Júlio Sumiu tem o talento de Lilia Cabral como grande trunfo

Júlio Sumiu tem o talento de Lilia Cabral como grande trunfo – Ambrosia

‘Júlio Sumiu’ (Brasil/ 2014) é uma livre adaptação do livro homônimo do “Seu Casseta” Beto Silva. Livre, porque a produção, dirigida por Roberto Berliner e roteirzada pelo prórpio Beto junto com Patrícia Andrade, não é uma transcrição literal, inclusive suprime alguns personagens que constam na obra que serviu de matéria prima.
A trama conta a confusão em que se mete Dona Edna (Lilia Cabral), que acorda no meio da noite e se desespera ao saber que Julio, seu filho caçula, desapareceu sem deixar vestígios. Preocupada com a falta de ação da polícia, ela sobe o morro para fazer um acordo com o traficante Tião Demônio (Leandro Firmino da Hora), que estaria supostamente mantendo seu filho como refém. No meio de um tiroteio, Edna se vê obrigada a levar para casa sacolas cheias de drogas. Com a ajuda de Sílvio (Fiuk), o filho mais velho, ela transforma o apartamento em uma “boca de fumo” para pagar o resgate de Julio. Em meio a muitas confusões e reviravoltas, essa dona de casa conservadora muda sua vida e seus princípios tentando salvar a família.
O filme segue uma linha bastante semelhante à do britânico ‘O Barato de Grace’, fazendo troça da situação, no mínimo inusitada, de uma senhora dona de casa acima de qualquer suspeita vendendo drogas.

No geral as piadas do filme não saem muito do terreno da banalidade. Algumas provocam gargalhadas, como a bandeira do time argentino Boca Juniors estendida na janela para indicar que a boca de fumo está operando seu expediente. Outras porém, nem tanto, como na hora em que o inspetor de policia diz a seu assistente que tem azeitona nesse pastel, e este replica: “não, é de queijo”.
O que sustenta o filme (que tinha tudo para perder completamente a graça e o propósito após a primeira meia hora) até o final é o desempenho do elenco central. Lilia Cabral é dona de um talento insofismável tanto para comédia quanto para o drama. É impossível não sentir empatia com sua Dona Edna. A atriz consegue extrair graça até das piadas menos inspiradas, que não são poucas ao longo da projeção. A dobradinha Fiuk e Hugo Gravitol funciona muito bem, como a dupla de viciados que remete a Cheech e Chong. Os dois em cena têm bons momentos.

Por outro lado os personagens mais secundários são subaproveitados. Stephan Necersian é um verdadeiro desperdício de talento na pele do delegado Barriga. A periguete Madá (Caroline Dieckman, que consegue ficar mais linda a cada aparição) tem a mera função de adorno. Já Leandro Firmino da Hora no papel do traficante Tião Demônio apenas reprisa de maneira esquálida o bandido Zé Pequeno de Cidade de Deus, personagem que lhe deu fama e entrou para o hall dos vilões do cinema nacional. Até piadinha referencial tem aqui. Pena que não funcione. O colega de Casseta e Planeta Hélio dela Peña faz uma aparição como cliente da boca de fumo, mas apenas como uma brincadeira entre amigos, sem nenhuma relevância para a trama.
Júlio Sumiu é um filme que não gruda na retina e se apóia no peso do elenco para emplacar. Quanto ao script é um emaranhado de clichês, piadas velhas e recicladas. Essa reciclagem é uma característica que Beto Silva trouxe do Casseta e Planeta, mas que a trupe sabia, em seu programa de humor semanal (mais precisamente nos primeiros 7 anos) reproduzi-las com frescor de inéditas. O que não ocorre aqui, onde elas surgem com aspecto surrado e gasto. Para quem gosta de humor bufão, pode ser uma boa pedida, mas a justificativa do ingresso é a presença de Lilia Cabral no fotograma

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