Após temporadas de sucesso de público e crítica, a montagem Fracassadas BR, da A Coletiva de Teatro e direção e dramaturgia de Ave Terrena e Ymoirá Micall – vencedora da primeira convocatória de projetos independentes do Instituto Brasileiro de Teatro (IBT) – chega ao Teatro de Contêiner Mungunzá com sessões de 23 de maio a 15 de junho, sexta-feira e sábado, às 20h e domingo, às 18h.
Idealizada pelos artistas Barbara Vitoria, Lucas Madureira e Rand Barbosa, Fracassadas BR tem com uma das inspirações o livro A Arte Queer do Fracasso, em que o teórico americano Jack Halberstam investiga alternativas e rotas de fuga em uma sociedade fascinada por uma ideia heteronormativa de sucesso. Em cena, além de Barbara Vitoria e Lucas Madureira, completam o elenco Jota Guerreiro Vilar, Kaiala e Wini Bueno Lippi.
Para Ymoirá Micall, que assina a direção e dramaturgia em parceria com Ave Terrena, o conceito de fracasso na montagem ganha outras perspectivas, com cores e significados de força, trajetória e enfrentamento, mostrando que o fracasso é, na verdade, o êxito. “Nessa história distópica transcendemos o fracasso, mostramos a importância do pertencimento e celebramos novos corpos e tantas outras visões de mundo”, pontua ela.
Já Ave Terrena explica: “Partimos dos conceitos de Halberstam, mas criamos uma história debochada, em que mostramos como nossos corpos, embora criticados pela sociedade, não são inutilizáveis, muito pelo contrário”.
Experiência imersiva
Fracassadas BR leva para a cena a costura de fictício e real utilizando parte funk, da quebrada e da cultura ballroom e oferece ao público uma experiência imersiva dividida em dois momentos. Ao chegar, os espectadores são convidados a explorar cinco instalações dispostas em ambientes que rodeiam uma sala central. Cada uma delas têm o objetivo de transmitir um “ruído” específico, que surge a partir de sons e corpos ocupando lugares os quais o status quo da sociedade não reconhece como padrão, e, por isso, os exila, os esconde na escuridão da noite.
Ao se dirigirem à sala central, a narrativa é envolvida por um tom de ficção científica, onde o público acompanha a trajetória dos personagens que conheceram nas instalações e que, agora, se encontram em uma boate antiga. A peça, então, mostra a história dessas pessoas marginalizadas, desses “seres da noite”, em um universo onde o dia prevalece e o sol toma conta da escuridão. Nessa realidade, a luz acaba por expor esses indivíduos, colocando-os em uma posição de repressão pela sociedade, que não aceita conviver com essas pessoas e, por isso, precisam se organizar numa revolta contra esse sistema, se apropriando da monstruosidade como são vistos, mas a transgredindo como meio de beleza, elegância e resistência.
A cenografia de Fracassadas BR conta com 14 monitores de televisão antigos, nos quais são apresentados vídeos com depoimentos de pessoas que integram a Casa de Acolhimento João Nery, voltada para homens trans e pessoas transmasculinas e a Casa Florescer, para travestis e mulheres transexuais.
Antes da nova temporada no Teatro de Contêiner Mungunzá, o espetáculo – contemplado pela 19ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo – se apresentou nesses espaços que serviram de pesquisa de campo para a criação da peça, além de sessões na Casa de Referência para Mulheres Laudelina de Campos Melo, que atende mulheres em situação de vulnerabilidade e vítimas de violência e na Ocupação 9 de Julho. Fracassadas BR também fará apresentações, no mês de junho, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes.
Serviço:
Fracassadas BR
Com A Coletiva de Teatro
De 23 de maio a 15 de junho, sexta-feira e sábado, 20h e domingo, 18h.
Teatro de Contêiner Mungunzá – Rua dos Gusmões, 43 – Santa Ifigênia, São Paulo.
75 minutos | 14 anos | R$ 20,00 a R$ 40,00 (ingressos gratuitos dias 23, 24 e 25 de maio).