No próximo domingo, 6 de agosto de 2023, completam-se 78 anos que os Estados Unidos lançaram sobre Hiroshima uma bomba atômica que devastou a cidade e matou dezenas de milhares de pessoas. Sobrevivente da catástrofe, o escritor Tamiki Hara (1905-1951) narra em Flores de verão, da editora Tinta-da-China Brasil, os momentos antes, durante e depois da explosão: o esforço de guerra da população de Hiroshima nos meses anteriores, o clarão fatal que atingiu pessoas, animais, plantas e coisas, e os difíceis meses de recuperação e reconstrução da vida dos que ficaram.
Salvo por estar no banheiro no momento da detonação, Hara descreve tudo o que viu naqueles dias, encontrando as vítimas em desespero pelas ruas, pelos parques e pelo rio que marca a geografia de Hiroshima. Clássico da literatura japonesa do século 20, Flores de verão é a primeira tradução para o português, feita do original japonês por Jefferson José Teixeira. Segundo o Nobel de Literatura Kenzaburo Oe, Tamiki Hara é “o escritor japonês que melhor retratou a experiência da bomba atômica”. A obra que integra o currículo escolar do Japão traz ainda imagens que mostram Hiroshima destruída, incluindo registros da Força Armada Americana e do Museu Memorial da Paz de Hiroshima.
O primeiro texto, “Prelúdio à destruição”, é ambientado nos meses anteriores à queda da bomba: três irmãos e suas famílias participam do esforço de mobilização de guerra e de treinamentos enquanto a cidade de Hiroshima é evacuada, na expectativa de um ataque aéreo. O segundo texto, “Flores de verão”, é o relato dos momentos seguintes à explosão da bomba: tendo sobrevivido com poucos ferimentos por estar no banheiro quando o clarão destruiu tudo, o narrador caminha pela cidade, se refugia no parque e testemunha cenas desesperadoras, com pessoas gravemente feridas pedindo ajuda e morrendo pelas ruas e dentro do rio Ota, cujo delta marca a geografia da cidade. O terceiro texto, “A partir das ruínas”, descreve a cidade e seus habitantes nos meses após a catástrofe, quando amigos e parentes morrem ou adoecem em consequência da radiação e os sobreviventes procuram retomar a vida em meio aos escombros. A edição brasileira acrescentou no final o texto “O país do meu mais sincero desejo”, escrito em 1951, uma reflexão transcendental sobre o sentido da vida, sobre sua mulher morta pouco antes da tragédia e sobre as memórias da bomba. Esse texto é considerado uma espécie de carta de despedida do autor, que pouco depois deu fim à própria vida.
Sobre o autor
Tamiki Hara nasceu em Hiroshima, em 1905. Começou a atuar como escritor profissional em meados dos anos 1930. Pouco antes do primeiro aniversário de morte da mulher, Sadae, quando Hara retornava a Hiroshima para viver na casa de sua família, a bomba atômica foi lançada sobre a cidade. A catástrofe ficou registrada em “Flores de verão”, publicado em 1947 na revista Mita Bungaku, um dos textos inaugurais da literatura sobre a experiência da bomba e que lhe renderia o prêmio Mizukami Takitaro. Pela mesma revista, no mesmo ano, saiu “A partir das ruínas”, e em 1949, “Prelúdio à destruição”. “O país do meu mais sincero desejo” foi publicado em 1951, pouco antes de Hara dar cabo de sua vida, sob o impacto do início da Guerra da Coreia. Um monumento em sua memória foi erguido no castelo de Hiroshima e depois foi transferido para o templo Genbaku. Seu aniversário de morte, 13 de março, é conhecido como Kagenki, nome da sociedade criada por leitores para celebrar sua memória. Hara ganhou projeção mundial nos anos 60, com a divulgação no Ocidente da Genbaku bungaku, ou literatura da bomba atômica, por autores como Kenzaburo Oe. Sob censura no período da ocupação americana no pós-guerra, hoje Flores de verão é uma das obras mais celebradas da literatura japonesa do século 20 e integra o currículo escolar do país.
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