As “Caravanas” de Chico Buarque passam com beleza e contundência

Relevância não é sinônimo de relicário. Chico Buarque sabe bem disso. Para além da estatura que seu nome representa, especialmente frente ao passado, é no presente que mira para seguir em frente. Ainda que sendo muito Chico Buarque. Caravanas é seu novo trabalho. É também uma forma de dizer o quanto está atento ao seu redor, não só nas variações de um amor romântico que tanto gosta de confessar em composições certeiras. Sua sonoridade ainda é de uma elegância simples e poética inteligente, sempre coordenadas por seu maestro de anos, Luíz Claudio Ramos.

A primeira música liberada para o público (single?) foi ‘Tua Cantiga’, cantiga pouco arriscada no “universo buarqueano”. Foi só quando o álbum saiu inteiro que entendemos o quanto Chico estava mais inquieto do que essa primeira canção presumia. Se em Blues Pra Bia’ expõe a passionalidade de um amor por uma mulher homossexual, em A Moça do Sonho’ (com delicado violoncelo de Hugo Pilger) canta a melancolia do encontro em frases intensas como “Há de haver algum lugar, um confuso casarão , onde os sonhos serão reais e a vida não”. Essa composição foi feita para o musical Cambaio, por isso os fãs mais xiitas de Chico a reconhecerão de cara.

Dos momentos mais belos do CD está o encontro do cantor com sua neta, Clara Buarque cantando Dueto’, canção que Chico fez com Nara Leão e que é atualizada de maneira graciosa e hilária no fim. Mas as duas músicas geniais do trabalho versam sobre memória e sociedade. A primeira revela que seu outro neto, Chico Brown, é um grande melodista (DNA!), criando uma canção, em cima da letra do avô, que é um primor até dentro se seu repertório: Massarandupió’. Daquelas músicas que o Chico faz e que deixa a gente com sorriso nos olhos.

A outra canção extraordinária é justamente a que da nome ao disco: “As Caravanas“. De versos críticos e farpas para a classe média (sobretudo carioca), a música tem contundência, mas tem também muita beleza em sua construção. Seu refrão grita “Sol, a culpa deve ser do sol, que bate da moleira o sol (…) embaça os olhos e a razão”. Ou seja, o Chico de Construção’ ainda vive dentro de sua maturidade para enxergar o entorno e transformar isso em arte.

Isso ainda é muito impressionante de se perceber. Caravanas é um disco de relevância de um Chico de muito abrangência para nos mostrar. E é muito bom fazer parte de seu presente, aguardando por seus futuros bons como esse trabalho.

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Comentários 1
  1. Eu odeio Chico Buarque – Como me tornei uma semi celebridade

    http://blogodofranciscoaguas.blogspot.com.br/2017/09/eu-odeio-chico-buarque-como-me-tornei.html

    Estou sendo cotado para um reality show de um canal à cabo. Dei entrevista em um talk show de um comediante na madrugada. Fiz comercial de material esportivo de segunda linha. Fui contratado como dj (mesmo sem ser dj) para festas noturnas no interior. Fui jurado em programas de calouros. Cheguei a dar autógrafos, a tirar selfies com fãs. O vídeo que me lançou ao semi estrelato foi o mais visualizado no YouTube no ano. Telejornais faziam matérias sobre o vídeo.
    Minha vida mudou radicalmente. De repente me tornei uma celebridade da segunda divisão. Minha vida pacata e completamente anônima evaporou-se instantaneamente. Passei a ser reconhecido nas ruas, deixei meu emprego de auxiliar de contabilidade em um pequeno escritório no triângulo mineiro.
    Tudo porque em uma pelada de futebol, encerrei a famosa carreira de peladeiro de ninguém mais, ninguém menos do que Francisco Buarque de Holanda! Com um carrinho violento, covarde e vil, rompi os ligamentos dos dois tornozelos do dono do Polytheama!

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