Crítica: "Hércules" acerta ao humanizar a lenda, mas erra pela pouca personalidade

Já tem algum tempo que Hollywood quer emplacar de qualquer jeito o ex-lutador Dwayne Johnson, também conhecido como The Rock, como o sucessor natural de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger no coração dos fãs dos filmes de ação com muita força bruta. Primeiro, foi como o Escorpião Rei, em “O Retorno da Múmia”, sua estreia nas telas em 2001. Depois, vieram várias outras produções que exploraram seu carisma e, claro, seus músculos. Algumas mais ou menos bem sucedidas, outras nem tanto. Mas após sua participação em franquias consagradas como “Velozes e Furiosos” e “G.I. Joe”, o seu nome começou a ficar realmente mais conhecido, ao mesmo tempo em que fazia comédias com apelo mais infantil, como Schwarzenegger fez no passado. Agora, Johnson teve mais uma oportunidade de se destacar vivendo o papel título de “Hércules” (idem, 2014). A nova versão das aventuras do famoso herói da Mitologia Grega está longe de ser o filme do ano (nem se pretende a isso, é verdade), mas garante bons momentos de diversão.
HERCULES
 
Na trama, após realizar seus famosos 12 trabalhos, Hércules (Johnson) perde sua família de maneira trágica e deixa Atenas para viver como um mercenário pela Grécia, acompanhado de seus companheiros de batalha. Até que, um dia, ele é encontrado por Ergenia (Rebecca Fergunson), filha do Rei Cótis (John Hurt), e lhe pede que ajude a enfrentar o exército liderado por Rhesus (Tobias Santelmann), que está aterrorizando a Trácia, tornando seus soldados melhores em combate. A princípio relutante, Hércules aceita o convite em troca de ouro. Mas logo vai perceber que a questão é bem mais problemática do que imagina.
HERCULES
Ao retratar o semideus de uma forma bem mais humanista, “Hércules” se diferencia das versões anteriores levadas ao Cinema, já que, aqui, ele não age como se fosse indestrutível, quase como um robô sem sentimentos. Apesar de excelente no campo de batalha, ele sofre pela perda de sua família e o bom trabalho de Dwayne Johnson (que está bem melhor como ator, mas também não é nenhuma Brastemp) ajuda o espectador a criar empatia com o personagem, cujos feitos são exaltados pelo sobrinho Iolaus (Reece Ritchie), não só para conquistar a admiração, mas também o medo de seus inimigos. Com essa questão levantada sobre o que é verdade ou não sobre a lenda mitológica, o filme cresce bastante.
HERCULES
É uma pena, no entanto, que a direção de Brett Ratner (da trilogia “A Hora do Rush”, “Dragão Vermelho” e “X-Men: O Confronto Final”) não procure dar um estilo próprio à narrativa e se preocupe mais em realizar sequências que lembram (e muito!) outras produções épicas, como “Gladiador”, “300”, “Fúria de Titãs”, entre outras. Além disso, alguns elementos poderiam ser melhor trabalhados e mais originais. Um exemplo disso, são os guerreiros que Hércules enfrenta numa batalha que são bem parecidos com o personagem principal do game “God of War”. Assim, a ação do filme fica bastante parecida com que tem sido visto ultimamente na telona. Não compromete, mas também não empolga de verdade. Além disso, o 3-D, embora bem feito, não é extremamente necessário para a história. Os efeitos especiais são corretos, mas não espetaculares.
HERCULES
O que também é destaque positivo em “Hércules” é seu elenco de apoio. Ian McShane, como o profeta Amphiaraus, tem bons momentos no filme, especialmente quando trava diálogos bem-humorados com o protagonista. O veterano John Hurt consegue dar uma certa profundidade ao seu Rei Cótis, deixando seu personagem menos esquemático. Além disso, é interessante a escalação de Rufus Sewell, que geralmente faz papéis de vilão, e que aqui vive Autolycus, um dos companheiros do Filho de Zeus em suas aventuras. Entre as mulheres, assim como Rebecca Fergunson, a norueguesa Ingrid Bolso Berdal também chama a atenção como a mercenária Atalanta por seu vigor nas cenas de batalha. Já a modelo Irinia Shayk, famosa por namorar o craque português Cristiano Ronaldo, serve apenas para mostrar sua indiscutível beleza, como a esposa de Hércules. O maior desperdício, no entanto, é Joseph Fiennes. Mais conhecido por sua performance no papel principal do oscarizado “Shakespeare Apaixonado”, o irmão de Ralph Fiennes tem pouco a fazer como o Rei Euristeus, de Atenas. Parece que o ator não vive uma boa fase no Cinema.
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Inspirado na graphic novel “Hercules – The Thracian Wars” (2008), de Steve Moore, o filme tem seus altos e baixos, mas é um bom passatempo para quem é pouco exigente e só quer passar cerca de duas horas se divertindo numa sala escura. A superprodução pode não ter cumprido o objetivo de colocar Johnson de vez no Olimpo dos maiores astros de ação de todos os tempos, mas pelo menos não vai jogá-lo no purgatório do ostracismo, para onde muitas possíveis estrelas se encontram até hoje. Talvez ele se consagre no futuro com o papel do vilão Adão Negro na adaptação do herói dos quadrinhos Shazam (ou Capitão Marvel, como era chamado até pouco atrás) para a Warner Bros, que quer levar a Liga da Justiça para o cinema. O jeito é aguardar e saber se Zeus realmente está do seu lado.

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