A Definitiva Cia. de Teatro irá circular pelas unidades do Sesc com o espetáculo A hora da estrela”, passando por São Gonçalo (07/10), São João de Meriti (14/10), Barra Mansa (19/10), Teatro Rosinha de Valença (20/10), Nova Iguaçu (21/10) e Ramos (26/10), através odo Edital de Cultura Pulsar do Sesc RJ. A montagem estreou em 2017, no SESC Tijuca, e cumpriu temporada no Teatro Gláucio Gill, em 2019.
A hora da estrela é o último romance lançado em vida por Clarice Lispector – escritora brasileira (embora, nascida na Ucrânia), considerada pela crítica especializada uma das escritoras mais importantes do século XX. Sua obra é objeto de estudo nos mais variados níveis de ensino pela sua capacidade de transpor para a escrita questões profundamente filosóficas. A montagem da Definitiva, por exemplo, é objeto da dissertação de mestrado de Felipe Castro, no campo da tradução intersemiótica, na Universidade Livre de Lisboa.
O romance volta aos palcos em encenação habilidosa da companhia carioca, experimentando a metalinguagem proposta por Clarice – na figura de um narrador-escritor, Rodrigo S.M – para pensar também a criação da escrita cênica do grupo.
Comemorando 15 anos de atividades continuadas em 2023, a Definitiva Cia. de Teatro é um coletivo dedicado à produção artística e ao desenvolvimento de uma linguagem que pesquisa a relação entre a música e a cena no fato teatral, fazendo conviver essas duas manifestações artísticas de forma indissolúvel, buscando aquilo que o grupo chama de cena-música. A hora da estrela segue a trilha desta pesquisa, em espetáculo que desmonta o romance e o próprio teatro num jogo metalinguístico
“É um livro que fala sobre o trabalho do autor. Esse desnudamento do mistério da escrita através da própria escrita nos impactou enquanto estética. E é isso que tentamos também fazer: revelar os aspectos da construção teatral através do ato de construir”, diz Jefferson Almeida, adaptador e diretor.
Dividindo-se entre a figura do complexo narrador-personagem e as personagens criadas por ele para contar a saga de Macabéa – alagoana franzina de 19 anos “virgem e inócua” – os oito atores dão conta de uma encenação calcada em jogos de criação. Através dessa investigação estética, são partilhados com o público os caminhos trilhados para a realização do espetáculo.
Assim como no romance, em que a música ganha destaque, entre outras coisas, através das inúmeras dedicatórias do autor fictício a compositores clássicos como “Schumann e sua doce Clara”, a Definitiva Cia. de Teatro se debruça sobre as sonoridades, ritmos e canções para realçar, e até mesmo criar, as camadas poéticas da encenação.
Capitaneado por Renato Frazão, diretor musical, o elenco mergulhou no cancioneiro inspirado pela obra para composição da trilha, aprendendo inclusive a tocar instrumentos especialmente para o espetáculo. A ária “Una furtiva lacrima” composta por Donizetti para a ópera italiana “O elixir do amor” – que Macabéa que “no fundo não passara de uma caixinha de música meio desafinada”, confunde com um samba -, é uma das componentes do repertório. Nele, figuram ainda a clássica “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga, e a inédita “Lamento de um blue”, composta por Frazão especialmente para a peça. Assim, em “A hora da estrela”, a música torna-se parte componente da encenação criando uma camada densa de uma escrita musical.
“A nossa pesquisa, aqui, ganha um outro dado: visto que estamos elaborando uma peça sobre como fazer uma peça a partir de um livro sobre como escrever um livro, precisamos fazer uma música sobre como fazer música, ou seja, é preciso parir esta música, operá-la, fazê-la existir… tudo está, aqui,nas mãos dos atores. Então, precisamos tocar, aprender a tocar, aprender a parir música. Este foi o passo para o abismo que demos, desta vez”, conta Jefferson.
“Uma ótima pedida para quem quer apreciar um trabalho de qualidade, e simplesmente imperdível para quem gosta de trabalhos de pesquisa de linguagem”, escreveu Péricles Vanzella, doutor em Artes Cênicas e crítico da site Rio Encena. Para Rodrigo Fonseca, do blog P de Pop, d’O Estado de São Paulo, “(…) a produção da Definitiva Cia. de Teatro, sob a direção de uma força da natureza chamada Jefferson Almeida, espatifa o osso da palavra literária atrás de novas sensorialidades e provocações”
Programação:
São Gonçalo | 07/10 | 19h – Av. Pres. Kennedy, 755 – Estrela do Norte, São Gonçalo – RJ, 24440-490
São João de Meriti | 14/10 | 19h – Av. Automóvel Clube, 66 – Centro, São João de Meriti – RJ, 25515-126
Barra Mansa | 19/10 | 19h – Av. Tenente José Eduardo, 560 – Ano Bom, Barra Mansa – RJ, 27320-430
Teatro Rosinha de Valença | 20/10 | 20h – Av. Professora Silvina Borges Graciosa, 44 – Belo Horizonte, Valença – RJ, 27600-000
Nova Iguaçu | 21/10 | 19h – Rua Dom Adriano Hipolito, 10 – Moquetá, Nova Iguaçu – RJ, 26285-330
Ramos | 26/10 | 19h – R. Teixeira Franco, 38 – Ramos, Rio de Janeiro – RJ, 21060-130
Classificação indicativa: 12 anos
Ingressos apenas na bilheteria – R$10,00 (inteira), R$5,00 (meia-entrada), Grátis (Credencial Plena e PCG)
FICHA TÉCNICA:
Do original de Clarice Lispector
Adaptação: Jefferson Almeida e Tamires Nascimento
Direção: Jefferson Almeida
Elenco: Daniel Chagas, Jefferson Almeida, João Vitor Novaes, Livs, Marcelo de Paula, Paula Sholl e Tamires Nascimento.
Atores convidados: Estrela Blanco e Pedro Mondaine
Direção musical: Renato Frazão
Assistência de direção: Tamires Nascimento
Preparação de atores: Daniel Chagas
Sapateado e colaboração: Clara Equi
Cenografia: Taísa Magalhães
Figurinos: Arlete Rua e Thaís Boulanger
Iluminação: Livs
Assistente de iluminação: Luiz Paulo Barreto
Técnico e operador de som: Lucas Campelo
Microfonista: Ananda Amenta
Projeto gráfico: A4 (Davi Palmeira)
Direção de produção: Tem Dendê! Produções – Tamires Nascimento
Produção executiva: Desejo Produções – Dani Carvalho
Realização: Definitiva Cia. de Teatro e Tem Dendê! Produções
SOBRE A DEFINITIVA CIA DE TEATRO
A Definitiva Cia. de Teatro – companhia teatral oriunda da universidade pública e dedicada, desde 2008, à produção e investigação artística – possui sete projetos teatrais em seu currículo, sendo quatro espetáculos: Calabar, o elogio da traição (2008), Deus e o diabo na terra do sol (2011), A hora da estrela (2017), O som e a fúria – um estudo sobre o trágico (2020); uma versão compacta e revisitada do espetáculo de estreia em comemoração aos 10 anos de atividades da Cia: Calabar em concerto (2018); e dois Exercício de Atuação: Princípio da Incerteza (2023), O Susto (2023);
Além destes, realizou o projeto audiovisual Cartas de arquivo (2018) em parceria com o Arquivo Nacional como parte das comemorações de seus 180 anos e duas edições de “Definitiva Cia de Teatro – em laboratório” (2021), oficina multidisciplinar para difusão da pesquisa empreendida pelo coletivo.
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