“A finitude é o destino de tudo“, já dizia, sabiamente, José Saramago. E apesar de baseado (integralmente) no best-seller de John Green, A Culpa é das Estrelas me fez lembrar dessa frase do renomado escritor português.
Assim como o livro, o filme vem fazendo um sucesso invejável em seu circuito (para citar só o Brasil, fez 1 milhão de espectadores em apenas 1 final de semana) e é relativamente fácil compreender isso: a história é forte (mesmo dentro de sua previsibilidade) e os personagens cativam. Livro e filme estabelecem esse paradigma.
O roteiro (Scott Neustadter e Michael H. Weber) são dos mesmos do ótimo 500 Dias com Ela, e por isso nota-se que, apesar de se tratar de um história de amor entre dois jovens que se conhecem num grupo de apoio para pacientes com câncer, a narrativa se desvencilha quase perfeitamente dos clichês melodramáticos e transcorre pela leveza objetiva de um bom filme despretensioso.
Dirigido por Josh Boone, o filme acerta ao investir no carisma de seus protagonistas. Não somos levados ao sentimentalismo vil da penalização. Vamos aos poucos nos envolvendo pelo estado de espírito (e a ótima química) dos momentos de constante cumplicidade que se constrói nesse encontro. Óbvio que a escalação precisaria ser muito bem sacada, e esse é o grande lance do filme: seus protagonistas. Ansel Elgort, que vem trilhando com talento seu caminho em Hollywood, e a maravilhosa Shailene Woodley, que desde Os Descendentes só reforça a sensação que vai se tornar uma das atrizes mais interessantes do cinema americano. Seu talento fica ali entre o cool e o preciso, e sempre muito bem.
Por mais que, vez por outra, escorregue em cafonices do gênero (os aplausos dos figurantes do beijo do casal é o mais gritante), Boone conduz seu filme através dos gestos de seus personagens, o que torna tudo mais honesto, dentro do que se propõe. Seja um sorrido condescendente de Elgort, seja um estilismos visual corriqueiro, ou mesmo o humor salpicado entre e pelo drama.
No final das contas, estamos entregues àquela história com a expectativa dolorosa de um fim que se anuncia. E quando chega, engolimos a seco, para além de todo oportunismo cênico para fazer plateias chorarem. Na verdade, bate fundo a questão da finitude do amor em nossas memórias pessoais. Compreendendo que mais do que o tempo, é o destino que determina a vulnerabilidade contida no verbo amar. Bonito filme.
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Talvez seja esse traço de finitude na relação dos personagens e no enredo que faz-me sempre lembrar de Inquietos, do Van Sant.
Ah Inquietos!!!! <3