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“Desajustados” reflete e questiona os padrões sociais preestabelecidos

Eram muito comuns nos anos 90 filmes sobre as angústias, dilemas e conflitos acarretados pela chegada aos 30 anos. A famosa crise dos 30. De uns anos para cá, o foco parece ter se voltado para a crise dos 40. Alguns exemplos podem ser dados, desde comédia como “O Virgem de 40 Anos”, até o recente e singelo “Enquanto Somos Jovens”, passando ainda por “Bem-Vindo Aos 40”.

Seriam mesmo os 40 os novos 30? A verdade é que quando aos 30 anos você ainda não se realizou e alcançou seus objetivos, a sociedade é um pouco mais condescendente. Mas quando você alcança o glorioso 4.0 sem corresponder às expectativas (bom emprego, carreira, casamento, casa própria) o peso que recai  é indubitavelmente maior. Mesmo que o sujeito procure se manter alheio a essa pressão, de um jeito ou de outro ela é sentida. É o caso do protagonista de “Desajustados” (“Fúsi”, Islândia/Dinamarca, 2015).

Fúsi (Gunna Jósson), personagem que dá o nome original do filme, já passou dos quarenta e é o arquétipo do fracassado: ainda mora com a mãe super protetora, tem um emprego ruim empilhando bagagens no aeroporto, não tem nenhum traquejo social, não tem namorada e seu hobby é colecionar carrinhos, action figures e reproduzir batalhas da Segunda Guerra com cenários em miniatura. Porém, quando se inscreve em um curso de dança, ele conhece Sjöfn (Ilmur Kristjánsdóttir) que irá provocar uma mudança em seu comportamento e em suas prioridades. O título em português certamente foi criado para recair sobre Fúsi e Sjöfn, mas poderia muito bem se adequar à mãe e seu namorado, e até ao pai da menina com quem o personagem trava uma amizade. Todos são disfuncionais de alguma forma.

Em meio às peças que compõem o cenário, Fúsi não seria, então, a única aberração, é marginalizado apenas por não se encaixar dentro das convenções estabelecidas. A menina, que no primeiro momento é a única conexão real com o mundo externo, consegue estabelecer um vínculo facilmente, justamente por ainda não estar impregnada dos conceitos e preconceitos que o empurram para a margem. Seu outro amigo é um adulto, que compartilha do mesmo hobby de reproduzir batalhas em miniatura, mas é um pai de família, mesmo com os pés fincados na vida adulta, ele recebe Fúsi em sua casa como um amiguinho da vizinhança que o chama par brincar.

Ao longo dos 91 minutos, vamos acompanhando a trajetória do personagem, e a piedade que sentimos nos primeiros trinta minutos vai dando lugar ao questionamento conceitos como “precisamos mesmo corresponder a expectativas alheias?” “o que é exatamente ser estranho?” O mérito do diretor Dagur Kári (de O Bom Coração), que também assina o roteiro, é inegável na transposição plástica da narrativa, mas o resultado talvez não seria o mesmo sem a minimalista interpretação do gigante Gunna Jósson que vai cativando o espectador em um crescendo, a ponto de no terço final, já estarmos torcendo incondicionalmente por ele.

“Desajustados”, a princípio pode ser visto como uma versão amarga de “O Virgem de 40 Anos”, mas também não deixa de ser um filme de superação, a exemplo “Rocky, Um Lutador”, mas no caso do filme estrelado por Sylvester Stallone, o ringue funcionava como metáfora do cruel jogo da vida, que aqui é apresentado sem camuflagens.

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