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Festival Novas Frequências celebra o “Riso Ritual” e as múltiplas dimensões do Carnaval

A programação reúne 45 artistas e contempla shows e performances em diferentes territórios do Rio de Janeiro

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índio da Cuíca. Foto: Alfredo Alves
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Festival símbolo da música experimental e de sonoridades expandidas, um dos mais relevantes em seu nicho em toda a América do Sul, o Novas Frequências celebra o “Riso Ritual” e as múltiplas dimensões do Carnaval em sua 13ª edição.

A programação – que acontece  do dia 02 até 22/12 – reúne 45 artistas e contempla shows e performances em diferentes territórios da cidade do Rio de Janeiro (Realengo, Maré, Tijuca, Gamboa, Flamengo e Cosme Velho). Haverá seminário, laboratório imersivo com artistas em início de desenvolvimento de carreira e uma exposição de arte no centro cultural Futuros Arte & Tecnologia. Caio Rosa, Tiganá Santana, Levante Nacional Trovoa e um trio formado por Ana Lira, Nathalia Grilo e Alexandre Fenerich apresentam trabalhos inéditos.

No line-up, artistas como Badsista, Índio da Cuíca (em duo de improvisação com Rodrigo Maré), Spirito Santo – o líder do Grupo Vissungo, agora em uma nova formação mais “eletrificada” e cheia de marimbas -, o Saravá-Metal do Gangrena Gasosa, uma “roda de sample” inspirada nas icônicas rodas de samba, Kuka de Realengo – uma das principais turmas de bate bola da Zona Oeste – e performances de Rafael Bqueer e Davi Pontes & Wallace Ferreira. Completam a festa as artistas internacionais Marina Herlop (Espanha), Lucrecia Dalt (Colômbia/Alemanha), Jennitza (Argentina) e Asna (Costa do Marfim/França).

Desde sua primeira edição em 2011, o Novas Frequências se configura como um festival internacional que promove a música experimental, a música de vanguarda e a arte sonora, buscando ressignificar a relação da arte com a cidade do Rio de Janeiro e o ecossistema cultural local. Ao longo dos anos, o festival ocupa casas de show de diversos tamanhos e propostas, salas de concerto, instituições de arte, espaços públicos e lugares inusitados – como igrejas, galpões, escolas, praias e cachoeiras.  

Assim, o Novas Frequências propõe uma relação 360º com a música e experiências distintas daquilo que se imagina em um festival tradicional, promovendo performances, instalações, festas, projetos comissionados, site specifics, palestras, oficinas, cursos, residências artísticas e caminhadas sonoras.

A cada ano, o festival é guiado por um tema conceitual que estrutura sua programação. Em 2023, o mote da 13ª edição gira em torno do Carnaval. “É hora de celebrar o gesto inventivo e alegre da experimentação e de nos permitir dançarmos a vida como se fosse festa, conjurando um tempo e um lugar para gargalhar a existência através do espírito irreverente, imprevisível e efêmero do Carnaval” – sublinha a curadoria do NF.

Com “Riso Ritual”, título escolhido para nomear esta edição, o NF se derrama sobre a cidade, abrindo um chamado para corporificar os sonhos e encantar os sentidos, porque sabe que o gargalhar e a festa são elementos fundantes não apenas da vida/espírito/essência carioca, mas daquilo que é humano.  

Pela primeira vez em sua história, a curadoria busca descentralizar e ampliar o alcance de suas escolhas através da conexão com outras narrativas, experiências e escutas. Juntam-se então ao curador e diretor Chico Dub dois novos nomes da cena artística contemporânea: KENYA20HZ, DJ, produtora musical, redatora, apresentadora e investigadora cultural; e Nathalia Grilo, curadora e pesquisadora com uma trajetória que se desdobra nas áreas da cultura, das artes, da produção, educação, escrita e pesquisa.

Sobre a escolha do título pela curadoria do festival, Nathalia Grilo afirma que “Riso Ritual, conceito do filósofo e pensador russo Mikhail Bakhtin, versa sobre o extravasamento, seja espiritual ou físico. Um pensamento que remete aos tons do humor festivo das brincadeiras, o humor do corpo e do Carnaval, o riso que contamina a moral dos ‘virtuosos’ e motiva as forças cósmicas da alegria a mostrar sua riqueza e complexidade. As propostas das apresentações invocam essa energia do Riso Ritual e isso se faz evidente desde a convocatória aberta ao público até o diálogo com a arte contemporânea. Tudo isso torna esta edição algo muito especial, visto o momento político que estamos atravessando, toda a delicadeza da atual situação do cenário artístico cultural do país e o desejo de todos nós por dias mais bonitos”.

