Powers, mas nem tanto

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Quase na metade dos anos 2000, os nerds brasileiros estavam conhecendo um roteirista que já era um grande nome lá nos Estados Unidos: Brian Michael Bendis. Estava sendo publicado por aqui na época seu sensacional Demolidor, Homem-Aranha Ultimate, Alias (que um dia falarei sobre também nesta coluna) e, um pouco depois, sua reformulação-pop em cima dos Vingadores.

Mas no apesar desse céu de brigadeiro, sites de conteúdo, mesas de RPG e cagações de regra em geral sempre diziam: “se vocês acham o trabalham do Bendis na Marvel legal, precisam ver seu trabalho em Powers, no qual ele faz sem nenhuma censura”. Claro que isso não era só um achismo dos outros, pois já estávamos no boom da internet e blogs de scans como Rapadura Açucarada já haviam sido criados, encerrados e recriados. Mesmo assim, eu acho que na época nunca encontrei esse material em português-BR (e olha que já li cada bobagem nessa época).

Enfim, em 2005, finalmente Powers começou a ser publicado no Brasil pela Devir, que na época estava investindo forte em encadernados – naquele formato estranho mezzo formatinho mezzo formato americano – com o primeiro volume chamado “Quem Matou A Garota-Retrô?”. Como várias outras produções como Preacher, Astro City, Powers pela Devir morreu na praia e só ficou nesta edição.

Eu lembro que neste ano eu trabalhei como atendente da Devir na Bienal do livro (todo mundo tem um primeiro emprego, né? Esse foi o meu) e, por ter direito a desconto neles, um amigo pediu para comprar essa HQ. Como o bom fodido que sou, aproveitei para ler a bagaça antes de entregá-la. E o resultado… Para mim me pareceu bem ok, mas como era apenas o primeiro arco, imaginava que a história ainda evoluiria muito. Mas isso não vem ao caso, porque este artigo não é sobre um review do Bernardo de 19 anos.

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Nenhum sinal de que a HQ seria republicada por outra editora, quando, anos depois (5 para ser mais exato), a Panini decide republicar Powers em 2010. Mas diferente daqueles encadernados de capa cartonada, ou até aqueles encadernados em capa dura de 100 e tantas páginas, a editora decidiu ser… Ousada. Eles já começaram com dois pés no peito lançando a versão definitiva da série: com capa dura, as 11 primeiras edições, muitos extras inúteis em quase 500 páginas. O resultado foi uma HQ que ninguém conhecia direito custando 100 pratas (e isso era bem antes de virar algo comum e Batman e Superman também ganharem gibis que custam mais de um barão). Por causa disso, só o li muitos anos depois, após comprá-lo em uma promoção de 50% de desconto que essas lojas virtuais adoram fazer no final do ano.

E a minha impressão na época foi a mesma que agora (afinal, eu tinha que reler para poder falar dela aqui, né?): o potencial de Powers é incrível! Com uma dupla meio qualquer nota (um proposital clichê de super-herói clássico e uma garota metida a malandra, mas pouco carismática), o gibi desponta na coisa que Bendis sabe fazer melhor… Seus diálogos. Existem quadros em que dois personagens soltam mais de 4 balões de fala. Apesar de ser um tijolão, Bendis consegue fazer a história fluir. Além das sacadas de linguagem (como a dupla investigar um caso, enquanto uma reportagem está rolando embaixo que no final é assistida pelos detetives) e do universo de super-herói (como a personagem que ganhou poderes quando percebeu que era seu próprio deus) que são ótimas.

Enquanto isso, os casos nos dois arcos que os protagonistas resolvem deixam muito a desejar. São todos resolvidos de forma muito dada. Tá impossível de resolver o caso quando, pluft, o vilão aparece na cara deles. Mesmo assim, por todos os motivos que disse acima, a HQ é muito interessante e se torna uma leitura divertida (apesar dos temas sempre pesados).

Mas possivelmente – e uso aqui a palavra “possivelmente” do que “obviamente” por não ter nenhuma prova – pelo seu alto custo na época e por não ter um buzz no Brasil, Powers também morreu na primeira edição da Panini (quer dizer, tem 5 anos desde que o volume 1 foi lançado. Um pouco difícil quererem continuar depois de tanto tempo, né?).

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E a situação talvez melhorasse quando começaram a desenvolver o piloto da série de TV de Powers. Pois, hoje até a minha mãe acompanha Walking Dead e ainda me solta spoiler se eu ficar de bobeira. Tinha tudo para ser outra série originária dos quadrinhos que vingasse… Mas foi mais ou menos, né? O piloto foi dispensado por todo canal de TV americano e acabou indo parar no sistema pago da PSN – que nunca teve uma série exclusiva antes. E apesar de ninguém estar vendo, a série até conseguiu renovar para a segunda temporada.

A história na série começa muito diferente da HQ. É uma versão piorada e mais noveleira da trama, que foca em muita cena forçada e não trabalha no desapego de como é difícil fazer esse argumento ser levado a sério. Como o os diálogos do Bendis fizeram falta, larguei a série no terceiro episódio e, sinceramente, não estou com a menor curiosidade de saber como termina a série.

https://www.youtube.com/watch?v=vujMhtJogL4

Mas não é isso que sinto pelo seus quadrinhos que o originaram. Como não é lançado mensalmente, Powers ainda é publicado até hoje nos EUA, com arcos esporádicos. Por isso, que a Panini leia o pedido deste redator e volte com Powers – seja neste formato desnecessariamente luxuoso ou de forma mais simples. Afinal, precisamos saber se essa HQ é realmente essa Coca-Cola toda que o mestre falava na mesa de RPG.

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