Crítica: "Êxodo: Deuses e Reis" e sua evangelização visual

Crítica: "Êxodo: Deuses e Reis" e sua evangelização visual – Ambrosia

A amálgama entre os livros bíblicos e suas adaptações para o cinema sempre se representou pela estética do entretenimento. Quase que como para arejar um assunto de nichos, mesmo dentro de um mundo, em grande parte, absorto nos ditames do cristianismo. Claro que essa reflexão vem muito do cinema feito, lá trás, por Cecil B. DeMille (Os Dez Mandamentos).
O diretor Ridley Scott investiu nesse paradigma diante da grandiloquência de seu Êxodo: Deuses e Reis e essa opção revela-se o maior êxito de seu filme. A própria abordagem da clássica história bíblica já visa mais ação e menos solenidade: Moisés (Christian Bale, correto), o grande general de confiança do Faraó Seti (John Torturro) e muito próximo do herdeiro do trono, Ramsés (Joel Edgerton) potencializa sua preocupação com o acossado povo judeu do Egito, após descobrir tardiamente que também é judeu. Essa descoberta sublinha sua relação conflituosa com Deus e impõe seu objetivo de livrar seu povo da escravidão, antagonizando assim, sua relação com o trono a qual servia.

Para os (muitos) que conhecem a passagem bíblica, o filme toma liberdades poéticas demais. Dramaturgicamente, o roteiro procura delinear os conflitos macros da conhecida história, fortalecendo as dinâmicas individuais de seus personagens. Moisés mesmo, ganha uma áurea de humanidade até bem interessante do ponto de vista de sua relação com Deus, que passa da descrença ao desafiador. Tamanha liberdade expõe uma necessidade mercadológica da superprodução se enquadrar nos ditames da fórmula épica – da qual Scott tem bastante experiência.
Buscar o entretenimento como fórmula nem é um problema. Por isso citei DeMille. Mas o diretor talvez tenha deixado a trama derivativa demais, não diferindo muito dos outros exemplares do gênero. Claro que Scott é mais inteligente do que as necessidades de seus estúdios, e Êxodo: Deuses e Reis faz um bom paralelo com o que é o Oriente Médio ainda hoje. Até mais do que isso: aponta como a “didática da religião” foi tão perniciosa para borrar o que se entende como tolerância. Mas, como cinema, o épico vacila e encanta (as cenas das pragas do Egito e a busca pelo tom realista para a abertura do Mar Vermelho são de impressionar).
Na busca por entreter (e não evangelizar), Ridley Scott fez um filme-espetáculo (visual), mas carente de densidade (emocional).

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