Crítica: Novo trabalho de Perfume Genius é uma grata surpresa

“Too Bright” (Matador/Turnstile, 2014) é o terceiro trabalho de estúdio de Perfume Genius. O pseudônimo do natural de Seattle Mike Hadreas surgiu quando se mudou de Nova York para a casa de sua mãe em Everett, Washington. Nessa época passou a compor compulsivamente no piano e colocou seus vídeos no Myspace em 2008. Ele atraiu a atenção da banda Los Campesinos, que o ajudaram a conseguir um contrato com um selo.

No novo trabalho, o artista enfileira 11 canções inspiradíssimas, que requerem uma audição aprofundada. A música de Perfume Genius não pode servir apenas de pano de fundo. As influências mais claras são Antony and the Johnsons e Xiu Xiu, mas é possível identificar ecos de David Bowie da fase Berlim e do Technopop dos anos 80. O álbum abre com a bela “I Decline” com um belo arranjo de piano como base. Em seguida vem o single “Queen”, sem dúvida um dos melhores do último ano. Um eficiente “glam rock futurista”. A terceira faixa tem uma bossa oitentista, amparada por sintetizadores.

“No Good” é a que melhor explora a capacidade vocal do artista, e vem amparada por uma base de piano com auxílio de coral nos backing vocals. A intrigante “Grid” é um outro momento brilhantes do disco, onde o artista abusa dos efeitos. “Longpig” e “I’m a Mother” compõem os momentos de maior densidade. O tom do disco (assim como da carreira de Perfume Genius como um todo) é de drama e catarse. A temática (homo)sexual também se faz presente, e pode ser sentida, por exemplo na faixa “The Fool” na qual ele versa sôfrego “I made your dress/I’m bleeding out/On the couch you bought/That I picked out”.

Na arrasa-corações “Don’t Let Them In” tem seu verso “In an alternate ribbon of time/My dances were sacred/And my lisp was evidence that I spoke for both spirits” (“Em uma linha temporal alternativa / Minhas danças eram sagrados / E a minha língua presa era prova de que eu falei para ambos os espíritos”) cantado com uma crueza eloquente que gera cumplicidade imediata. Alguns podem fazer ressalvas à comiseração de Hadreas (principalmente os que costumam espinafrar Morrissey), outros irão se deleitar com sua poética que dialoga com Marc Bolan e Oscar Wilde além dos rompantes funkeados que se apresentam em alguns momentos acrescentando um tempero especial.

 

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