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“As Irmãs” discute persistência histórica de problemas sociais no Paço Imperial no Rio de Janeiro

“Não teve abolição da escravatura, não teve reparação histórica”, afirmou Milena na plateia.

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O primeiro contato do público com a dramaturgia inédita de Rafael Souza-Ribeiro aconteceu no Dia da Proclamação da República. A apresentação foi seguida de uma roda de conversa para debater os temas tratados em “As Irmãs” e inspirar o autor, que dirige o trabalho com Carolina Godinho, na conclusão da obra. Com entrada franca, a versão finalizada estreia no dia 15 de dezembro, às 15h, no Paço Imperial – RJ.

Com o debate da História do Brasil em foco, surgiram e foram discutidos temas como a assinatura da Lei Áurea, o Racismo Estrutural, Xenofobia, Branquitude Tóxica e o Elitismo Classista. São condições que permanecem tangíveis e podem ser sentidas também nas vivências do autor, que desabafa: “Faço teatro há mais de 29 anos e ainda vejo os mesmos problemas de representatividade”.

A leitura se deu em meio aos atos antidemocráticos do feriado de 15 de novembro, evidenciando o contraste entre os que defendem a democracia e aqueles que atentam contra ela. Assim, as discussões foram fomentadas pelo sentimento de insegurança nas ruas e a roda de conversa tornou-se também de acolhimento e refúgio, para discutir cultura, arte e História; enquanto do lado de fora se pedia intervenção militar e o fim de direitos constitucionais.

“A nossa presença no mundo atua através das relações que temos ou tivemos. Independente das permanências, penso que sempre seguimos atravessados por aquela troca ou não-troca. Tem as pessoas que escolhemos e tem a família de sangue. Elas nos constituem de várias formas. Há relações que fluem e outras que engasgam. De forma cômica, As irmãs engasgam. Entre elas e sozinhas com suas opiniões eurocentradas.” diz Carolina, que dirige junto com Rafael a leitura.

Às três horas da tarde do dia 13 de maio de 1888, no Paço Imperial, mesmo local que recebe “As Irmãs”, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea e, supostamente, aboliu a escravidão no Brasil. Seu ato, louvado pela História, não pode ser compreendido sem levar em consideração o que se deu nos séculos seguintes. Por isso, suscitar discussões neste lugar, dentro do Paço Imperial, é também um processo de ressignificação da identidade nacional e compreensão de suas transformações sociais.

Natasha Corbelino e Monique Vaillé dão vida ao texto, interpretando Nilceia e Nilzair, atrizes e irmãs bissextas, que representam as princesas Isabel e Leopoldina. Elas se reencontram no velório do pai, um grande nome do teatro. “Irmandade, amizade, família, arte, branquitude, desconstruções, violências e histórias tudo junto e misturado perto de artistas que tenho enorme admiração é uma grande honra e delícia”, diz Monique. O encontro desperta ressentimentos passados, com fatos da História do Brasil misturados com autoficção. “Sinhás, preconceituosas, decadentes e debochadas”, assim descreveu uma mulher da plateia presente na primeira leitura.

A peça nos leva para o Brasil Império, mas não se limita no tempo e faz comparações irônicas com a atualidade. São 200 anos de Independência e ainda vigora o passado, sobretudo no Rio de Janeiro, que insiste no resgate de suas raízes coloniais. “As Irmãs traz a História do Brasil como ato de cena pra colocar nossa branquitude violenta e redundante para queimar”, afirma Natasha.

A apresentação é gratuita e conta com intérprete de libras. O projeto tem patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através do edital Retomada Cultural RJ 2.

SERVIÇO:

Primeira Leitura Performativa: 15/12
Horário: 15h
Local: Paço Imperial – Praça Quinze de Novembro, 48 – Centro, Rio de Janeiro
Classificação etária: 12 anos
Entrada Gratuita

Mais informações na página oficial da dramaturgia: https://bit.ly/3FxlPlK

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