Novas temporadas de “Orange is The New Black” e “Bloodline” exprimem maneirismos de seus formatos

A estrutura dramatúrgica dos seriados tem seus ônus e bônus. Os ganhos estão no campo vasto de desenvolvimento de uma história e nas ramificações que isso pode agregar. Por outro lado, a diluição é bem relativa quando não, nociva ao andamento de uma trama. Os exemplos são muitos e constantes. Essa última temporada de Game of Thrones levou isso ao paroxismo. O que também podemos dizer sobre as últimas temporadas exibidas de duas das séries do cardápio da Netflix: Orange is the New Black e Bloodline.
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A quarta temporada de Orange is the New Black, apesar de vir de um clímax promissor no fim do terceiro ano, levou mais da metade de seus episódios “correndo atrás do próprio rabo” num problema já identificado antes, onde sua protagonista Piper (Taylor Schilling) e a sua trama em si, não conseguem segurar a estrutura principal de série. Com isso, outras (boas) personagens foram crescendo no sentido de espinha dorsal mesmo, e isso fica bem evidente ao longo dessas quatro temporadas exibidas.
Assim, o roteiro depende da inspiração para cada personagem escolhido, o que já demonstra um certo desgaste. Até que nos três últimos episódios, um dispositivo narrativo bastante explorado – a tensão étnica dentro do presídio – começou de fato, a funcionar para a fluidez da trama, apesar da caricatura de um vilão dos mais fugazes.
Mas a musculatura da temporada veio mesmo quando, para simbolizar o discurso impetrado até ali – o roteiro passou a dar dimensão para a personagem Poussey (Samira Wiley), rendendo cenas antológicas, como a digressão com os “monges” e o seu próprio desfecho (com reverberações em dois episódios). Assim, a série termina de maneira melancólica e dinâmica, deixando uma deixa sedutora para seu próximo ano. Mas a sensação de desgaste não desaparece…
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Bloodline teve uma boa primeira temporada, com sua estrutura bem construída, habilidade dos seus criadores Todd A. Kessler, Glenn Kessler e Daniel Zelman. Nesse segundo ano, após a reviravolta da trama, onde uma família é assombrada pelo seu passado, representado na figura de seu filho mais velho Danny (Ben Mendelsohn, excelente), ovelha negra que suscita os problemas que desestrutura toda a casa.
Nesse segundo ano, também é notável que os roteiristas tiveram muito trabalho para renovar o interesse por aquele núcleo familiar, lançando mão de recursos quase folhetinescos para tal. Não que isso seja necessariamente seja um problema. Mas na série, a traminha do neto rebelde do filho problemático cansa, assim como a investigação desenvolvida de maneira bem atravancada para os poucos elementos dramáticos que o roteiro entrega. Tanto que, nos três últimos episódios, a história deslancha de maneira vertiginosa, numa amarração bem construída dos fatos (que poderia ser feita já no quarto episódio, vale dizer). A temporada termina de maneira tão tensa e corajosa, que a espera para a próxima (já confirmada) é quase um exercício de sadismo.
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Orange is the New Black e Bloodline, dentro de seus aparentes defeitos (de suas próprias naturezas estruturais) e derradeiras qualidades (que são muitas), são exemplos de como o formato requer uma dinâmica dramatúrgica mais estruturada que propriamente construída.
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