Ainda sobre o título do Novas Frequências, KENYA20HZ aponta: “A ideia é exaltar e transcender a festividade do Carnaval. E, para isso, utilizamos como portal as infinitas possibilidades que um ritual tão popular, tão precioso para a disseminação da cultura afro-brasileira e tão simbolicamente enraizado na mitologia fantástica carioca é capaz de abarcar. Trazendo ao território urbano a real comunhão da população, independente de credo, classe ou etnia, através do misterioso poder do êxtase coletivo.”

Para Chico Dub, idealizador do festival, “esse NF, com exceção das instalações de arte no Futuros Arte & Tecnologia, está muito mais próximo a uma ideia de Carnavalização – para ficar em Bakhtin – do que sobre o Carnaval em si”. O curador reitera que “uma das principais motivações por trás da escolha temática foi a de aproximar o universo das artes populares com as técnicas e procedimentos comuns à natureza da música exploratória. O objetivo é aproximar a música experimental da nossa realidade e parar de importar contextos do Norte Global. O Carnaval é uma das tecnologias mais inventivas que temos; é obra de arte total; é rave-happening-performance-deriva-filme sem roteiro. Tá tudo ali. E é tudo nosso”. 

A programação do NF23 se divide em dois eixos principais: exposição e shows/performances. Com duração que vai de 06 até 22 de dezembro, o Futuros – Arte & Tecnologia recebe uma mostra coletiva que reúne quatro instalações assinadas por Caio Rosa, Levante Nacional Trovoa, Tiganá Santana e o trio formado por Ana Lira, Nathalia Grilo e Alexandre Fenerich. As obras, todas inéditas, versam sobre a ancestralidade e a interação comunitária do Carnaval sob diferentes aspectos, aproximando turmas de bate-bola, as tias do samba e os lendários blocos Cacique de Ramos e Ilê Aiyê. 

A proximidade com o Carnaval (pelo menos com o Carnaval da festa) também se faz presente na Roda de Sample, projeto criado por R Vincenzo em São Paulo e que, tal como numa roda de samba tradicional, organiza músicos ao redor de uma sessão de improvisação. A diferença é que saem o surdo, o pandeiro, o repique, o violão e o cavaquinho e entram máquinas e baterias eletrônicas. Integram a roda diferentes beatmakers, DJs e produtores: Capetini, Letrícia, Numa Gama, o franco-senegalês Ardo e a própria curadora do festival KENYA20HZ.

A música eletrônica, agora em formato de pista de dança, se dá em um dos principais redutos carnavalescos da cidade, o Cordão do Bola Preta, na Lapa, em um evento com Badsista, Glau Tavares, JLZ, Kuka de Realengo e Idlibra, além de Asna, costa marfinense baseada entre Abidjan e Paris. No som, funk, hard techno, drum and bass, batidas africanas contemporâneas e outras geografias sonoras provenientes de coletividades racializadas ao redor do mundo.

O funk também aparece de outras formas no NF, via Artelheiro. Ele é um dos destaques do Nebulosa, selo que vem se destacando na cena paulistana por combinar o ritmo com rap, samba rock e o pagode dos anos 90. O músico se apresenta na Areninha Carioca Herbert Vianna, na Maré,  no mesmo domingo em que o público poderá ver o inédito encontro entre os percussionistas da nova e da velha geração Rodrigo da Maré e Índio da Cuíca

A folia do Novas Frequências também olha para fora do Brasil, aludindo ao Carnaval de Notting Hill, o carnaval caribenho em Londres, que em 2023 homenageou os 50 anos do dub, os 75 anos da Windrush Generation – nome dado à primeira geração de trabalhadores negros originários das colônias inglesas no Caribe que aportou na Inglaterra no final dos anos 40 – e Jah Shaka, a figura mais emblemática da cultura de sistemas de som no Reino Unido, falecido em abril passado. O encontro, gratuito, apresenta três sistemas de som/coletivos com histórias bem diferentes e propõe uma linha do tempo da música jamaicana e da cultura do grave mundial – inclusive o brasileiro. São eles Digitaldubs, Jamaicaxias e Costa Atlântica Sound System.


