Há um certo desacerto entre este mundo – planeta imenso que habitamos e nossas apostas (po)éticas em nosso ponto de origem. Digo, nosso cérebro que tudo visualiza (?) através dos nossos cinco sentidos e a escolha de nossos espaços.
Será que é uma questão de referência em optamos pela posse desmedida, onde critérios não há mais, mas sim, pela busca irrefreável do excesso ou sucesso de ocupar.
Ah, o poema! Esta posição que não é neutra, porém sábia. Dizer muito com pouco espaço, espalhar signos linguísticos pelo branco da página. Fazê-lo às vezes apenas pelo prazer estético de brincar. Uma saraivada de dança pelo rodopio dos sentidos num turbilhão de letras, vogais, sílabas, palavras, orações que não perdem ou pedem o sujeito.
O livro do poeta e editor Dênis Rubra É Muito Cedo Para Pensar da editora Rubra, é uma odisseia ao passeio noturno/entorno. Mas queridos, ele é uma procura arquetípica pelos espaços; estes que a própria noção fabular encontra na relação entre ação, lugar, e moral. Desde as espetadas do nosso fabulário de desencontros urbanos onde o engarrafamento é uma espécie de nó narrativo.
Todos estamos por dever ou a ver navios. Procurar espaços é, antes de tudo, ver as lacunas onde a poesia pode ressignificar o conteúdo, este planeta que dá voltas em órbitas cada vez mais concêntricas.
Dênis utiliza de forma exemplar a elasticidade da linguagem em abarcar a própria forma; sua maleabilidade em junções, neologismos, gírias, trocadilhos, porém, através da aparelhagem dos sentidos do ver e ser visto, não abarcamos ou não conseguimos dar o samba ou a letra da enorme confusão entre teoria e práxis.
Queria-se como tantos Cartolas que o samba de um mestre que às vezes apenas quer sentar num bar, e tomar aquela cervejinha gelada, fazendo uma canção para namorada, e depois voltar para casa com a música já poetizada.