"O Homem nas Trevas" surpreende com clima claustrofóbico e sufocante – Ambrosia

“O Homem nas Trevas” surpreende com clima claustrofóbico e sufocante

Apesar da grande profusão de novos títulos, o cinema de terror e suspense não tem apresentado grandes inovações no gênero, preferindo apostar em produções bastante similares umas com as outras.

Se, por exemplo, um filme com zumbis ou espíritos que assombram uma família faz sucesso, aparecem outros com temáticas bem semelhantes. Isso aconteceu recentemente após a boa bilheteria de “Invocação do Mal” e sua sequência, assim como “Guerra Mundial Z” (que também vai ganhar uma continuação) e os remakes de obras que marcaram época, como “Poltergeist – O Fenômeno”, que ficam bem aquém do original. Por isso, é realmente muito bom quando surge um filme que nada contra a corrente e obtém um resultado mais do que satisfatório.

Esse é o caso de “O Homem nas Trevas” (“Don’t Breathe”, EUA/2016), que parte de uma premissa bem interessante e faz o suspense e a tensão atingir níveis acima do que foi visto ao longo de 2016, tornando a produção uma das mais angustiantes do ano.

A história é centrada em Alex (Dylan Minnette), Rocky (Jane Levy) e seu namorado Money (Daniel Zovatto), três jovens ladrões de Detroit, que invadem e roubam casas de uma maneira bem planejada para que não sejam pegos. Um dia, são chamados a realizar mais um roubo, desta vez num local onde mora um homem cego (Stephen Lang), que teria uma grande quantia em dinheiro, num local decadente e abandonado da cidade.

A missão, que parecia fácil, se torna um grande pesadelo porque o morador se revela uma pessoa nem um pouco indefesa e bastante habilidosa com armas e no combate corpo a corpo, além de possuir segredos realmente aterradores, criando um verdadeiro jogo mortal de gato e rato. Logo, Alex, Rocky e Money se veem encurralados e precisam lutar por suas vidas ao perceber que a vítima passou a ser um perigoso algoz.

Após realizar “A Morte do Demônio”, um dos remakes mais eficientes dos últimos anos, o diretor uruguaio Fede Alvarez mostra que sua versão para o terror de Sam Raimi (que aqui aparece como um dos produtores) não foi uma sorte de principiante e realiza mais um ótimo trabalho em “O Homem nas Trevas”, fazendo com que o suspense vá crescendo aos poucos até deixar o espectador completamente angustiado com o clima sinistro que vai sendo criado sem pressas ou atropelos, um erro que vem acontecendo em muitos filmes de terror.

Outro destaque da produção é o seu design, que transforma a casa em mais um personagem, que vai se transformando lentamente numa espécie de labirinto, cada vez mais impossível de encontrar a saída. Alvarez faz questão de mostrar os cômodos da casa em planos-sequência para dar a real impressão de que o trio de ladrões está em desvantagem desde que pôs os pés dentro do local para o seu roubo.

O roteiro, escrito pelo diretor e Rodo Sayagues, também merece destaque por mostrar que as motivações dos jovens para assaltar o homem cego (especialmente Rocky) têm a ver com o que está acontecendo com cidades como Detroit, que sofreram um baque com a crise econômica que assolou os Estados Unidos recentemente, o que levou muitas pessoas a cometerem crimes. Além disso, muitos moradores foram despejados ou tiveram que deixar suas casas por não terem mais condições de pagá-las, o que justifica o fato de mostrar que a região onde o homem cego mora ser praticamente abandonada.

O texto só peca em dar ao vilão algumas capacidades que beiram o surrealismo, como torná-lo rápido demais ao se mover de uma parte a outra da casa, a ponto de ninguém perceber sua presença até ser tarde demais. É claro que justificar que ele era um militar com grandes conhecimentos de combate antes de perder a visão (mostrado através de fotografias espalhadas pela casa) se tornou necessário para que suas habilidades não soassem gratuitas durante o filme. O recurso, obviamente, é usado para criar mais sustos no público, mas não deixa de ser implausível.

No pequeno elenco, o destaque vai, obviamente, para o veterano Stephen Lang, mais conhecido do grande público como o vilão de “Avatar”, que aqui tem um dos papéis de maior destaque em sua carreira. O ator aproveita a oportunidade e cria um verdadeiro Bicho-Papão moderno, com uma moral distorcida e uma selvageria que vai se mostrando à medida que a trama vai acontecendo, e que nem a falta de visão é capaz de atrapalhá-lo para destruir quem estiver no seu caminho.

Jane Levy, que também protagonizou “A Morte do Demônio”, transmite bem o desespero de Rocky ao se ver presa numa verdadeira armadilha ao mesmo tempo que convence com sua determinação  para conseguir realizar o roubo. Já Dylan Minnette, visto em  “Goosebumps: Monstros e Arrepios”, e Daniel Zovatto estão apenas OK em suas atuações.

Com um bom desfecho que dá chances para uma continuação, “O Homem nas Trevas” se revela uma grata e assustadora surpresa no gênero suspense e terror de 2016 e mostra que não precisa muito para obter bons resultados neste estilo. O filme prova que Fede Alvarez tem tudo para se tornar um nome cada vez mais conhecido para aqueles que adoram sentir medo no escurinho do cinema. Aguardemos os próximos projetos deste promissor cineasta.

Filme: O Homem nas Trevas
Direção: Fede Alvarez
Elenco: Jane Levy, Stephen Lang, Dylan Minnette, Daniel Zovatto
Gênero: Terror/Suspense
País: EUA
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Sony Pictures
Duração: 1h 28 min
Classificação: 16 anos

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