Penetras no baile de Carnaval são as estrelas da música pop-experimental Lucrecia Dalt e Marina Herlop. Colombiana radicada em Berlim, a feiticeira sonora Lucrecia teve seu oitavo álbum, Ay!, premiado com a distinção de melhor álbum de 2022, de acordo com a bíblia da vanguarda que é a revista The Wire. Já Marina, compositora, vocalista e pianista catalã, possui uma sonoridade impulsionada por sua notável voz. Ambas chegam ao Rio depois de passar pela segunda edição do festival Primavera Sound em São Paulo.

A música instrumental com matrizes afro-brasileiras é um dos realces desta edição. Nuances mais jazzísticas surgem no trabalho de José Arimatéa, trompetista e compositor que harmoniza ritmos baianos, Stravinsky, fusion e jazz modal. O Satanique Samba Trio é um quinteto instrumental de Brasília que deriva pelos mais diversos gêneros da música brasileira, especialmente o samba e o forró, em meio à dissonâncias e distorções rítmicas inspiradas no que chamam de “estética do Satanismo Tropical”. MusikEletroFolk é um projeto liderado por Spirito Santo, líder do seminal Grupo Vissungo, banda criada no Rio de Janeiro em 1975 que ia do jongo ao samba, da congada à música angolana e ao afrobeat. Especialmente para o Novas Frequências, o MusikEletroFolk traz uma formação com marimbas, kalimbas e tambores eletrônicos.

Trio formado por Letrícia, Ruan e Trevo, o 7FA apresenta uma roda de música experimental eletroacústica baiana centrada no berimbau, que funciona não só como instrumento sonoro mas também como um gerador energético. Do Ceará, Uirá dos Reis une samples de sons e imagens para contar uma história acerca de sua negritude e homossexualidade, combinado Glauber Rocha, Ricardo Aleixo, Zózimo Bulbul, percussão de samba e de terreiro, batidas de funk-br e sintetizadores eletrônicos.

O bloco performático não poderia ficar de fora. Através de risos sincronizados com instrumentos percussivos do samba, Rafael Bqueer presta uma homenagem aos blocos das caricatas e ao riso como deboche e ação artístico-sonora. Kaloan explora o uso de sensores de movimento de controles Wii no seu corpo para ativar ritmos como pisadinha, forró, arrocha e brega funk, sampleados de um popular Yamaha SX700/s670. Com sons vindos dos lugares mais profundos, como o colo do útero ou o fundo do mar, Kupalua é uma experiência física que irradia ondas sonoras e vozes sussurrantes. Dupla presente na 35ª Bienal de São Paulo, Davi Pontes & Wallace Ferreira desenvolvem uma série de trabalhos com base na identificação e na elaboração radical de suas vivências e pesquisas comuns relacionadas à dança e à experiência do corpo dissidente negro no mundo.


A proclamação da vulgaridade, título do primeiro livro da poeta Mila Teixeira, ganha acompanhamento sonoro da beatmaker experimental Raiany Sinara. Por fim, Jennitza, artista sonora da Colômbia radicada na Argentina, que, inspirada no mítico Bloco do Eu Sozinho, personagem folclórico do Carnaval carioca que desfilou sozinho nas ruas da cidade por mais de 50 anos, sai pelas ruas da cidade em locais surpresa performando ataques sonoros com seu clarinete.  

Uma constante na programação do Novas Frequências, as residências artísticas surgem em novo formato em 2023. Através de um chamamento público, Alucas do Trópico Sul, Emiciomar e snowfuks irão participar de uma imersão no Labsonica, o laboratório de experimentação sonora e musical do Oi Futuro, aprimorando técnicas e expertises através de mentorias e acompanhamento de profissionais experientes. O resultado final do processo é uma apresentação no encerramento do festival, no dia 22 de dezembro, no centro cultural Futuros Arte & Tecnologia. 

Um dos eventos mais instigantes desta edição é a tarde heavy metal na Areninha Carioca Gilberto Gil, em Realengo. Formada por Zé Pelintra, Omulu, Pombagira e os Exus Caveira, Tranca-Rua e Tiriri, a banda Gangrena Gasosa tornou-se mundialmente famosa por inventar um estilo que ficou conhecido como saravá-metal. Quem abre os trabalhos é o Praga, grupo de black metal que exala a revolta contra ideologias opressoras, pregando a liberdade, libertinagem e volúpia.

