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“Olhos da Justiça” consegue a proeza de ser um bom remake

Quando ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010, “O Segredo dos Seus Olhos” surpreendeu muita gente, pois ele não era o favorito, já que muitos apontavam “A Fita Branca” como o provável vencedor da estatueta dourada naquela categoria. No entanto, praticamente ninguém questionou a decisão da Academia porque o filme de Juan José Campanella tinha, sim, inúmeras qualidades e reforçava, tanto o talento do diretor, quanto de seu protagonista, Ricardo Darín. Hollywood também parece ter gostado da produção argentina e não demorou muito para que a história ganhasse uma versão americana. Depois de cinco anos de indas e vindas, finalmente chegou aos cinemas “Olhos da Justiça” (“Secret in Their Eyes”), que, se não chega à excelência da obra original, pelo menos faz uma boa adaptação da trama para os Estados Unidos, graças a um bom roteiro e um elenco estelar que segura bem as pontas.

Ambientada em Los Angeles, a trama começa em 2002, quando os policiais Ray (Chiwetel Eijofor) e Jess (Julia Roberts) são chamados para investigar o caso de uma garota que foi estuprada e morta. Ao chegarem ao local, descobrem que a vítima é Carolyn (Zoe Graham), filha de Jessie. Depois do choque inicial, os dois chegam ao possível suspeito do crime, um jovem chamado Marzin (Joe Cole). Mas apesar das evidências, o rapaz acaba não sendo preso porque auxilia nas investigações como testemunha de atos de terrorismo. A decisão do promotor Martin Morales (Alfred Molina) afeta as vidas de Jess e Ray, que decide deixar a polícia. Porém, 13 anos depois, ele volta a Los Angeles e reencontra a velha amiga e Claire (Nicole Kidman), que se tornou a nova promotora, e pede para que reabra o caso porque tem provas sobre o paradeiro de Marzin e pode, finalmente, levá-lo para a cadeia. Só que Ray vai descobrir alguns segredos que vão tornar a situação ainda mais complicada, não só para ele, mas também para Jess. Além disso, Ray e Claire também terão que reavaliar o que sentem um pelo outro, desde que se conheceram.

O diretor e roteirista Billy Ray (que tem em seus créditos o roteiro de “Capitão Phillips” e a direção de filmes como “Quebra de Conduta” e “O Preço de uma Verdade”) tinha em suas mãos o difícil trabalho de transportar “O Segredo dos Seus Olhos” para solo americano e, sabendo que não poderia superar o trabalho de Campanella (que aqui é creditado como produtor executivo), faz com que os melhores elementos da obra original trabalhem a seu favor. Um de seus méritos é que ele consegue manter o interesse na trama, mesmo para aqueles que já viram o filme argentino e conhecem suas reviravoltas, pois ele não quis somente recriar o que funcionou, mas também adicionar elementos que dão um novo escopo à história, como a inclusão de personagens que eram apenas citados e cenas que são estendidas, especialmente num momento crucial da produção.

No entanto, em termos de comparação, o cineasta perde feio em termos de originalidade. Um bom exemplo disso é a já famosa cena que ocorre num estádio (no original, foi num estádio de futebol e, aqui, é de beisebol), feita de forma mecânica e sem nenhum vigor, como se estivesse seguindo uma receita de bolo. Além disso, a escolha de transformar a personagem de Julia Roberts numa espécie de metade de um dos personagens do filme de Campanella (a outra é Bumpy, interpretado por Dean Norris) não funciona a contento. Outra coisa que pode incomodar um pouco foi colocar a questão do terrorismo como mola mestra das reviravoltas. Talvez por ser algo que faça mais sentido para os americanos do que para outros países.

Mesmo com esses problemas, “Olhos da Justiça” tem seus méritos, especialmente pelo trio central de seu elenco. Chiwetel Eijofor, que herdou o papel que seria de Denzel Washington, comprova mais uma vez ser um ótimo ator e consegue expressar muito bem a obsessão e a angústia de Ray, que carrega a culpa por não ter conseguido prender o assassino de Carolyn no passado. Nicole Kidman, além da beleza que parece inesgotável, mostra segurança como Claire, especialmente numa cena de interrogatório, além de mostrar uma boa química com Eijofor. Já Julia Roberts soa convincente com a amargura que Jess passa a sentir após a morte da filha e deixa isso bem claro, não só pela desglamurização de seu visual, mas também pelo olhar perdido e melancólico, que faz o público se compadecer de sua dor.

“Olhos da Justiça” consegue, no fim das contas, se tornar uma boa refilmagem, ainda que desnecessária de “O Segredo de Seus Olhos”. O filme serve especialmente para quem não conhece o filme original, que tem uma nova chance de ter o contato com uma ótima história. Quem já conhece, pode até curtir para notar as alterações feitas pelos seus realizadores. É uma pena, no entanto, que Hollywood, cada vez mais, prefira requentar tramas já existentes ao invés de investir em coisas novas, só pela questão financeira. Pode ser que um, dia, essa ideia não dê mais certo e, aí, o cinema americano pode se meter em numa séria encrenca.

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