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Demolidor 45 Anos: O Diabo da Guarda e Marvel Knights

O fim da década de 1990 foi marcada por uma geração de buzz incrível com a chegada do novo milênio e isso se refletiu muito na cultura pop. Os quadrinhos, claro, não escaparam dessa influência, que foi se tornar extremamente marcante após os eventos de 11 de setembro de 2001, quando os heróis passaram a ficar mais sérios e desconfiados e o inimigo passou a estar dentro de suas próprias sociedades. Exatos 3 anos antes desses eventos um certo Joe Quesada, junto de seu amigo Jimmy Palmiotti, dava início a uma nova era dentro da Marvel Comics: a criação do selo Marvel Knights para histórias dentro do universo da editora que tivessem uma abordagem mais séria e realista, sem pender demais para o estilo Max.

Curiosamente o primeiro personagem a passar por essa grande mudança seria o Demolidor, na época sem uma revista mensal e sem um lugar definido dentro da editora. Com Quesada à bordo como artista a editora convocou o übernerd Kevin Smith para ser o roteirista das primeiras histórias deste selo, conseguindo chamar a atenção da mídia fora do nicho das histórias dos quadrinhos e teve hype o suficiente para conseguir altas vendas logo nos primeiros números. Smith foi seguido por David Mack, que virou roteirista e desenhista da revista, também conseguindo ser muito elogiado por crítica e fãs. A temática passou a ser crimes reais dentro da cidade de Nova York, uma exploração melhor, mais moderna e mais consistente do lado religioso do herói e a ironia do Diabo ser um grande crente Cristão – pegando o que foi feito por Ann Nocenti anos atrás e elevando a um nível muito mais alto – além de fazê-lo exercer sua profissão de advogado com muito mais validade para os leitores mais adultos visados por este planejamento editorial.

Para exemplificar a grande revigorada que foi esta fase vamos falar do primeiro arco de Smith/Quesada conhecido como O Diabo da Guarda, já publicado no Brasil pela editora Abril em Grande Heróis Marvel Premium e recentemente reunida pela Panini num encadernado de mesmo nome e logo em seguida comentaremos Partes do Todo de David Mack, o primeiro arco dele e que também veio seguido deste anterior.

O Diabo da Guarda
(Daredevil v2 #1-#8)

Publicada originalmente em oito partes lá fora, a história já foi colecionada em edições especiais até com prefácios de Ben Afleck, o polêmico ator que interpretou o herói no filme homônimo de 2003. Na história vemos Matt Murdock lidar com uma criança que simboliza tanto o Messias como o próprio Anti-Cristo.

O amor da vida do herói, Karen Page, partiu e o deixou para sempre, fazendo com que o Homem sem Medo fique vulnerável. A única coisa deixada a ele é sua própria fé católica, algo que ele não dava atenção há muitos anos. Entretanto, quando uma garota de 15 anos que sabe sua identidade deixa com ele seu bebê alegando que Matt havia sido escolhido por Deus para cuidar desta criança, o Demolidor repentinamente se confronta com um desafio que será o maior teste de seus poderes, sua fé, seu coração e sua sanidade. Ao tentar descobrir mais sobre a origem da criança ele acaba tendo contato com um homem chamado Nicholas Macabres, que alega que a criança é, na verdade, o Anti-Cristo. Macabres dá uma cruz para Matt.

Matt se aprofunda mais e mais neste mistério deixando a criança sob os cuidados de sua amiga e ex-namorada Viúva Negra e sendo visitado pela própria Karen que revela a ele ter contraído o vírus da AIDS do tempo em que era uma atriz pornô, exatamente ao mesmo tempo em que seu grande amigo Foggy Nelson é acusado de ter matado sua ex-esposa. Brevemente convencido de que a criança é que Nicholas afirma ser o herói ataca a Viúva e quase deixa a criança para morrer numa estrada mas muda de ideia no último minuto.

Querendo reunir-se novamente com sua fé e precisando de conselhos para situação tão difícil como esta Matt se encontra sua mãe a irmã Maggie (que o deixou com seu pai anos atrás e virou uma freira) e depois tem uma conversa breve com Karen que havia sido contatada por Macabres, que alega que a criança é responsável por ela estar com o vírus da AIDS. O Demolidor então parte para conversar com o Doutor Estranho e perguntar sobre estes eventos e a criança, apenas para que o mago descobrisse que a cruz que ele havia recebido estava infectada com algo mágico e maligno. Invocando Mefisto para obter informações, Demolidor e Estranho descobrem que, de fato, Cristo não está de volta e a igreja em que a criança estava está sob ataque. O herói chega a tempo de se confrontar com o Mercenário, seu grande inimigo, responsável pela morte de várias freiras e por quase ter matado sua mãe, mas não consegue impedir que ele mate Karen e sequestre a criança.

