Café Irlandês, poesia de Barbosa Lagos

Na orelha de Café Irlandês, o autor Barbosa Lagos é apresentado por Renato Rezende – seu editor e ótimo escritor e artista visual – como um poeta na confluência e descendência de Gregório de Mattos e Manuel Bandeira. Não gosto desses comparativos. São limitantes e injustos com o surgimento de novos valores e vozes. Obviamente o objetivo de Rezende foi positivo e plenamente aceitável, mas prefiro colher em Barbosa Lagos a essência da sua poesia sem compará-lo a ninguém – até porque nada vi de semelhança com Mattos, sendo que com Bandeira existe apenas a divisão de uma importante sutileza.
Publicado pela Editora Circuito, onde Renato Rezende, responsável pela apresentação de Barbosa Lagos, é o editor chefe, Café Irlandês é um belíssimo livro de poemas. Tanto no aspecto gráfico, com linda capa a partir de uma imagem de Lee Jeffries e projeto de Tiago Gonçalves, quanto em seu conteúdo literário. Apenas não me agrada, pensando em custos, a opção por imprimir os poemas somente nas páginas frontais deixando-se o verso vazio.
A poesia de Barbosa Lagos é agradavelmente rítmica e contemporânea. Provável influência do seu passado enquanto vocalista de uma banda de rock. Formado em Letras não tem um estilo aprisionado pelo academicismo de alguns dos seus pares. Vez por outra a academia é limitante e não é o caso dos poemas encontrados em Café Irlandês.
É interessante a ironia empregada em poemas com temática religiosa (Quando Joana Queimou na Fogueira ou em Uma Facada em Valdemiro – bem atual em tempos em que facadas influenciam eleições). Novamente o passado de roqueiro emergindo livre. O poema título não é o melhor do livro, mas foi bem escolhido no sentido em que orienta a leitura tal um bom irish coffee (café irlandês), com sua força revigorante e suavidade induzindo sempre à mais uma dose até o embriagar-se.
Café Irlandês é a primeira publicação impressa de Barbosa Lagos. Extremamente agradável é daqueles livros de fácil leitura. Como se estivéssemos aproveitando um bom café. Foi uma escolha certeira da equipe editorial da Circuito. A editora só precisa atualizar o seu site – o próprio Barbosa não consta na coluna de autores e não consegui fazer compras on line de outros livros. Portanto, quem desejar comprar o livro deve fazê-lo diretamente com o autor através de suas redes sociais.
Abaixo, dois poemas de Café Irlandês:


 
Café Irlandês
 
Por favor,
um café.
Um café irlandês!
 
Pra que eu me lembre
da minha terra
Pra que eu me lembre
dos meus sonhos
Pra que eu me lembre
do cheiro da grama
Pra que eu me lembre
do gosto da chuva.
 
Por favor,
Um café.
Um café irlandês!
 
Pra que eu lembre de tudo.
 
 
Lembranças da Carne
 
O que sobra
após
a carne virar pó?
 
Apenas lembranças
e
saudade….
….muita saudade!
 
 

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