Freddy Krueger ataca suas vítimas nos sonhos, ele quer que morram enquanto estão dormindo! Ali mesmo no inconsciente, a batalha é ali, nos sonhos. Para a Psicanálise, os sonhos são manifestações disfarçadas dos desejos reprimidos, além de traumas, medos e conteúdos que a consciência não tolera. O inconsciente é um repositório. Freddy então representa essa força do inconsciente que retorna de forma ameaçadora, o famoso retorno do recalcado que anseia por seu espaço, por ter sua vontade e teor expostos.

Em teoria, quando algo é recalcado, ou seja, reprimido, ele não desaparece, apenas sai de cena do que é aparente. Só que a solução é temporária, mais que isso, é uma solução por si só volátil demais, na medida que o recalque em geral volta de forma distorcida. Essa nova aparição é através do sintoma, do sonho, ou mesmo através do pesadelo. Freddy é visto pela cultura popular como a personificação desse retorno do recalcado, como um trauma coletivo, muito provavelmente por ser a cara da morte, a indicação de que a morte está rondando! No decorrer dos filmes, os crimes que Freddy comete serão reprimidos pelos adultos, no entanto Freddy volta para assombrar os filhos deles, as novas gerações, os descendentes. É uma analogia para o fatídico. Quer dizer que voltam, não é possível escapar. Os temas da mente não têm relógio, o tempo na mente é impreciso, no mundo dos sonhos também, então Freddy se solta e mostra àquelas pessoas, suas vítimas, que ele é a projeção desses medos, toda a carga, ansiedades, o material não resolvido!

A problemática da pulsão de morte também é representada pelas atitudes do personagem: ele se fere, destrói a si mesmo em uma clara exibição de desleixo sobre o corpo e sua integridade, mas também para horrorizar suas vítimas. Freddy Kruger descreve em atos o impulso inconsciente em direção à destruição, ao retorno ao estado inorgânico. Ele não apenas mata, mas faz isso dentro desse espaço íntimo, subjetivo e incontrolável que é o sono; onde a pessoa deveria estar segura e em descanso, é ali que ele aterroriza, muito na tentativa de mostrar a dor através do medo da morte.

A presença desenfreada, extravagante, de Freddy nos sonhos pode ser lida como a materialização de angústias primitivas, como o medo da castração, da perda de controle, da impotência diante do mal ou da sexualidade perversa, tudo isso está presente de forma simbólica nas figuras e métodos de Freddy, que é sempre sadicamente ambíguo em termos sexuais e violentos. A técnica do apavorante é sua arma, e só o fato de alguém perceber que cai no sono, fica em pânico. Pânico e culpa por se deixar levar pelo sono, o angustiante medo do que pode acontecer se adormecer, caracteriza todo esse treino diário para o repouso que é a morte. Culpa muitas vezes projetada ou vivida como perseguição, o que explica o caráter repetitivo e inevitável dos ataques de Freddy. Ele se manifesta como a culpa que volta sempre, o sono que vem todos os dias, um desleixo ao deixar o corpo tomar o controle da situação por meio do sono.