O metal, em um de seus desdobramentos mais rápidos e agressivos, também aparece no encerramento do NF. Formado por um dos bateristas mais incensados da cena mundial (bateria nota 10), Barata, e o guitarrista e vocalista João Kombi, o duo paulistano de grindcore Test surge na sexta-feira de cinzas do festival, em uma versão inédita no Rio, se apresentando na rua em formato de “big band” ao lado de uma série de músicos convidados. 

SERVIÇO

02/12 @ Praça da Harmonia
16:00 às 18:30

Entrada gratuita

Roda de Sample feat Ardo, Capetini, KENYA20HZ, Letricia, Numa Gama, Paulinho Bicolor, R Vincenzo

02/12 @ Cordão do Bola Preta
23:00 – 5:00
Lote promocional: R$ 20,00 (1kg de alimento não perecível)
Lote 1: R$ 30,00
Lote 2: R$ 40,00

Asna (Costa do Marfim/ França)
BADSISTA
Glau Tavares
IDLIBRA
JLZ
Turma Kuka de Realengo

03/12 @ Areninha Carioca Gilberto Gil

16:00

Solidário: R$ 20,00 (1kg de alimento não perecível)

Meia: R$ 20,00

Inteira: R$ 40,00
Gangrena Gasosa
Praga

04/12 @ Galpão Ladeira das Artes

19:30

Solidário: R$ 30,00 (1kg de alimento não perecível)

Meia: R$ 30,00
Inteira: R$ 60,00

Lucrecia Dalt (Colômbia/Alemanha)
Marina Herlop (Espanha)

06/12 – 22/12 @ Futuros Arte & Tecnologia
quarta a domingo, de 11:00 às 20:00

Entrada gratuita
Exposição
Ana Lira, Nathalia Grilo e Alexandre Fenerich
Caio Rosa: Visões do Luvemba

Levante Nacional TROVOA
Tiganá Santana

06/12 @ Futuros Arte & Tecnologia

20:00
Solidário: R$ 20,00 (1kg de alimento não perecível)

Meia: R$ 20,00

Inteira: R$ 40,00

7FA

06/12 @ Futuros Arte & Tecnologia

21:00
Entrada gratuita

Rafael Bqueer: CARICATA

Pujollll

07/12 @ Centro da Música Carioca Artur da Távola

18:30
Solidário: R$ 20,00 (1kg de alimento não perecível)

Meia: R$ 20,00

Inteira: R$ 40,00

José Arimatéa: Brejo das Almas

08/12 @ Futuros Arte & Tecnologia

20:00

Solidário: R$ 20,00 (1kg de alimento não perecível)

Meia: R$ 20,00

Inteira: R$ 40,00

Satanique Samba Trio  

09/12 @ local a ser confirmado
15:00 – 22:00

Entrada gratuita

Costa Atlântica Sound System
Digitaldubs Sound System

Jamaicaxias feat ANTCONSTANTINO, DJ Bombs, Kbrum, Terrobixa

10/12 @ Areninha Carioca Herbert Vianna

16:00

Entrada gratuita

Artelheiro
Índio da Cuíca + Rodrigo Maré

14/12 @ Centro da Música Carioca Artur da Távola

18:30

Solidário: R$ 20,00 (1kg de alimento não perecível)

Meia: R$ 20,00

Inteira: R$ 40,00

MusikEletroFolk

15/12 @ Labsonica
20:00

Entrada gratuita

Raiany Sinara + Mila Teixeira: A Proclamação da Vulgaridade

16/12 @ Labsonica
20:00

Entrada gratuita

Kaloan: Pindorama X700
Kupalua 

17/12 @ Futuros Arte & Tecnologia

20:00

Solidário: R$ 20,00 (1kg de alimento não perecível)

Meia: R$ 20,00

Inteira: R$ 40,00

Uirá dos Reis: EXPURGO

22/12 @ Futuros Arte & Tecnologia
20:00

Solidário: R$ 20,00 (1kg de alimento não perecível)

Meia: R$ 20,00

Inteira: R$ 40,00

Apresentação dos residentes NF/Labsonica: Alucas do Trópico Sul, Emiciomar, snowfuks

22/12 @ Futuros Arte & Tecnologia
21:00

Entrada gratuita

Davi Pontes & Wallace Ferreira

22/12 @ local a ser confirmado
23:00

Entrada gratuita 

Test Big Band

Pujollll

apresentações surpresa ao longo do festival
Jennitza: O bloco do eu sozinha

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