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Graduado em Marginalidade, de Sacolinha

O crime pode ser opção ou, mais do que pensamos ser verdade, imposição. Viver em um ambiente violento onde a bandidagem impera é o passaporte para uma vida de delitos e prisões. Não importa o quanto essa pessoa sonhe em mudar de vida e trabalhe para isso, o crime não perdoa. Burdão, personagem de Sacolinha, é uma dessas pessoas que sempre agiu da forma mais correta possível, mas andar na linha não impediu que sua família fosse vitimada pela maldade. E a amargura causada por essas perdas não o deixou longe das armas.

Graduado em Marginalidade, na segunda edição pela editora Confraria do Vento, retrata a vida de Burdão, jovem de 19 anos que mora na Vila Clementina, em um distrito de Mogi das Cruzes, em São Paulo. As tragédias em sua vida começam com a perda do pai durante um assalto, que acaba levando também a sua mãe meses depois, desconsolada com a morte do marido. Sempre na companhia dos livros e a procura de emprego, Burdão vê a vila onde mora ser tomada por um novo traficante, o policial Lúcio Tavares, que não poupa seus amigos de infância do vício das drogas. Querendo ficar longe do tráfico, Burdão nega o convite de Lúcio de trabalhar para ele. O policial então forja a prisão do jovem, e a cadeia só faz aumentar seu ódio por aqueles que acabaram com a calma do lugar onde cresceu.

Sacolinha mostra no livro como uma pessoa não consegue se manter longe do crime ao estar inserida no meio dele. O desejo de vingança de Burdão aumenta a cada dia em que vive na prisão, e lá dentro o jovem traça o plano para derrubar Lúcio do comando da boca e restabelecer a ordem na Vila Clementina. Narrando apenas o essencial de forma rápida, o autor deixa de dar certa emoção ao que relata. O leitor tem acesso apenas ao ódio e indignação da personagem e, por maior que sejam as suas perdas, não há como se sensibilizar com ele. Sacolinha não dá uma exata posição do tempo, dando saltos enormes na cronologia pouco explicando ao leitor. Graduado em Marginalidade é como mais uma matéria das páginas policiais do jornal. Com pouca emoção falando apenas o essencial, fazendo da vida de sua personagem uma total desgraça.

Porém, esse formato funciona para o livro. Sem piedade, Sacolinha mostra como o mundo do aliciamento ao crime funciona. Assim, aqueles que ainda se espantam com as manchetes de jornal entendem as escolhas feitas pelo protagonista. Contudo, os que já acham normal as atrocidades noticiadas pela imprensa vão ler mais uma história trágica, sem encontrar um aprofundamento psicológico ou uma análise do que Burdão realmente sente. Com um tratamento desses, Graduado em Marginalidade seria um livro mais rico ao tratar a iniciação das pessoas ao crime, mas não deixa de ser uma leitura que faça refletir sobre as opções de quem vive em ambientes violentos.

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Comentários 2
  1. “O primeiro nome que ele citou, por exemplo, é um professor de arquitetura com especialização em história da tecelagem (wtf?).”

    Uma mensuração aleatória, inapropriada para a discussão, e totalmente arrogante por parte do Sr. Velloso…

    Os donos da verdade se mostram tão certos de seu próprio-valor, inflando seus egos academicos à todas as custas. Aqui, o que critica – autor do comentário com toda a sua pretensão acadêmica; e acolá, o criticado – autor do texto com toda a sua pretensão acadêmica; os donos da verdade se mostram tão certos de seu próprio valor, inflando seus egos e os mesclando à argumentação, que não há debate, senão palavras soltas em defesa de uma verdade absoluta… será isso influência de suas próprias pesquisas?

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