Star Trek: Há 50 anos indo aonde ninguém jamais esteve

8 de setembro de 1966 podia ter sido um dia comum. E de fato foi. Era uma sexta feira, o Brasil vivia a ditadura militar na fase pré-AI-5, a corrida espacial estava a todo vapor. E estreava na TV americana uma série de ficção científica criada por Gene Roddenberry. A série Star Trek, como muitos ícones cult da cultura pop, não foi um grande sucesso quando foi exibida. A produção se encerrou na terceira temporada justamente porque a NBC achava que o investimento não compensava tanto.

Os fanáticos, que já eram numerosos na época, fizeram sua parte mandando cartas para a produção e para a emissora, mas não teve jeito. O fenômeno se iniciou justamente depois que a atração fora cancelada. A Paramount Pictures (que adquiriu os direitos co sua junção com a Desilu Productions) esperava recuperar suas perdas na produção vendendo os direitos do programa para a sindicação. A série passou a ser reprisada em 1969, com boa audiência. No final da década de 1970, já havia sido vendida para 150 mercados americanos e 60 internacionais.

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O programa desenvolveu um seguimento cult e os rumores que a franquia iria ser reiniciada surgiram. Hoje, Star Trek conta com um universo vasto, expandido pela série animada dos anos 70, os seriados “A Nova Geração”, “Deep Space Nine”, “Voyager” e “Enterprise”, os treze filmes para o cinema (o último está em cartaz), sem contar com os inúmeros livros e RPGs. E em 2017 chega a nova série, Discovery, junto com o relançamento de todas as séries na Netflix.

O sucesso de Star Trek é atribuído ao fato de trazer personagens carismáticos e tramas imbuídas de metáforas sobre as relações humanas e a tolerância entre os povos. Com um clima de vanguarda, o seriado abordava temas delicados e ousou em mostrar o primeiro beijo inter racial da TV americana, protagonizado pela tenente Uhura e o Capitão Kirk.

Tudo começou em 1961, quando Gene Roddenberry fez um rascunho de uma série de ficção científica. A inspiração era nos faroestes, mas adaptado para o espaço, que ele chamava de “carruagem para as estrelas”. Contudo, a verdadeira inspiração estava em “As Viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift. Seu intuito era que cada episódio tivesse duas camadas: a do suspense e aventura, e a da história que transmitindo um valor moral.

Em 1964, Roddenberry fez uma proposta para a série original de Star Trek para a Desilu. O primeiro piloto, The Cage, estrelando Jeffrey Hunter como o Capitão Christopher Pike da nave estelar USS Enterprise, foi rejeitado pela emissora. Entretanto, os executivos da Desilu ficaram impressionados com o conceito e resolveram encomendar um segundo piloto, “Where No Man Has Gone Before”, que foi aprovado.

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As histórias de Star Trek normalmente mostram as aventuras de humanos e alienígenas que servem a Frota Estelar, uma armada pacífica que serve a Federação Unida dos Planetas. Os personagens são essencialmente altruístas, cujos ideais são aplicados nos dilemas apresentados na série. Os conflitos mostrados em Star Trek muitas vezes representavam uma alegoria para conflitos contemporâneos. A série original discute questões da década de 1960, assim como as conseguintes refletem as questões de suas respectivas décadas.

A temática invariavelmente gira em torno de guerra e paz, lealdade, autoritarismo, imperialismo, economia, racismo, religião, direitos humanos, sexismo, feminismo. Roddenberry queria mostra como seria se a humanidade tivesse aprendido muito com os erros do passado, mas ainda com muito o que aprender. Em paralelo temos os vulcanos, a raça de Spock, que teve um passado violento, mas alcançou o pleno controle da violência de uma forma radical: ceifando as emoções. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, é o tom da abordagem. E é inevitável vislumbrar na Federação Unida dos Planetas uma versão otimista e ideal das Nações Unidas.

LOS ANGELES - SEPTEMBER 15: Leonard Nimoy as Mr. Spock in "Star Trek: The Original Series" episode 'Amok Time'. Spock shows the Vulcan salute, usually accompanied with the words, "Live long and prosper." Original airdate, September 15, 1967. Image is a screen grab. (Photo by CBS via Getty Images)

A influência de Star Trek não se deu apenas na cultura pop. Até a tecnologia se inspirou no seriado. Pegue, por exemplo, os telefones celulares flip (aqueles pequenos que abrir e fechar), um must de 15 anos atrás  e note como lembram os comunicadores usados pelos membros da Enterprise. O tricorder que Spock usava sempre que a equipe chegava a um planeta novo também já é realidade. O dispositivo digitalizava e dava as especificações de uma área, uma varredura completa do objeto em análise. Hoje,alguns softwares médicos permitem detectar doenças do corpo humano sem sequer tocar o paciente. A NASA também testou um aparelho capaz de identificar bactérias, fungos e outras partículas em suas viagens. O nosso Google Translator nada mais é do que a concretização do tradutor universal usado pela equipe da Enterprise para entender a língua dos aliens. E muita gente ainda sonha em ter seu teletransporte. Há rumores de que cientistas já estariam fazendo testes.

Cinquenta anos se passaram e a icônica nave USS Enterprise, com seu design para lá de arrojado, ainda arregimenta novos fãs. Assim como sua tripulação composta pelo Capitão James T. Kirk (William Shatner), Spock (Leonard Nimoy), Dr. Leonard McCoy (DeForest Kelley), Montgomery Scott (James Doohan), Tenente Uhura (Nichelle Nichols), Hikaru Sulu (George Takei) e Pavel Chekov (Walter Koenig). Star Trek deixou sua contribuição para a ficção científica nos mostrando que não é absurdo sonhar com um mundo melhor, mas ao mesmo tempo nos deixando ciente de que isso demanda árduo trabalho. Na missão de cinco anos “para audaciosamente ir aonde nenhum homem jamais esteve” aprendemos muito sobre nós mesmos.

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