Com todo este plot, e um final surpreendente depois de tantos acontecimentos, a história não só entrou para o hall das melhores já feitas pela Marvel como também foi o pontapé inicial para uma nova era que viria ser vista na editora, não só sob o selo “Knights” mas de uma forma geral de tratar os super-heróis. O que ninguém esperava é que, após uma narrativa tão boa, a revista do Demolidor fosse continuar no mesmo nível – ou até melhor!

Partes do Todo
(Daredevil v2 #9-#15)

Quando se esperava que dificilmente alguém poderia superar um arco de oito partes por Kevin Smith, David Mack não apenas surpreende pela altíssima qualidade mas também pelo conteúdo metalinguístico e narrativa peculiar muito focada em artes diferenciadas para mostrar o presente, passado e pensamentos de cada personagem de uma forma nunca vista antes numa página de hq. Neste arco Mack e Quesada mostram a dor psicológica de Matt lidando com a falta que Karen Page faz e aproveitam para introduzir uma nova personagem feminina hoje muito conhecida dos fãs: Maya Lopez, ou simplesmente Eco. Surda, Maya é tratada como um lado diferente e muito especial de um defeito genético – se Matt tem seu sentido de radar (mesmo que não tenha nascido com isso a analogia é bem clara e válida), Maya tem os outros sentidos todos muito aguçados, principalmente sua visão, permitindo-lhe aprender a falar e a ouvir apenas pela leitura labial, além de aprender passos de dança, teatro, linguagem corporal e golpes de grandes lutadores.

Perfeita, ela é contatada pelo Rei do Crime, que ainda buscava sua ascensão, para substituir Karen no coração de Matt e utilizar esta fraqueza para derrubar seu principal inimigo. O maior mérito de Mack, além de sua grande qualidade e criatividade no trabalho, foi ter mostrado um Demolidor que não nega nenhum caminho tomado com suas origens mas também revigora e dá novo sangue a este personagem. E mais: ele foi o responsável pela chegada de um certo escritor independente e underground na Marvel que, hoje, é tido como o maior nome criativo da editora. Brian Michael Bendis não tinha tido a chance de trabalhar com tal liberdade numa editora mainstream ainda e fez um arco para o Demolidor em meio ao trabalho do amigo que se tornaria a pedra angular da maior fase que o herói já teve até os dias de hoje.

Em nosso próximo artigo vamos falar da grande fase de Brian Bendis e Alex Maleev com a grande revolução que eles propuseram para o herói definindo-o, muito provavelmente, para sempre.

[conclui na semana que vem]

[Parte 1: O Começo de Tudo] [Parte 2: A Justiça é Cega, mas tem cores fortes!] [Parte 3: Demolidor Amarelo] [Parte 4: Chega Frank Miller] [Parte 5: Sai Frank Miller, volta Frank Miller] [Parte 6: Le Diable à la Vertigo] [Parte 7: O Homem sem Medo de Miller e Romita Jr.] [Parte 8: Chichester e a decadência]

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Comentários 7
  1. Diabo da Guarda é sensacional. Todos os acontecimentos espetaculares relacionados à religião culminando na revelação final do vilão deveras inesperado foi brilhante. O texto de Smith está muito bem escrito, para mim, o melhor quadrinho feito pelo autor.

    Ainda não li "Partes do Todo". Vou procurar o quanto antes.

  2. Opa eu também reli Diabo da Guarda recentemente, graças ao encadernado da Panini, e também vou opinar 😀

    Apesar da série ser muito boa, principalmente comparando com outras porcarias que saiam na época na mesma Marvel, acho que ela hoje em dia é muito valorizada. A história é muito boa e possui ótimas reviravoltas, mas não chega perto do que o Frank Miller já havia feito com o personagem e com o que Bendis faria depois. Mas o que realmente não me agrada são os desenhos do Quesada, é algo muito ruim, mesmo com o texto do Kevin Smith.

    Antes que atirem pedras em mim, quero dizer que eu realmente gostei da saga, mas que não acho que seja uma das melhores coisas escritas na Marvel como tantos dizem. Abs

  3. A pergunta É: Vão encadernar essa magistral fase do Demolidor aos cuidados de Brian Bendis e do Alex Maalev? pois já sairam tantos encadernados meia boca ou realmente ruins de doer e ainda não falaram nada a respeito de republicar dessa fase que foi a melhor do Demolidor pós-Frank Miller, sem a menor sombra de dúvida! As coisas que o Kevin Smith fez no título do Demolidor nem se comparam ao trabalho dessa dupla acima citada

  4. Pensei que era só eu que achava os desenhos da Orca Quesadaruins de doer, parece cartoons, ele tem que desenhar é o pernalonga, o gaguinho e assim por diante, para o Diabinho ele não serve, desenhista para o Demolidor tem que ter o traço rebuscado.
    Em relação a Diabo da Guarda não acho isso tudo( talvez seja pelo desenho!!!!), mas com certeza é de longe o melhor trabalho do Smith com personagens em quadrinhos.

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