O argumento de “O Cachorro que se Recusou a Morrer”, espetáculo do ator e autor Samir Murad, que divide a direção com Delson Antunes, deriva de suas memórias e das histórias contadas por seu pai, um imigrante libanês em sua luta pela sobrevivência numa terra estranha. Conflito, êxodo, o novo mundo, casamento por encomenda, saúde mental afetada, são conteúdos que, como um mascate andarilho, o ator mambembe carrega em sua mala e pretende vender ao seu público. Dessas referências nasce um contato intimista e revelador entre o artista e o espectador.
Um casamento por encomenda e a tríade formada pelo pai, a mãe e a irmã mais velha, afetada mentalmente por uma criação violenta, são algumas marcas que perpassam toda a relação familiar do autor-ator, extraídas de suas memórias e de relatos gravados pelos próprios familiares, antes de falecerem. Conflitos pessoais que reverberam no público, ajudando a resgatar memórias, sentimentos e emoções, por meio de recursos cênicos, apoiados no trabalho do ator, que itinera por distintos registros de atuação que vão da comédia ao drama, com ênfase no trabalho corporal e vocal.

O texto e a cena, através de uma linguagem poética e metafórica, trazem à tona aspectos tradicionais da cultura árabe, forjada em dogmas religiosos e machistas que surpreendentemente permeiam boa parte das famílias brasileiras. Projeções de imagens fundidas com a forte presença da trilha sonora, criam uma atmosfera onírica, repleta de signos e símbolos que envolvem o espectador em um mergulho pessoal e profundo em sua própria genealogia.
O texto-espetáculo faz ainda menção aos anos de chumbo da ditadura militar brasileira, tentando mostrar como o fantasma da alienação política, pode reforçar o Medo no âmbito da Família, principalmente entre os imigrantes. Partindo do núcleo familiar para o sociopolítico, o espetáculo traz à tona questões atuais como Imigração, guerras, doenças advindas dos choques culturais e se propõe a discutir na forma orgânica de uma atuação visceral, o conceito árabe de Maktub, que afirma que o Destino, está escrito. Discute assim, de forma lúdica, questões filosóficas como o caminho do meio, o meio do caminho, o caminho possível, enfim, escolhas que nos assaltam nesse momento plural de uma pós- modernidade estilhaçada, na Vida e no Teatro.

“Quero lhes apresentar essa história porque acredito que ela cumpre a função essencial do Teatro: emocionar e provocar uma reflexão sobre a condição humana. Depois da trilogia Teatro, Mito e Genealogia – a partir de uma pesquisa de linguagem cênica, baseada em conceitos e práticas teatrais de Antonin Artaud –, representada pelos meus trabalhos anteriores: Para Acabar de Vez com o Julgamento de Artaud (2001); Édipo e seus Duplos (2018); e Cícero – A Anarquia de um Corpo Santo (2019), proponho com O cachorro que se recusou a morrer uma nova forma de narrativa, mais simples, contida e essencial. Meu foco, aqui, é a alma do texto. O diálogo com o público”, declara Samir Murad.
SERVIÇO
O CACHORRO QUE SE RECUSOU A MORRER
Criação e atuação: Samir Murad
De 26 a 29 de junho, quinta, sexta-feira e sábado, às 19 h e domingo, às 18h.
Teatro Glauce Rocha – Av. Rio Branco.179 -Centro. RJ Telefone – (21) 2220-0259
60 minutos | 14 anos | Ingressos: R$ 40,00 e R$ 20,00 (meia entrada) – via Sympla ou
bilheteria do teatro.
FICHA TÉCNICA
Criação, texto e atuação: Samir Murad
Direção: Delson Antunes e Samir Murad
Cenografia: José Dias
Figurino e adereços: Karlla de Luca
Desenho de Luz: Thales Coutinho
Trilha Sonora: André Poyart e Samir Murad
Direção de Movimento: Samir Murad
Videocenário: Mayara Ferreira
Assistente de direção: Gedivan de Albuquerque
Assessoria de Imprensa e mídias sociais: Rodolfo Abreu | Interativa Doc
Programação Visual: Fernando Alax
Fotos: Fernando Valle
Cenotécnico: Mario Pereira
Costureira: Maria Helena
Direção de produção: Fernando Alax
Produção executiva: Wagner Uchoa
Operação audiovisual: Marco Agrippa
Operação de luz: Chico Hashi
Realização: Cia Teatral Cambaleei, mas não caí…
