Os criadores de House of Cards leram muito Maquiavel para nortearem os (des)caminhos de seus personagens centrais. Essa ótima terceira temporada trouxe uma dimensão urgentemente dramática à seu termo mais célebre: “Dê poder ao homem e conhecerás quem ele é“. O poder foi dado – mais uma vez – a Frank Underwood (Kevin Spacey), mas é o peso desse cetro sob a consciência de Doug (Michael Kelly, soberbo) e a dignidade íntima de Claire (Robin Wright, indo da resignação perturbadora para a precisão da retórica) que fez dessa temporada seu melhor ponto de coesão e coerência.
Dois pesos e duas medidas? Não. Pesos incidindo sobre retóricas. E Claire, nesse sentido, representou a bem construída humanidade que salta na apropriação do poder sobre homem. Há muita complexidade exprimida naquele gélido olhar, e os roteiristas parecem ter atentado para isso.
Foi uma temporada do olhar de cima para dentro. Frank e os fantasmas escondidos dentro de sua Casa Branca. Isso também se aplica à trajetória de Doug – um vilão? Talvez. Mas é no conflito interno de seus atos que a trama mais ganhou consistência. Tudo isso, emoldurando o jogo de intrigas sem fim que forma a figura pública que é o Frank.
Por mais discutível que seja a decisão final para qual caminha o fim dessa temporada, percebemos que a história ainda tem fôlego para explorar muito seus personagens. Maquiavel tinha razão. Mas para conhecer o homem é preciso um pouco mais que o poder consentido. Basta olhar de perto seus condescendentes. House of Cards continua brilhante, agora acrescida de méritos psicanalíticos.
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