Extremis: Quando o Homem de Ferro se tornou realmente invencível

Extremis: Quando o Homem de Ferro se tornou realmente invencível – Ambrosia

Imagine um homem comum. A única coisa que lhe diferencia do resto da humanidade (e super-humanidade) é sua invejável inteligência, uma espécie de genialidade mórbida. Eis que diante de uma ameaça, se vê obrigado a criar seu próprio super-poder, nascido em forma de uma armadura que deveria ser capaz de matar seus inimigos, mas, paradoxalmente e concomitantemente, preservar sua própria vida. Em outras palavras: uma arma que lhe mantinha vivo. Ele a reconstrói diversas vezes, aprimorando-a com o tempo. Este era Tony Stark antes de Extremis. O que é Extremis?

Um vírus. Mas também é o nome de um arco de histórias escrito por Warren Ellis, com artes de Adi Granov, que foi publicado para inaugurar o 4º volume de The Invincible Iron Man, entre janeiro de 2005 e abril de 2006, em 6 edições. O título faz parte de um processo de repaginação gradual do universo do personagem. Com Extremis, temos o mais recente reboot. A história foi concebida com o objetivo de relançar o personagem e torná-lo novamente interessante e relevante para o Universo Marvel moderno.

Três homens estão em uma sala vazia, um deles abre uma maleta e saca uma pistola com agulhas na ponta. Outro ajoelha enquanto o terceiro Extremis: Quando o Homem de Ferro se tornou realmente invencível – Ambrosiasegura sua cabeça, e o primeiro aplica o conteúdo da pistola em seu pescoço. Alguns minutos depois vemos os cruéis efeitos colaterais. O homem infectado é trancado enquanto os outros fogem. Assim começa Extremis. No quadro seguinte somos apresentados ao novo Tony Stark, enfurnado em sua garagem, uma atitude não tão nova assim. O plot gira em torno desta nova substância desenvolvida pela Futurepharm, e que fora roubada por um de seus próprios funcionários e entregue à terroristas. O vírus é definido por Maya Hansen – uma velha conhecida de Tony – como “o soro do supersoldado original… numa única injeção”, tendo como objetivo reescrever o centro de regeneração do corpo humano, a fim de que aconteça uma espécie de update nos sentidos do usuário. Inicialmente o corpo se torna uma “ferida aberta”, mas vai gradualmente se modificando. Após o roubo da substância, o outro cientista – um deles é Maya – que a estava desenvolvendo comete suicídio. Quem a Dra Hansen chama? Tony Stark.

Ellis responde pela redefinição da dimensão de Tony Stark em uma era onde a relação impiedosa do capitalismo e guerra não são mais tão impressionantes. A dicotomia entre as personas do herói oferece ao autor incrível liberdade para redefinir a personalidade e o caráter de Tony, moldando o passado obscuro da Stark Industries a fim de que a empresa renasça com novos ideais; onde a luta pelo chamado “bem maior” transpareça verossimilhança nas atitudes do CEO. O autor utiliza a obra para recontar a origem do Homem de Ferro, adaptando certos conceitos para os tempos atuais. As mudanças tiveram grande influência sobre a trajetória do herói nos cinemas, principalmente sobre o primeiro filme – onde o grande objetivo era contar a origem do personagem. Duas situações retratam mais claramente estas mudanças morais: A primeira delas é uma entrevista para um famoso diretor de documentários que critica Tony diversas vezes sobre seu envolvimento com a fabricação de armas, insinuando que ele era o responsável por boa parte da dor e miséria do mundo de hoje. Tony responde perguntando se com aqueles documentários, ele (o entrevistador) já havia mudado alguma coisa. Ele revela não saber, Stark diz o mesmo. A segunda revela-se como uma própria assinatura de Warren Ellis na trama, e é outra conversa com um velho amigo e guru de negócios que tem adotado uma vida mais simples, menos materialista, e que incentiva Tony à questionar suas motivações, enquanto empresário e Homem de Ferro. A entrevista foi amplamente utilizada no primeiro filme como forma, muitas vezes, de sensibilizar o coração gelado de Stark, assim como estes dois exemplos funcionam nesta história. O Stark de Ellis é um homem extremamente inteligente, ambicioso e compulsivo; e emprega tais diretrizes em seu trabalho. É um inovador consumado, cujas atitudes esbanjam cinismo; mas realista, com uma singular visão do futuro. O autor lembra que apesar das intenções altruístas, Tony não ganha dinheiro governando sua empresa como uma instituição de caridade. É uma visão madura do semblante já desgastado do herói, e, ao mesmo tempo que reforça sua caracterização essencialmente econômica, desalinha esta particularidade de seu objetivo final.

A arte de Adi Granov é tão importante quanto a visão realista e inovadora de Ellis. E é exatamente isto que os desenhos mostram: realismo. Seus traços são fantásticos e concedem extrema veracidade nas formas, ambientações e, principalmente, nas expressões faciais. Os rostos aterrorizados dos personagens transmitem o verdadeiro medo de suas consciências ao leitor. Em uma história sobre o Homem de Ferro, a arte de Granov é talvez a mais cabível e exuberante, casando harmoniosamente com a nova proposta da editora. O artista inclusive ajudou na produção do primeiro filme, especificamente no design da armadura.

Extremis: Quando o Homem de Ferro se tornou realmente invencível – Ambrosia

O desfecho deste arco contém a grande marca do novo Homem de Ferro nos quadrinhos: A fuga do envólucro humano para a liberdade da super-humanidade. Diante da ameaça de um ser modificado pelo vírus Extremis, especificamente após uma surra homérica, Tony Stark decide modificar o vírus para lhe permitir controlar sua armadura mentalmente, carregando a camada interna do Homem de Ferro supercompactada no interior de seus ossos, diretamente ligada ao seu cérebro. Isso também o permite conectar-se mentalmente com qualquer unidade eletrônica, desde um simples celular, até um poderoso satélite. Entre muitos novos conceitos, a antítese deste arco se define na não obrigatoriedade de inimigos vestidos em armaduras e no não humanismo de Tony Stark, mostrando que tais fatores vistos quase como tabus podem e devem ser alterados para definir a merecida grandiosidade deste personagem, expressa no título de sua revista: Invencível.

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Comentários 9
  1. Sem dúvida o arco extremis é de longe um dos mais legais do personagem, trazendo a tona e atualizando Tony com uma origem e uma forma adaptadas a sua condição de futurista e protagonista no universo Marvel. O extremis foi uma tema central no volume 4 do Homem de Ferro, e vale lembrar também que o vírus também revitalizou o mandarim, no excelente arco "Haunted".

  2. Muito bom o artigo. Assisti ao filme do Iron Man III (lançado recentemente), achei incrível, porém, se o diretor seguisse a história dos quadrinhos ao pé da letra, com certeza, além de ficar bem original, iria dar muito mais emoção na história!

  3. Supera,e muito, o “Demônio da Garrafa”, que era sensacional. Faltou dizer que o Tony Stark de Granov era a cara de Tom Cruise, cotado para ser o Homem de Ferro. Gosto do Robert Downey Jr., mas parece que deu humor demais ao personagem, aliviando muito. Se tivesse sido o velho Tom ( e olha que os filmes dele não são muito essas coisas), seriam filmes mais de um tom sério e que acho muito melhor.

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