Fazendo um levantamento histórico de grandes mães de santo brasileiras, o Orum Aiyê Quilombo Cultural apresenta a exposição “OBIRIN OMI – Água”, da artista visual goianiense Raquel Rocha. Com curadoria de Mariana Maia e produção artística de Rona Neves, a mostra reverencia essas figuras tão importantes para a cultura afro-brasileira. Na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, na Gamboa, a exposição terá pré-abertura no dia 11 de setembro, às 17h, e a abertura oficial será no dia 12, às 17h, com samba dos Velhos Malandros. Com realização da Galeria Pretos Novos e Instituto Pretos Novos, a exposição segue em cartaz até 11 de outubro. A entrada é gratuita.
A pré-abertura contará com a performance “Omi Eró”, realizada por Raquel em parceria com o artista Marcelo Marques. A ação performática recria o preparo ritual de um banho de ervas: as folhas são maceradas ao som de cantigas em iorubá, espalhando aromas que envolvem o público em um ambiente de cura e ancestralidade. Ao final, cada pessoa poderá levar consigo um pouco do banho, como gesto de cuidado e reconexão espiritual afrocentrada.
A exposição traz ao público obras da série “As Matriarcas”, em que a artista resgata a memória e o protagonismo de grandes mães de santo brasileiras. Produzidas em acrílica sobre peneiras bordadas com 16 búzios, acompanhadas de uma quartinha com água (símbolo da vida e do ancestral), as pinturas são tanto registro histórico quanto gesto de resistência.
Entre as inúmeras referências presentes na exposição estão Mãe Gilda de Ogum, vítima da intolerância religiosa e símbolo nacional da luta contra o racismo religioso. A data de seu falecimento (21 de janeiro) é estabelecida como o Dia de Luta Contra a Intolerância Religiosa; e Mãe Sussu, figura essencial na consolidação do Candomblé no Brasil.“Quero mostrar essas mulheres na centralidade da formação e manutenção dos terreiros”, destaca Raquel.
Raquel Rocha propõe uma poética em que a memória e o culto mantêm vivas as trajetórias das mães de santo, erguidas como um verdadeiro exército de ancestrais que fortalecem as pessoas diante do racismo. E assim, Raquel pesquisa a arte como território de fissuras e fricções, que são cicatrizes abertas pela escravidão no Brasil, mas que, ao se encontrarem, formam novos cursos d’água capazes de cicatrizar as feridas históricas do povo preto. “Essas fendas canalizam águas de resistência, formando bacias, rios e lagos que se tornam um grande aquífero fecundo, de onde brotam e se fortalecem as diversas camadas da cultura afro-brasileira. Nesse caminho, o papel das mulheres pretas é crucial: são elas que fertilizam o solo e orientam o percurso da água, garantindo a resistência da nossa memória e a formação da cultura brasileira”, afirma.
Ao refletir sobre o legado dessas matriarcas, a artista ressalta que suas trajetórias não apenas sustentaram terreiros, mas também abriram caminhos de cura e resistência para as gerações seguintes. “Essas mães criaram cursos de água de cicatrização. Criaram paisagens possíveis de resistência, de luta, de manutenção de memória. Isso dentro de um Brasil completamente escravocrata. Quero que o público saia da exposição com essa força e esse estímulo para continuar lutando”, conclui Raquel.
A mostra também ganha força pelo espaço em que acontece: o Instituto Pretos Novos, localizado onde funcionava o Cemitério dos Pretos Novos. O local foi destinado ao sepultamento de africanos recém-chegados que não resistiam à travessia do Atlântico. Transformado em espaço de memória e resistência, o Instituto se tornou uma das principais referências no Rio de Janeiro sobre a história da escravidão e da diáspora africana.
SERVIÇO
Local: Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea – Instituto Pretos Novos (Gamboa, Rio de Janeiro)
Endereço: Rua Pedro Ernesto, 36 – Gamboa, Rio de Janeiro – RJ
Pré-abertura: 11 de setembro (quinta-feira), às 17h – com performance Omi Eró
Abertura oficial: 12 de setembro (sexta-feira), às 17h – com Samba dos Velhos Malandros
Período de visitação: até 11 de outubro de 2025
Entrada: gratuita









