso da linguagem, permite a você modular o tom de cada conto? São muito singulares cada conto escrito, e o desfecho é quase um trabalho à parte. Como você foi dilapidando este tom?

Quando escrevo não tenho um planejamento total do que virá. Na maioria das vezes nem sei o que vou escrever. A estória vai acontecendo. O que posso afirmar é que escrevo um texto e guardo. Depois de um tempo volto a ele. Ajusto uma coisa e outra. Corto, acrescento. Faço versões diferentes. Passa mais um tempo. Faço uma nova visita. Esse vai-e-vem ao texto só tem fim quando sinto que ele ficou pronto. Isso aconteceu em todos os textos do INTERROMPIDOS e acontece no projeto novo que estou iniciando.

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