Nos anos 90 o Brasil passava por muitas mudanças políticas e sociais. Entre o fim da infância e o início da adolescência, vivi de perto as transformações daquele período, em que cada manchete de jornal parecia ditar os rumos de uma nação que ainda aprendia a andar com as próprias pernas – e será que hoje (2024) estamos tentando reaprender. Por isso, ver a tragicomédia Mostra a Tua Cara em cartaz no Teatro Firjan Sesi é como abrir uma janela para um passado que, embora distante, continua ressoando. Com texto de Rogério Corrêa e direção de Isaac Bernat, o espetáculo transporta aos desdobramentos da era Collor, evocando memórias que precisam chegar às novas gerações, como um alerta e uma esperança de que o futuro possa ser diferente.
Situada no Rio de Janeiro em 23 de junho de 1996, data marcada pelo assassinato de Paulo César Farias (então chefe da campanha de Collor), a obra apresenta quatro personagens, cada um situado em um bar diferente da cidade. O elenco é composto por um michê de sauna, interpretado por Thadeu Matos; uma dona de casa de classe média, vivida por Ângela Rebello; um empresário, papel de Alexandre Galindo; e uma cantora de axé, representada por Letícia Isnard. Por meio de diálogos fragmentados, esses personagens revivem os anos durante o governo Collor e como esses eventos moldaram suas existências.
Em relação à montagem da peça, o diretor Isaac Bernat expressa: “Trazer para o público esta tragicomédia vai ser uma oportunidade de repensar o Brasil e talvez perceber que, por mais duro que um tempo seja, ele também vai passar e, quem sabe, servir de alerta para que a história não se repita, nem mesmo como farsa. O futuro não está escrito”.
Rogério Corrêa acrescenta uma análise crítica sobre a situação no Brasil: “No Brasil, parece que estamos numa tragicomédia cíclica, aguentando essas figuras patéticas a cada 30 anos. Como disse Caetano Veloso em seus versos: ‘Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica que sempre precisará de ridículos tiranos?’ Apesar de tudo, tenho esperança de que a gente consiga quebrar esse ciclo vicioso e abraçar um futuro mais promissor”.
O projeto começou a ser desenvolvido durante a pandemia, com uma versão provisória apresentada online. A inspiração para a peça veio da obra “Kennedy’s Children”, de Robert Patrick, que por sua vez influenciou “Os Órfãos de Jânio”, de Millôr Fernandes.
Serviço:
Local: Teatro Firjan SESI Centro (Avenida Graça Aranha, 01, Cinelândia)
Temporada: de 04 de novembro a 10 de dezembro
Horário: 19h
Ingressos disponíveis na bilheteria e pelo Sympla:
https://bileto.sympla.com.br/event/99527/d/283609?share_id=1-copiarlink
FICHA TÉCNICA
Texto: Rogério Corrêa
Direção: Isaac Bernat
Elenco: Alexandre Galindo, Ângela Rebello, Letícia Isnard, Thadeu Matos
Cenário: Dóris Rollemberg
Figurino: Margo Margot
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção Musical: Charles Kahn
Assistente de Direção: Paula Furtado
Coordenação de Produção: Malu Costa e Rogério Corrêa
Operador de Luz: Bernardo Bastos
Operador de Som: Thiago Miyamoto
Assessoria de imprensa: Círculo Comunicações / Cristiana Lobo
Design Gráfico e Mídias Sociais: Gustavo Ferrari (adaptado da arte de Dante)
Fotos: Rômulo Corrêa
Produção: Pinheiro Reis Produções Artísticas
Comente!