O Circo Voador tem bastante gratidão pelo Skank. A lona ficou interditada pelo então prefeito em final de mandato Cesar Maia, que teve a “brilhante” ideia de comemorar a vitória do seu sucessor Luiz Paulo Conde na casa. Quem se apresentava ali eram os Ratos de Porão. Banda e plateia receberam os políticos aos xingamentos, o prefeito determinou o fechamento do local. Durante esse período em que o Rio ficou privado de sua mais emblemática casa de shows, vários eventos em prol da volta do Circo foram realizados. Inclusive um da banda mineira. Eles receberam o cachê pago com muito sacrifício, e mandaram uma foto com o cheque rasgado. Eles afirmaram que queriam apenas colaborar com a empreitada.
Na noite de anteontem (24/11) eles lotaram a casa (que tão cedo não fecha) para relembrar seus três primeiros discos. Como se esperava, foi uma chuva de hits. E também uma ótima oportunidade para conferir ao vivo faixas que não entram em shows regulares.
A música que abriu o show, ‘Réu e Rei’, do primeiro álbum, é um exemplo dessas raridades. O repertório foi dividido em módulos, em que os álbuns se apresentavam cronologicamente. No entanto, as faixas não seguiam a ordem do disco. Do debut se sucederam ‘Baixada News’ (a primeira que estourou) e ‘Tanto’ (versão de ‘I Want You’ de Bob Dylan). Outra faixa rara foi a versão dancehall de ‘Let Me Try Again’. ‘In(Dig)nação’ foi dedicada aos políticos e, claro, houve gritos de “fora Temer!”.
Do segundo álbum, “Calango”, veio o desfiladeiro de sucessos (como ‘Jackie Tequila’, ‘Pacato Cidadão’ e ‘Te Ver’). Até porque das 11 faixas desse álbum seis viraram hits. A raridade ficou por conta do “rock caipira” ‘A Cerca’. Poderiam esticar um pouquinho o set e incluir ‘Estivador’, por exemplo.
“O Samba Poconé” foi o maior êxito comercial dos mineiros, mas dessa trinca inicial foi o que emplacou menos hits. ‘Garota Nacional’, que impulsionou as vendas, eclipsou o resto das faixas. ‘Tão Seu’ e ‘É Uma Partida de Futebol’ foram as que conseguiram dividir um pouco os holofotes com o single. Por isso fizeram questão de colocar no repertório músicas que boa parte do grande público sequer conhece, como ‘Os Exilados’, o “ska-frevo” ‘Poconé’ e a parceria com Manu Chao ‘Sem Terra’. E ‘Garota’ apareceu com um interessante acento beatlesque (precisamente na fase “Revolver”). Inicialmente esse seria um show com o álbum na íntegra, ainda na comemoração dos 20 anos completados em 2016. Mas daí surgiu a ideia de celebrar os dois antecessores também.
Pelo tempo regulamentar, seriam 21 músicas. Mas teve espaço para um bis. Afinal, o Skank ainda lançou muitos sucessos depois do terceiro disco. Samuel Rosa brincou dizendo que as imagens para o DVD (que estava sendo gravado) já estavam asseguradas, então propôs tocar algumas músicas mais recentes. O público, lógico, vibrou com a ideia. E daí foram executadas ‘Resposta’, ‘Acima do Sol’, a versão de ‘Vamos Fugir’ de Gilberto Gil (da qual eles se apropriaram tão bem), ‘Saideira’, ‘Três Lados’. ‘Vou Deixar’ fechou as duas horas e meia de festa.
O Skank vem sendo usado no Rock In Rio como atração de abertura de uma das noites. Exercendo aquela função de aquecer o público para os headliners gringos. Os mineiros provam em seus shows exclusivos que são mais do que isso. Com mais de 25 anos de estrada, o quarteto demonstra pleno domínio de palco e de seus instrumentos. Esse show comemorativo serviu também para refrescarmos a memória quanto à força dos primeiros trabalhos, que já mostravam elementos consolidados em discos mais ambiciosos lançados posteriormente.